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Estilo Heinz desafia o ideal do eleitorado
JOYCE PURNICK
DO ""NEW YORK TIMES"
Durante o discurso de Teresa
Heinz Kerry na Convenção Nacional Democrata, a câmera captou algumas expressões de desagrado no rosto de Hillary Rodham Clinton. A senadora também sorriu e aplaudiu, mas os
sorrisos logo desapareceram, e ela
ficou com expressão de quem estava quase passando mal.
Talvez Hillary estivesse cansada
ou distraída. Ou, quem sabe, ao
ouvir a mulher do senador John
Kerry reivindicar sua independência, seu direito de falar o que
pensa e de ter voz própria, seus
pensamentos tenham voltado para a época em que ela própria
aprendeu a etiqueta da mulher de
político -do modo mais difícil.
Não que Hillary tenha sido a esposa típica de candidato presidencial. Imaginava ser co-presidente, optou por abrir mão de seu
trabalho de advocacia para fazer
parte da carreira do marido e tentou reformar o sistema de saúde
praticamente por decreto.
Os objetivos de Heinz são igualmente intimidantes. Ela quer conservar sua identidade própria e
sua imagem pública excêntrica e o
direito de mandar um jornalista
""enfiar" quando indagada sobre
sua referência ambígua a ""aspectos não-americanos" na política.
Mulher rica e altamente instruída que assumiu a direção de uma
das maiores organizações filantrópicas do país após a morte do
marido, em 1991, ela não tem paciência para fingir ser uma mulher dócil e obediente. Será que
suas farpas e sua irreverência vão
casar com um eleitorado que admira a modesta Laura Bush?
É pouco provável. Apenas Eleanor Roosevelt rompeu com esse
modelo. Jackie Kennedy era admirada por seu estilo e elegância.
Nancy Reagan, poderosa no âmbito interno, era famosa pelos
olhares de adoração que dirigia ao
marido na esfera externa.
"O papel da mulher é dar apoio
ao marido", disse Barbara Bush
quando o marido foi nomeado vice ao lado de Ronald Reagan, em
1980. "Não concordo com meu
marido sobre tudo, mas não vou
dizer isso a você. Vou dizer a
George Bush. Dentro de casa."
"O ideal cultural das mulheres
nos EUA não se modificou", disse
Marie Wilson, diretora do Projeto
Casa Branca. ""O ideal cultural é a
mulher que é esposa e mãe, e de
ninguém se pede que viva esse
ideal mais em sua própria carne
do que da primeira-dama. Por isso Hillary foi tão criticada."
Hoje Hillary Clinton é louvada
em seu partido. Mas, para chegar
a isso, precisou ser humilhada pelo marido infiel. Ganhou aceitação no papel da vítima que, em última instância, permaneceu do lado de seu homem.
É um jogo chamado política, e
Heinz já indicou que, na realidade, não quer jogar o jogo. Mesmo
na convenção democrata, ela passou apenas metade de seu discurso falando do marido, o candidato. O resto do tempo, falou do papel das mulheres, do ambiente, de
outras questões políticas e do redator dos discursos.
Heinz tem seus fãs. Mas seu estilo não parece destinado à aceitação ampla, e não há nenhum indício de que ela pretenda mudá-lo.
""Seria como tentar enfiar o gênio
de volta na lâmpada", disse Sheila
Gibbons, editora do "Media Report to Women". "É uma mulher
de 65 anos, inteiramente madura,
com intelecto desenvolvido e um
senso muito claro de sua própria
pessoa."
Gibbons prevê que, um dia, o
público vai aceitar uma primeira-dama plenamente independente.
Enquanto isso, o que pode acontecer? A impressão é que a disputa
presidencial será muito apertada,
de modo que, em tese, qualquer
coisa poderia fazer diferença. Mas
Teresa Heinz Kerry não é candidata. Seu nome não estará nas cédulas de voto nem o de Laura
Bush. Vale imaginar se o público
vai dar-se conta disso.
Tradução de Clara Allain
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