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Deputado basco defende "direito à resistência"
DO ENVIADO A BAYONNE
Proibido na Espanha como partido político, o Batasuna permanece legal na França como associação. Em Bayonne, cidade da região basca francesa, fica o escritório do único deputado do partido
no Parlamento Europeu, Koldo
Gorostiaga, 62.
A Justiça espanhola vai pedir ao
governo francês que feche o local.
Há chances de que isso ocorra,
desde que a França considere que
a demanda tenha fundamento.
Gorostiaga nega que o Batasuna
tenha transferido sua direção para Bayonne. "Aqui é uma instituição que representa o Parlamento
Europeu no País Basco", disse à
Folha. Leia trechos da entrevista.
Folha - O Batasuna mudou-se para este escritório?
Koldo Gorostiaga - Não. Esta sala
é alugada com fundos do Parlamento Europeu, que sabe perfeitamente de sua existência. É uma
instituição que representa esse
Parlamento no País Basco.
Folha - E onde está funcionando a
direção de Batasuna?
Gorostiaga - No meio do povo.
Somos por definição um movimento não-convencional, uma
força política com uma massa popular inquestionável que se caracteriza por desafiar uma determinada ordem política que os nega.
Folha - Quais as relações de fato
entre Batasuna e ETA?
Gorostiaga - As relações que nós
temos ou tivemos com o ETA são
semelhantes às que tiveram os demais partidos políticos e sindicatos. Se o Partido Socialista teve relações com o ETA, se o governo
em 1998 mandou uma delegação
dialogar com representantes do
ETA, se os sindicatos afirmam
que tiveram também, porque não
podemos dizer que dentro de
nosso partido há gente que teve
contato com o ETA?
Folha - Por que o Batasuna nunca
condena atentados do ETA?
Gorostiaga - Todos os atentados
realizados pelo ETA tiveram uma
resposta política do Batasuna.
Nunca houve silêncio. Nós apenas não dizemos o mesmo que os
espanhóis, evidentemente.
Folha - Então o sr. condena o
atentado de Santa Pola [que matou
uma menina de seis anos e um homem de 50 no dia 4 de agosto, na
costa sudeste da Espanha"?
Gorostiaga - Nós não condenamos as decisões do ETA unilateralmente. Consideramos que isso
seja resultado de uma ação política buscada pelo governo que fecha as vias políticas. Essa condenação iria agravar qualitativamente o processo. Nós nunca faremos nada que possa agravar esse problema. Faremos tudo para
buscar uma solução política.
Folha - Não se pode deduzir disso
que o Batasuna apóia o uso da violência?
Gorostiaga - Não apoiamos a luta armada e não condenamos a
luta armada, precisamente porque entendemos que seja resultado da ineficácia das vias políticas.
Na declaração de direitos formulada em 1789 na França, está definido o direito de resistência à
opressão. Se entendemos que há
uma opressão, temos de aceitar
que há um direito à resistência.
Mas, apesar do que fizeram agora
e o que vão continuar fazendo nos
próximos meses, defendemos que
a única via eficaz é a política.
Folha - A morte de uma menina é
resistência à opressão?
Gorostiaga - Não é. Foi um resultado que ninguém queria. Mas
nós, do Batasuna, manifestamos
nossa dor com esse resultado,
bem como nossa solidariedade
para com essa família.
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