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Turquia rejeita
presença de tropas
dos EUA no país
DA REDAÇÃO
Numa surpreendente reviravolta que pode prejudicar os planos
dos EUA para uma guerra contra
o Iraque, o Parlamento da Turquia rejeitou ontem uma proposta para permitir o uso do território do país por tropas de combate
americanas.
A rejeição é também um sério
golpe aos esforços americanos para tentar mostrar ao ditador iraquiano, Saddam Hussein, que ele
estaria rodeado de vizinhos que
fazem parte da coalizão liderada
pelos EUA.
Os EUA haviam oferecido US$
15 bilhões ao governo turco em
empréstimos e doações e mandariam 62 mil soldados, 255 aviões
de guerra e 65 helicópteros a bases
turcas para combater no Iraque.
O premiê Abdullah Gul reuniu-se com ministros e líderes partidários e disse que o governo estuda a possibilidade de reapresentar
a proposta ao Parlamento. "Vamos avaliar isso", afirmou.
A votação no Parlamento teve
264 votos a favor da presença dos
soldados americanos, 250 contra
e 19 abstenções, mas o presidente
da Casa, Bulent Arinc, disse que a
proposta foi rejeitada porque não
conseguiu a maioria absoluta dos
deputados presentes. Em seguida,
ele ordenou um recesso parlamentar até a próxima terça-feira.
O embaixador americano na
Turquia, Robert Pearson, se dirigiu à Chancelaria logo após a votação. "Nós certamente esperávamos uma decisão favorável", afirmou. "Vamos esperar por mais
informações e orientação do governo turco sobre como devemos
proceder", disse.
Os EUA pressionam a Turquia
há semanas para permitir o uso
de seu território para abrir uma
fronteira norte na guerra, o que
dividiria o Exército iraquiano em
dois e facilitaria o trabalho das
tropas lideradas pelos EUA.
Questionado sobre a possível
reação dos EUA, o presidente do
Parlamento, que é contrário à
presença das tropas americanas,
disse: "Essa é a decisão, senhor.
Todo mundo deveria tirar seu
chapéu para ela".
Os EUA já contavam com a
aprovação da proposta. Centenas
de caminhões e jipes esperavam o
desembarque num porto ao sul
da Turquia, esperando a decisão
do Parlamento.
Comemoração
Em Ancara, centenas de pessoas
saíram às ruas para comemorar a
votação no Parlamento. "Somos
todos iraquianos. Não vamos matar, não vamos morrer", cantavam os manifestantes. Segundo as
pesquisas, até 94% dos turcos se
opõem à guerra.
Mas a rejeição de ontem à proposta pode ter um impacto negativo sobre a economia da Turquia,
que já contava com o dinheiro
oferecido pelos EUA para ajudar
o país a se recuperar da crise econômica que estourou em 2001.
Os EUA também haviam pressionado a favor da entrada da
Turquia na União Européia.
Se a Turquia não aprovar a presença americana, o país também
não terá poder sobre o governo de
transição do Iraque após a guerra.
Essa é uma questão crítica na Turquia, que teme que uma guerra
possa levar os curdos do norte iraquiano a declarar um Estado independente, o que poderia inspirar a minoria curda na Turquia.
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