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25 anos depois
"É impossível esquecer, tenho medo até hoje"
DA REDAÇÃO
Contatado por telefone pela Folha num local remoto da região
serrana de Córdoba, a primeira
reação de Guillermo Torres Castaños foi de desconfiança. Ele não
falava sobre o sequestro no Rio de
Janeiro havia mais de 20 anos.
Nem suspeitava de que sua história estivesse registrada na correspondência diplomática dos EUA.
"Sinto hoje muita insegurança.
Não me machucaram tanto na
tortura. Os danos foram mais psicológicos", explicou Castaños,
que, antes de aceitar dar a entrevista, pediu informações sobre o
repórter e algum tempo para checá-las.
Ele tem 46 anos. É dono de pousadas em Mina Clavero, na Província argentina de Córdoba. Leva uma vida tranquila, mas carrega as marcas do passado.
"A verdade é que é impossível
esquecer. É algo que você carrega
para sempre em sua vida. Você
segue permanentemente com
medo de todo esse tipo de coisas",
afirmou. "Não sei se reconheceria
os torturadores, mas também não
voltei mais ao Rio. Tenho medo
de encontrá-los enquanto caminho na rua aqui na Argentina.
Afinal, essa gente está solta."
Após deixar o Brasil, Castaños e
sua mulher viveram por nove
anos na Suécia. Voltaram à Argentina durante o governo de
Raúl Alfonsín (1983-89), após a
redemocratização do país.
Desde então, não procurou processar seus sequestradores
-nem os argentinos nem os brasileiros. "Não tentei processar
ninguém. Não tinha nenhuma
prova contra os militares. Passou
tanto tempo também que não sei
se agora eu os reconheceria."
Além da falta de provas, ele dificilmente conseguiria a condenação dos torturadores, já que o governo argentino aprovou, nos
anos 80, duas leis de anistia que
protegem policiais e militares envolvidos na chamada "guerra suja". Essas leis vêm sendo atualmente contestadas na Justiça da
Argentina. Mas, apesar do trauma, Castaños não parece disposto
a reabrir as feridas do passado.
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