Economia não vai melhorar logo, diz escritor
Cubano Ahmel Echevarría não teme mudanças, mas expectativas exageradas da população
O Halloween e o happy hour já chegaram à Cuba socialista, então que mal podem fazer Walmart e McDonald's?
Isso é o que se pergunta o cubano Ahmel Echevarría, 40, um dos expoentes da nova geração de escritores da ilha e editor do Centro de Formação Literária Onelio Jorge Cardoso, em Havana.
Para ele, o grande problema agora são as expectativas exageradas em relação aos efeitos positivos da aproximação com os EUA sobre a economia. "A política aqui sempre foi assim: dois passos para frente, um para trás", diz.
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FOLHA - O que o sr. acha que vai mudar no curto prazo?
Ahmel Echevarría - Falar sobre curto prazo em Cuba é muito complicado. A política aqui sempre foi assim: dois passos para frente, um para trás. Agora, uma série de coisas se tornaram obsoletas. O inimigo de Cuba quem é? Estados Unidos. Mas uma vez que se restabelecem as relações, como vamos tratar esse amigo-inimigo? O governo cubano precisa de outra batalha como divisa política. É difícil prever efeitos.
Os benefícios da abertura chegarão à população mais pobre?
Estão implementando mudanças em Cuba, mas as melhorias ainda não chegaram para quem está da metade para baixo da escala salarial. Todos que ganham em moeda nacional, os CUP [e não os CUC, o peso conversível] estão sofrendo muito. Existe uma cota de produtos da cesta básica vendidos em pesos cubanos, mas não são suficientes.
Qual é o principal problema de um cubano hoje?
Econômico. A maioria das pessoas está tentando resolver problemas fundamentais, como moradia e alimentação. As pessoas querem ir para os EUA não porque odeiam Fidel, mas porque querem ter uma vida mais cômoda, ainda que precisem ter dois ou três empregos.
O sr. acredita em melhorias econômicas em breve?
Vejo as pessoas muito contentes nas ruas, gostaria que houvesse medidas que nos ajudassem a levar uma vida mais cômoda, mas isso não vai acontecer tão logo.
Os cubanos acreditam que essa aproximação significa que vão facilitar o visto, mas duvido. Suspeito que isso não venha de graça dos EUA. Eles dizem querer o empoderamento da população cubana, para levar à democracia. Parece que reconheceram que é mais fácil fazer assim do que à força, com uma invasão.
Tem gente com ódio dos EUA?
Sim, a geração dos nossos pais, que sempre viram os EUA como o inimigo, pensam que não se pode negociar com essa gente. Mas os mais jovens têm visão diferente. A visão que eles têm de Fidel é só por fotos no "Granma".
O sr. tem medo das mudanças que podem acontecer?
O que poderia mudar? Aparecer aqui o Walmart, o McDonald's? Isso estabeleceria um modo de vida que não é o cubano, mas já está acontecendo. Agora temos Halloween em Cuba. Vamos trazer o modo de vida capitalista para a Cuba socialista. Quão negativo será para o cubano? É um perigo, mas faz parte.