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"Somos eleitos, mas sem direitos políticos"
DO ENVIADO A SAN SEBASTIÁN
O deputado Joseba Alvares Forcada, um dos representantes do
Batasuna no Parlamento regional
basco, considera que possa ser
preso em breve. "No Batasuna, já
assumimos que isso vai ocorrer.
Já aconteceu antes. Tiram a imunidade parlamentar e prendem."
Nos últimos dias, ele e os demais políticos do Batasuna foram
proibidos de falar em nome do
partido, de se reunir e de convocar manifestações. A decisão do
governo espanhol aboliu o Batasuna, mas preservou o mandato
dos eleitos. Eles não poderão,
contudo, apresentar novas candidaturas, nem mesmo em outras
organizações.
"É uma situação absurda. Somos eleitos, mas sem direitos políticos. Em um ano vamos perder
860 eleitos, e em dois anos os 14
parlamentares. A nossa ilegalidade é um problema de toda a sociedade basca. Como vai funcionar
um país onde 15% da população,
que é a nossa média de eleitores,
não pode votar em seus candidatos?", pergunta.
Forcada, 43, linguista, tem uma
longa história no independentismo basco. Seu pai foi um dos fundadores do ETA, em 1959. Nos
anos 60, deixou a organização terrorista. "Hoje, meu pai pensa que
o ETA já cumpriu seu ciclo histórico e é preciso ultrapassar a posição violenta. Mas ele ainda continua independentista e socialista."
E o que pensa o deputado? "É
preciso procurar as condições políticas para superar as expressões
violentas no País Basco. Mas [o
premiê espanhol, José María" Aznar não quer criar um cenário que
supere a violência. Sua luta para
colocar o Batasuna na ilegalidade
é um modo de ele parar o processo de soberania", responde, em
francês perfeito.
"Você sabe por que os bascos e
os portugueses são bons marinheiros?", pergunta o professor
de filosofia política Fito Rodriguez. "Porque, por terra, temos os
espanhóis atrás de nós."
Como Forcada, Rodriguez é um
homem culto, cuja inteligência está toda concentrada em refletir
sobre a questão basca e as formas
de luta pela soberania. Os dois já
foram presos políticos. Rodriguez
conta que foi torturado. "No País
Basco é raro uma família não ter
um membro que foi preso ou torturado. A tortura é uma prática
espanhola desde a Inquisição",
afirma.
Rodriguez levou o repórter da
Folha a bares que servem de ponto de encontro para militantes do
Batasuna, na Cidade Velha, a parte mais antiga de San Sebastián.
Na noite de quinta-feira, havia o
receio de que alguns locais fossem
fechados. No dia seguinte, um
restaurante foi lacrado.
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