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Bazar em crise

Desvalorização vertiginosa da moeda iraniana trava negócios e irrita a população

Vahid Salemi - 7.out.2012/Associated Press
Iraniana caminha pelo bazar antigo na capital, Teerã
Iraniana caminha pelo bazar antigo na capital, Teerã

SAMY ADGHIRNI
DE TEERÃ

A dona de casa Parvin Namin, 60, passou anos economizando o dinheiro da família para investir num apartamento ou num pequeno comércio. Mas o projeto foi enterrado na semana passada, quando a desvalorização vertiginosa da moeda iraniana reduziu pela metade o valor do patrimônio acumulado.

Namin é vítima de um terremoto cambial que afeta a vida da maior parte da população e agrava a crise gerada por um misto de sanções ocidentais e gestão controversa dos recursos do petróleo.

A cotação do rial, moeda nacional, despencou cerca de 40% em relação ao dólar depois que o governo criou um centro nacional de câmbio para tentar controlar a circulação de divisas. Em vez de estabilizar um rial já em queda havia anos, a medida foi vista pelos mercados como prova da escassez das reservas estrangeiras.

Se US$ 1 valia cerca de 22 mil riais há duas semanas, a cotação superou 40 mil riais durante algumas horas na segunda-feira, 1º de outubro, antes de fechar em 37,5 mil riais. O governo suspendeu as operações de câmbio e pediu à população que parasse de correr atrás de dólares.

Comerciantes e doleiros protestaram em Teerã contra o presidente Mahmoud Ahmadinejad. Os influentes lojistas do mercado central da capital fecharam as portas por não conseguir fixar preços dos produtos à venda.

Em meio ao acirramento das rixas que racham o regime antes da eleição presidencial de junho, o governo impôs uma cotação padrão de 28,5 mil riais, ignorada pelos cambistas clandestinos onipresentes em Teerã.

O comércio voltou a funcionar normalmente, mas a crise cambial domina conversas entre iranianos.

O taxista Ehsan Asghar, 49, diz que o preço de algumas peças de motor dobrou, mas afirma não poder transferir esse custo para os passageiros. "Se eu cobrar mais, ninguém vai andar comigo", afirma Asghar, que culpa o Ocidente pela situação.

Já Shahin Shahrokh, 33, funcionário de uma empresa de logística, responsabiliza o governo, como boa parte dos iranianos ouvidos pela Folha, pela desvalorização que o obrigou a cancelar férias no exterior com a mulher. "Juntei o dinheiro certinho, mas de repente esse dinheiro ficou insuficiente."

A guia de turismo Shahrzad Amiri, 41, planeja mandar de volta para casa o filho que estuda no Reino Unido.

É comum ver iranianos dizerem que a crise deixa um rastro de mau humor e irritação. "Está todo mundo sob pressão, e as pessoas andam brigando por qualquer coisinha", diz a estudante Mahsa Mohammadi, 23.

CONTRATOS

Empresários estão entre os mais afetados. Afshin Azadi, 49, teve que cancelar vários contratos nos últimos dias porque valores previamente acertados perderam sentido.

"Assino um papel, e no dia seguinte acordo e o papel perdeu metade do valor."

Mas Azadi, ecoando um sentimento generalizado, é cético em relação a eventuais protestos antigoverno em larga escala. "Não devemos repetir os erros que cometemos há três décadas", diz, em referência às manifestações que culminaram com a Revolução Islâmica de 1979.

Nami, a dona de casa, diz estar disposta a se manifestar. "Mas primeiro é preciso definir como agir e o que queremos."

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