São Paulo, domingo, 01 de setembro de 2002

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25 anos depois

"É impossível esquecer, tenho medo até hoje"

DA REDAÇÃO

Contatado por telefone pela Folha num local remoto da região serrana de Córdoba, a primeira reação de Guillermo Torres Castaños foi de desconfiança. Ele não falava sobre o sequestro no Rio de Janeiro havia mais de 20 anos. Nem suspeitava de que sua história estivesse registrada na correspondência diplomática dos EUA.
"Sinto hoje muita insegurança. Não me machucaram tanto na tortura. Os danos foram mais psicológicos", explicou Castaños, que, antes de aceitar dar a entrevista, pediu informações sobre o repórter e algum tempo para checá-las.
Ele tem 46 anos. É dono de pousadas em Mina Clavero, na Província argentina de Córdoba. Leva uma vida tranquila, mas carrega as marcas do passado.
"A verdade é que é impossível esquecer. É algo que você carrega para sempre em sua vida. Você segue permanentemente com medo de todo esse tipo de coisas", afirmou. "Não sei se reconheceria os torturadores, mas também não voltei mais ao Rio. Tenho medo de encontrá-los enquanto caminho na rua aqui na Argentina. Afinal, essa gente está solta."
Após deixar o Brasil, Castaños e sua mulher viveram por nove anos na Suécia. Voltaram à Argentina durante o governo de Raúl Alfonsín (1983-89), após a redemocratização do país.
Desde então, não procurou processar seus sequestradores -nem os argentinos nem os brasileiros. "Não tentei processar ninguém. Não tinha nenhuma prova contra os militares. Passou tanto tempo também que não sei se agora eu os reconheceria."
Além da falta de provas, ele dificilmente conseguiria a condenação dos torturadores, já que o governo argentino aprovou, nos anos 80, duas leis de anistia que protegem policiais e militares envolvidos na chamada "guerra suja". Essas leis vêm sendo atualmente contestadas na Justiça da Argentina. Mas, apesar do trauma, Castaños não parece disposto a reabrir as feridas do passado.



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