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SUCESSÃO NOS EUA/ RUMO À DIREITA
Ala conservadora seqüestra plano de governo de McCain
Programa do Partido Republicano é mais duro que o de seu candidato presidencial
Documento aprovado pelo comitê da cúpula partidária condena casamento gay, pesquisa em células-tronco e é severo sobre imigração
DO ENVIADO ESPECIAL A ST. PAUL
A paralisação da Convenção
Republicana por causa do furacão Gustav acabou encobrindo
um pouco a repercussão do
programa do Partido Republicano, finalizado na semana passada com uma forte guinada
para o lado conservador.
Embora em alguns trechos
exista alguma coincidência
com as idéias de John McCain,
em outros o documento aprovado pelo comitê de 112 integrantes da cúpula partidária é
bem mais à direita do candidato. Por exemplo, sobre imigração, os republicanos são contra
conceder uma anistia para trabalhadores que já estejam há
muito tempo nos EUA ou que
tenham parentes no país.
McCain tem emitido sinais
de que consideraria razoável algum tipo de tratamento mais
flexível em relação aos imigrantes ilegais, estimados em
cerca de 12 milhões. A imensa
maioria é de origem hispânica,
um dos grupos étnicos que
mais cresce no eleitorado.
Os caciques republicanos parecem insensíveis ao fato de
que muitos eleitores hispânicos em situação legal se relacionam com outros ainda sem documentos para trabalhar de
acordo com a lei.
Os programas dos partidos
nos EUA têm significado muito
relativo, mais ou menos como
no Brasil. Os eleitos não têm
obrigação legal de seguir o que
está ali escrito, mas trata-se de
uma espécie de marca partidária com o objetivo de unificar os
discursos da sigla. O texto deverá ser aprovado na convenção
em St. Paul se os trabalhos forem retomados, o que não se
sabe se vai ocorrer.
Outros temas em que o programa republicano não está em
linha com McCain são pesquisas em células-tronco, mudança climática e casamento entre
pessoas do mesmo sexo.
O programa republicano se
opõe claramente a pesquisas
médicas com células-tronco
embrionárias. McCain apóia
esse tipo de estudo e já deu indicação de que gostaria de suspender o veto de George W.
Bush a fundos federais nesse tipo de investigação científica.
Casamento gay e clima
O texto republicano também
dá apoio a uma eventual emenda constitucional que proteja e
descreva o "casamento como a
união entre um homem e uma
mulher". A idéia é produzir amparo legal para juízes se recusarem a aceitar casamentos entre
pessoas do mesmo sexo.
McCain não se declara a favor de casamentos gays, mas
também não se opõe à união civil entre pessoas do mesmo sexo. Para ele, esse tema deve ser
regulado pelos Estados.
Na área ambiental, McCain
pôs em seu programa de governo o compromisso de reduzir
nos EUA as emissões de gases
que produzem o efeito estufa.
Já no programa do partido,
há repetição de documentos
anteriores, que pedem cautela
ante cenários catastrofistas alimentados por "aficionados do
governo centralizador".
O texto diz que tecnologia e
mercados serão essenciais para
reduzir a emissão de gases sem
prejudicar a economia.
Entre os itens coincidentes
entre McCain e a cúpula republicana está a retomada pelos
EUA da exploração de petróleo
no mar, banida no país há décadas pelo temor de danos ao ambiente. A única exceção que
ambos fazem é manter a proibição em uma área de preservação no Alasca -a vice de
McCain, Sarah Palin, governadora do Estado, se opõe ao veto.
Também há acordo em algumas áreas econômicas, como a
crise no setor imobiliário. O
texto sugere apoio para as vítimas, mas sem encorajar as pessoas a tomar empréstimos
além do que possam pagar.
Livre comércio, uma marca
republicana, também está na
plataforma do partido como
meio de aumentar a oferta de
trabalho e o valor dos salários
-algo também defendido por
McCain.
(FERNANDO RODRIGUES)
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