São Paulo, segunda-feira, 01 de setembro de 2008

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SUCESSÃO NOS EUA/ RUMO À DIREITA

Ala conservadora seqüestra plano de governo de McCain

Programa do Partido Republicano é mais duro que o de seu candidato presidencial

Documento aprovado pelo comitê da cúpula partidária condena casamento gay, pesquisa em células-tronco e é severo sobre imigração

DO ENVIADO ESPECIAL A ST. PAUL

A paralisação da Convenção Republicana por causa do furacão Gustav acabou encobrindo um pouco a repercussão do programa do Partido Republicano, finalizado na semana passada com uma forte guinada para o lado conservador.
Embora em alguns trechos exista alguma coincidência com as idéias de John McCain, em outros o documento aprovado pelo comitê de 112 integrantes da cúpula partidária é bem mais à direita do candidato. Por exemplo, sobre imigração, os republicanos são contra conceder uma anistia para trabalhadores que já estejam há muito tempo nos EUA ou que tenham parentes no país.
McCain tem emitido sinais de que consideraria razoável algum tipo de tratamento mais flexível em relação aos imigrantes ilegais, estimados em cerca de 12 milhões. A imensa maioria é de origem hispânica, um dos grupos étnicos que mais cresce no eleitorado.
Os caciques republicanos parecem insensíveis ao fato de que muitos eleitores hispânicos em situação legal se relacionam com outros ainda sem documentos para trabalhar de acordo com a lei.
Os programas dos partidos nos EUA têm significado muito relativo, mais ou menos como no Brasil. Os eleitos não têm obrigação legal de seguir o que está ali escrito, mas trata-se de uma espécie de marca partidária com o objetivo de unificar os discursos da sigla. O texto deverá ser aprovado na convenção em St. Paul se os trabalhos forem retomados, o que não se sabe se vai ocorrer.
Outros temas em que o programa republicano não está em linha com McCain são pesquisas em células-tronco, mudança climática e casamento entre pessoas do mesmo sexo.
O programa republicano se opõe claramente a pesquisas médicas com células-tronco embrionárias. McCain apóia esse tipo de estudo e já deu indicação de que gostaria de suspender o veto de George W. Bush a fundos federais nesse tipo de investigação científica.

Casamento gay e clima
O texto republicano também dá apoio a uma eventual emenda constitucional que proteja e descreva o "casamento como a união entre um homem e uma mulher". A idéia é produzir amparo legal para juízes se recusarem a aceitar casamentos entre pessoas do mesmo sexo.
McCain não se declara a favor de casamentos gays, mas também não se opõe à união civil entre pessoas do mesmo sexo. Para ele, esse tema deve ser regulado pelos Estados.
Na área ambiental, McCain pôs em seu programa de governo o compromisso de reduzir nos EUA as emissões de gases que produzem o efeito estufa.
Já no programa do partido, há repetição de documentos anteriores, que pedem cautela ante cenários catastrofistas alimentados por "aficionados do governo centralizador".
O texto diz que tecnologia e mercados serão essenciais para reduzir a emissão de gases sem prejudicar a economia.
Entre os itens coincidentes entre McCain e a cúpula republicana está a retomada pelos EUA da exploração de petróleo no mar, banida no país há décadas pelo temor de danos ao ambiente. A única exceção que ambos fazem é manter a proibição em uma área de preservação no Alasca -a vice de McCain, Sarah Palin, governadora do Estado, se opõe ao veto.
Também há acordo em algumas áreas econômicas, como a crise no setor imobiliário. O texto sugere apoio para as vítimas, mas sem encorajar as pessoas a tomar empréstimos além do que possam pagar.
Livre comércio, uma marca republicana, também está na plataforma do partido como meio de aumentar a oferta de trabalho e o valor dos salários -algo também defendido por McCain. (FERNANDO RODRIGUES)


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