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Análise
Brasil vai ter de engolir líder eleito pelo Partido Colorado
ELIANE CANTANHÊDE COLUNISTA DA FOLHASe foi uma das primeiras chefes de Estado a ligar para cumprimentar o presidente Nicolás Maduro, açodadamente, antes mesmo da decisão de recontar os votos na Venezuela, a brasileira Dilma Rousseff não foi tão rápida assim ao saudar a vitória do presidente eleito no Paraguai, Horacio Cartes.
Os parceiros originais de Mercosul, Argentina e Uruguai, já tinham telefonado e feito gestos de acolhimento, mas Dilma e a diplomacia brasileira mantinham um silêncio constrangedor na manhã de ontem, alegando que, quando finalmente ligaram, Cartes não podia atender.
Quando a conversa ocorreu, já no início da tarde, muitas horas depois do resultado, das manchetes on-line e dos telefonemas de Cristina Kirchner e de José Mujica, durou cerca de cinco minutos. Uma formalidade, bem diferente do caloroso cumprimento a Maduro. E não por acaso.
Agora, porém, Horacio Cartes foi legitimado pelas urnas e as urnas foram legitimadas por observadores internacionais.
Dizem os pessimistas que "tudo o que é bom dura pouco". A derrocada do Partido Colorado no Paraguai, comemorada mundo afora, especialmente no Brasil, durou muito pouco, foi apenas um hiato.
O partido ficou 60 anos no poder, desde 1948, e teve tempo suficiente para controlar tudo e todos no país vizinho. A vitória do ex-bispo católico Fernando Lugo, um outsider da política cheio de ideias humanistas e renovadoras, foi um sonho de verão.
Eleito em 2008, Lugo não construiu condições de governabilidade e desabou em 2012, sob o peso de uma aliança do Partido Colorado com o Partido Liberal, até aí inimigos históricos, para manter tudo como sempre esteve.
O Brasil fechou as portas para o governo de transição de Federico Franco, mas vai ter de engolir o governo e abrir as portas do Mercosul e da Unasul para o Paraguai de Cartes, um dos homens mais ricos do país e suspeito de contrabando, lavagem de dinheiro, evasão de divisas...
Do ponto de vista bilateral, pouco importa. Qualquer que seja o presidente do Paraguai, vai sempre estimular o discurso do "imperialismo" contra o Brasil e sempre pressionar por mais vantagens e preços mais altos para a energia excedente de Itaipu.
Aliás, o que mais arrancou vantagens foi justamente o companheiro Fernando Lugo, o breve.