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Islã moderado deve desarmar a "bomba santa" dos extremistas
THOMAS L. FRIEDMAN
DO "THE NEW YORK TIMES"
A seguir, uma carta fictícia do
presidente dos EUA, George W.
Bush, para "líderes do mundo
muçulmano".
Excelentíssimos senhores.
Enquanto vocês estão no final
do Ramadã e nós chegamos à
época do Dia de Ação de Graças,
achei que seria um bom momento para compartilhar algumas
preocupações com vocês.
Permitam que eu seja direto e
franco. Cada vez mais, receio que
estejamos nos dirigindo para uma
guerra entre civilizações.
Como assim? Bem, vou citar
apenas alguns poucos fatos que
foram notícia nos últimos dias:
Imam Samudra, o islâmico indonésio acusado de ter sido o mentor do atentado do mês passado
em Bali, no qual morreram quase
200 turistas, teria dito, em sua
confissão, que a bomba que destruiu a discoteca era uma "bomba
sagrada" e que o alvo foi escolhido por ser um lugar repleto de estrangeiros -isto é, não muçulmanos.
Não há nada de sagrado numa
bomba que mata 200 pessoas pelo
simples fato de serem estrangeiras.
Depois, li sobre Bonnie Penner,
uma jovem missionária americana que era enfermeira numa clínica pré-natal em Sidon, no Líbano,
que dava atendimento a mulheres
palestinas e libanesas carentes.
Ela levou três tiros no rosto.
Um oficial de segurança palestino disse à agência de notícias Associated Press que "a morte foi resultado de uma reação muçulmana hostil em Sidon aos sermões ... que a clínica estava dando a jovens muçulmanas".
Vocês não sabem quanto os
grupos muçulmanos na América
pregam sua religião, tentando
converter pessoas? Muito. Isso
não é problema para nós. É assim
que somos. E vocês, como são?
Não faço idéia se a clínica em
que essa mulher trabalhava procurava converter muçulmanos ao
cristianismo ou não, mas sei que
ela era enfermeira, que cuidava de
muçulmanas e que foi morta por
ser quem era.
Houve o caso de Azmi Abu Hilayel, cujo filho Na'el amarrou dinamite ao corpo e explodiu um
ônibus israelense que levava
crianças à escola.
Azmi teria dito: "Agradeci a
Deus quando ouvi que meu filho
tinha morrido numa operação em
nome de Deus e da pátria". Não
consigo acreditar que o Deus do
islã, um Deus de misericórdia e
compaixão, abençoe a matança
das crianças de ninguém.
Sei que soldados israelenses já
mataram dezenas de crianças palestinas durante a Intifada. É vergonhoso. Mas não ouço generais,
pais ou rabinos israelenses agradecendo a Deus por seus filhos terem conseguido matar crianças
muçulmanas.
Que soldados atirem em crianças é errado. Os atentados suicidas são errados. Não existe Deus
que abençoe nenhuma dessas coisas.
Além de tudo isso, acabamos de
ver o imã de uma mesquita parisiense preso, acusado de ter ajudado o homem que estava num
avião com uma bomba no sapato.
E tivemos dois fuzileiros navais
americanos baleados no Kuait,
país que ajudamos a resgatar de
Saddam Hussein, além de ver um
de nossos mais importantes funcionários de assistência na Jordânia morto em frente a sua própria
casa por um "crime" semelhante:
ser americano num mundo muçulmano.
Agora vocês entendem por que
ordenei que os jovens da maioria
dos países árabes que estudam
nos EUA fossem fotografados e tivessem suas impressões digitais
registradas pelo Serviço de Imigração e Naturalização. Não tive
escolha.
Vocês dizem que tudo isso está
acontecendo porque apoiamos
Israel. Sei que precisamos fazer
mais para alcançarmos a paz, mas
não acho que aquela enfermeira
tenha recebido os tiros, nem que a
bomba em Bali tenha se tornado
""sagrada", porque apoiamos Israel.
Acho que esses fatos estão ligados à ascensão no meio de vocês
de uma vertente profundamente
intolerante de islamismo que não
é simplesmente uma reação contra Israel, mas uma resposta aos
Estados falidos de vocês, à riqueza
petrolífera desperdiçada, às ideologias rompidas (o nasserismo) e
a gerações de autocracia e analfabetismo.
Armado e irado, esse fundamentalismo áspero parece agora
intimidar por completo os setores
muçulmanos moderados.
Mas os valores que ele difunde
vão levar vocês à ruína e os conduzir ao conflito conosco. Como
escreveu Brink Lindsey, do Instituto Cato, na "National Review",
"fé nenhuma conseguirá transformar a memorização decorada
de textos antigos, a repressão à
discordância e à investigação crítica, a subjugação das mulheres e
a deferência servil à autoridade
em receita de qualquer coisa senão a decadência de uma civilização".
Os setores muçulmanos de centro, decentes mas passivos, precisam travar guerra contra esse fundamentalismo áspero.
Sim, também nós temos nossos
preconceituosos intolerantes.
Acabei de me distanciar publicamente dos cristãos que proferem
calúnias contra o islã como um
todo. Mas nossa maioria moderada e nossa imprensa também os
criticam, com regularidade.
Eles não dominam nossa sociedade. Já tivemos nossa guerra civil
contra a intolerância. Agora exorto vocês a terem a sua. Não venham me dizer que isso não é
possível.
Vejam o exemplo dos corajosos
estudantes iranianos que estão
enfrentando os fundamentalistas
radicais em sua própria sociedade, arriscando suas vidas para
combater aqueles que querem fazer o islã e o Irã retrocederem à
Idade Média. Que Deus os abençoe.
Meus amigos, a não ser que vocês travem um guerra no interior
de sua própria civilização, haverá
uma guerra entre sua civilização e
a nossa. Estamos a apenas mais
um 11 de setembro de distância
disso.
Vamos, portanto, dedicar este
próximo ano ao combate à intolerância interna, para que possamos preservar as relações entre
nós.
Sinceramente, G.W.B.
Tradução de Clara Allain
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