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Viúva de policial cria associação de vítimas do ETA
DO ENVIADO A SAN SEBASTIÁN
Em 1994, Alfonso Morcillo, 40, chefe de polícia de
San Sebastián, foi assassinado pelo ETA com um tiro na
cabeça. Faltavam oito dias
para o Natal. Sua mulher,
Cati Moreno, tinha 32 anos.
Não era basca. "Vim para
San Sebastián por causa dele. Decidi ficar em sua memória", diz ela, que nasceu
na região de Extremadura
(sudoeste da Espanha).
O ETA justificou o atentado como uma resposta à
morte de várias pessoas pela
Guarda Civil. Para Moreno,
seu marido foi assassinado
por não tolerar informantes
do ETA na polícia.
Em 1998, ela participou da
criação do Coletivo de Vítimas do ETA (Colvite), em
San Sebastián, da qual é secretária. A associação oferece apoio e reivindica justiça.
"No início foi difícil manter o Colvite. As vítimas tinham medo. Há sempre a
preocupação de que, se alguém da família foi morto, é
porque teria feito algo", diz.
Hoje, a associação conta
com 450 pessoas que foram
vítimas, direta ou indiretamente, do ETA e de outras
organizações terroristas.
"O medo é constante.
Nunca sabemos com quem
estamos falando", diz Moreno. Ela se recusou a passar
um fax para o hotel onde se
hospedava o repórter da Folha por temer que pudesse
parar em mãos indevidas.
Moreno aprova a cassação
do Batasuna, pois acredita
que o partido tenha relações
com o ETA. "Prefiro que estejam fora da lei. Falavam
que haveria tumulto social.
Até agora não houve nada.
Vimos situações muito mais
tensas no passado."
Para o balconista J.M., de
um café no centro da cidade,
o Batasuna e o ETA não são a
mesma coisa, mas estão implicados um com o outro.
"Ninguém nunca teve dúvida disso. O ETA foi importante no passado, na luta
contra o franquismo e para o
processo de autonomia dos
bascos. Agora, esperava-se
que eles entrassem em diálogo, como aconteceu com o
Sinn Fein, na Irlanda."
Ele compara o ETA a uma
teia de aranha. "Ele está por
toda parte no País Basco.
Seus tentáculos agem na política, na universidade, no
comércio e na imprensa."
J.M. aponta para a porta.
No final da rua, avista-se a
orla marítima de San Sebastián. "Aqui é como o Rio de
Janeiro, mas em tamanho
menor. Se não fosse o terrorismo, seria o paraíso." San
Sebastián é uma cidade elegante, de arquitetura extraordinária. É um dos principais centros urbanos do
País Basco, hoje uma região
muito próspera da Europa.
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