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ESPANHA
Colocado na ilegalidade sob acusação de cumplicidade com os terroristas, o Batasuna diz que vai "continuar na via política"
Partido do ETA descarta radicalização
ALCINO LEITE NETO
ENVIADO A SAN SEBASTIÁN (ESPANHA)
E BAYONNE (FRANÇA)
Deputados do Batasuna, partido independentista do País Basco
que foi colocado na ilegalidade na
última semana pelo governo da
Espanha, afirmam que não há riscos de radicalização do processo
político na região. "O governo espanhol quer que entremos na
clandestinidade, que radicalizemos. Mas vamos continuar na via
política", disse à Folha o deputado Joseba Alvares Forcada, em
San Sebastián (Espanha).
O único deputado do Batasuna
no Parlamento Europeu, Koldo
Gorostiaga, defende a mesma saída. "Apesar de não termos existência legal, teremos de demonstrar que a via política é a única que
pode nos ajudar", disse ele em seu
escritório em Bayonne, na região
basca francesa, a 45 minutos de
carro de San Sebastián.
O Batasuna, organização de esquerda, teve suas atividades suspensas e proibidas pela Justiça espanhola sob a acusação de cumplicidade e identidade com o movimento terrorista ETA.
Em menos de uma semana, esse
partido de 23 anos e atualmente
com cerca de 250 mil eleitores,
deixou de existir. A suspensão de
todas as atividades públicas do
Batasuna (unidade, em basco) foi
decretada pela Justiça na última
segunda-feira. No mesmo dia,
88% dos parlamentares do Congresso espanhol votaram a favor
de uma moção que pedia a interdição do partido. Na terça-feira,
todas as sedes do Batasuna foram
fechadas à força pela polícia do
governo regional basco. Anteontem, o primeiro-ministro José
Maria Aznar (centro-direita)
aprovou a moção dos parlamentares.
Até agora, poucas manifestações de militantes ou simpatizantes foram realizadas contra a decisão. Nas ruas de San Sebastián,
uma das principais cidades da região, há raros sinais de intranquilidade.
A interdição, porém, aumentou
a tensão política em Euskadi (como é chamado o País Basco espanhol), região que dispõe de um
governo autônomo, mas não independente, com sede em Vitória.
Manifestações estão sendo planejadas no próximo dia 7 em várias
cidades bascas.
O presidente do governo regional basco, Juan José Ibarretxe, do
moderado Partido Nacionalista
Basco (PNB), rival político do Batasuna, afirmou que "a paz [na região basca" está infelizmente mais
distante hoje". Para ele, a interdição do partido "renova o fôlego
ao ETA", que estava "refluindo
politicamente, afetado por uma
doença mortal", pois não teria
mais o apoio dos bascos.
"Estou absolutamente convencido de que, se a sociedade basca
deve proibir o Batasuna, isso precisa ser feito nas urnas", disse
Ibarretxe numa entrevista coletiva anteontem, em San Sebastián.
Segundo o porta-voz do governo regional, Josu Jon Imaz, a decisão do governo espanhol leva "ao
fortalecimento dos setores radicais" da política basca e cria uma
"fratura no clima de entendimento".
O Batasuna é reconhecido pela
população basca como um braço
político do ETA (Euskadi Ta Azkatasuna, ou País Basco e Liberdade), criado em 1959. Mas o partido nega que participe das decisões do grupo terrorista e que um
e outro sejam uma só coisa, como
deduz um relatório do juiz Baltasar Garzón, com minuciosos dados que associam as duas organizações e serviu de base à interdição. Segundo Garzón, o ETA teria
matado 836 pessoas desde 1968.
"Cerca de mil elementos provam de maneira clara que o Batasuna é a prolongação do terrorismo na política", afirmou anteontem o ministro espanhol da Justiça, José Maria Michavila.
Para representantes do Batasuna, os argumentos reunidos por
Garzón são infundados, e a interdição do partido visa sobretudo a
minar a democracia no País Basco
e a colocar em xeque a autonomia
política da região. "A suspensão
do Batasuna vai demonstrar que a
lei espanhola não dá garantias democráticas aos bascos", afirmou o
professor de filosofia política Fito
Rodriguez.
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