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CRISE EM CUBA
Em entrevista a jornalistas argentinos, ditador cubano justifica repressão e acusa "alguns nos EUA" de quererem causar um conflito
"Fomos obrigados", diz Fidel sobre execuções
DO "CLARÍN"
Criticado internacionalmente
pela execução, no dia 11 de abril,
de três homens acusados de sequestrar, uma semana antes, um
barco de passageiros com o qual
pretendiam fugir de Cuba para os
EUA, o ditador Fidel Castro diz
que elas foram legais, mas reconhece que trouxeram "um custo".
"Fomos obrigados a tomar medidas. Medidas legais, por meio
de julgamentos, não de execuções
extrajudiciais", afirmou Fidel em
entrevista concedida na semana
passada, em Buenos Aires, aos
jornalistas Ricardo Kirchbaum,
Oscar Raúl Cardoso, Eduardo
Van Der Kooy e Julio Blank, do
diário argentino "Clarín".
O ditador acusa os EUA de incitarem ações como aquela. "Há
pessoas ali que querem provocar
um conflito entre EUA e Cuba e
querem que o problema de Cuba
se resolva da mesma forma que o
que aconteceu em Bagdá", disse.
Pergunta - Como a descrição que
o sr. faz da Revolução Cubana condiz com a recente execução de dissidentes em Cuba, que teve repercussão tão grande?
Fidel Castro - Fomos obrigados a
tomar medidas. Medidas que
eram legais, tomadas por meio de
julgamentos, não de execuções
extrajudiciais. E o fizemos com
muita dor. Estamos cientes do
custo, mas foi preciso escolher entre uma manobra que estão fazendo para criar um conflito, porque
há pessoas ali -algumas mais do
que outras- que querem provocar um conflito entre EUA e Cuba
e querem que o problema de Cuba se resolva da mesma forma que
o que aconteceu em Bagdá -que
dezenas de milhares de bombas
caiam de aviões em cima de Cuba.
[Nesse momento, o chanceler
cubano, Felipe Pérez Roque, que
está na sala, alerta Fidel: "Ele disse
"execução de dissidentes'".]
Ah, caramba, não me dei conta.
Obrigado, Felipe. Essa é uma das
coisas infelizes. São duas coisas
totalmente diferentes. Os que assaltaram barcos e aviões não têm
absolutamente nada a ver com o
problema dos chamados "dissidentes" -e deixo essa palavra entre aspas.
Outro elemento: a provocação
foi planejada. Nomearam como
vice-secretário para a América
Latina um senhor que é um
gângster total, Roger Noriega. Ele
é um dos muitos sócios da máfia
cubano-americana, extremistas,
que, ademais, para o azar de todo
o mundo, incluindo vocês, foram
produtos de uma fraude eleitoral.
Não posso explicar como nos
EUA se pode falar de democracia
-o mundo todo sabe exatamente os votos que foram roubados, o
truque de mudar de ordem, os negros que não votaram simplesmente porque não os deixaram ir
à escola, sabe que roubaram dezenas de milhares de votos dos democratas, embora a disputa estivesse bem apertada.
Pergunta - Os EUA não podem se
envolver nos assuntos internos de
outro país, mas Cuba pode?
Fidel - Ah, mas existe uma diferença. Isso [as críticas] não é sobre um país, mas sobre um governo. Tenho muito respeito pelo povo norte-americano. Um respeito
sincero. E estou disposto a responder ao que vocês quiserem sobre esse assunto das execuções.
Nesse assunto misturou-se o problema dos chamados dissidentes
com o fato estranho, muito estranho, de que, em dez anos, não havia ocorrido um único sequestro
de barcos ou aviões com reféns,
com a faca na garganta deles, como aquele que fizeram com os
aviões lançados contra as torres
gêmeas em Nova York ou contra
o Pentágono.
Realmente foi preciso tomar a
decisão. Um país com uma belicosidade tremenda, como os
EUA, enviou um representante
[James Cason, chefe da seção de
interesses americanos em Havana] com a missão específica de
provocar incidentes ou para que o
expulsassem para desbaratar um
movimento contra o embargo e
contra a proibição de viagens,
movimento cada vez mais forte
nos EUA.
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