|
Texto Anterior | Índice
COLÔMBIA
Ex-líder guerrilheiro, Antonio Navarro diz que apoio de vizinhos contra grupo daria poucos resultados
Ação contra Farc deve ser interna, diz senador
ROGERIO WASSERMANN
DA REDAÇÃO
A ofensiva diplomática do governo colombiano para que os vizinhos declarem as Farc (Forças
Armadas Revolucionárias da Colômbia) como terroristas e se incorporem a uma luta regional
contra o grupo não dará resultados sem uma ofensiva interna paralela. A avaliação é de Antonio
Navarro Wolff, 54, antigo dirigente da guerrilha esquerdista M-19,
reincorporado à vida pública
após um processo de paz em 1990,
e segundo senador mais votado
nas eleições do ano passado.
"É um erro do presidente Álvaro Uribe fazer um esforço tão
grande no campo externo e não
ter uma estratégia semelhante no
campo interno, muito mais importante. Ele ainda não fez esse tipo de pedido que ele vem fazendo
aos países vizinhos para as forças
políticas internas do país", disse o
senador em entrevista à Folha,
por telefone, de Bogotá.
A ofensiva de Uribe foi lançada
após um atentado a bomba num
clube de Bogotá, no dia 7 de fevereiro, que matou ao menos 36
pessoas e feriu cerca de 170. O presidente deve vir na próxima quinta-feira ao Brasil, para se reunir
com o presidente Luiz Inácio Lula
da Silva, a quem deve pedir apoio
para a luta contra a guerrilha.
Na opinião de Navarro Wolff,
uma eventual declaração dos vizinhos da Colômbia contra as Farc
teria um impacto muito pequeno
sobre sua atuação dentro do país.
"Seria um impacto muito marginal, porque as Farc são uma guerrilha que conta basicamente com
recursos internos e uma base social concentrada na área rural da
Colômbia", afirma.
Mais política
Navarro considera que, se o governo quer derrotar militarmente
as Farc, deve, paradoxalmente,
concentrar-se mais em ações políticas que em ações militares de
combate ao grupo. "A questão
primordial para o governo é ganhar a base social da guerrilha.
Apesar de as Farc estarem avançando suas ações sobre as grandes
cidades, sua base ainda está no
campo, onde o Estado não está
presente", diz.
Como exemplo de ação de força
do governo que acaba fortalecendo a guerrilha, o senador cita a fumigação dos cultivos ilícitos de
coca, patrocinada pelos EUA.
"Fumigam os cultivos de coca dizendo que isso tira dinheiro da
guerrilha, mas, na verdade, tem o
efeito contrário, porque afeta não
somente as plantações de coca,
mas também os cultivos legais.
Com isso, perde-se o camponês,
que passa a apoiar a guerrilha."
Para o senador, a estratégia do
governo deveria ser "ocupar o território e aproximar mais o Estado
da população". "A única maneira
de o governo conseguir se impor
sobre a guerrilha é conseguindo
uma unidade nacional muito forte contra os métodos utilizados
pelo grupo", diz. "Sem isso, não
vejo como o governo possa avançar muito."
Navarro considera que o governo deveria se aproveitar do que
considera um "erro estratégico"
das Farc: "Pela obsessão de derrotar a política de segurança do governo, as Farc passaram a adotar
ações que passam por cima de
qualquer ética e leis de guerra,
perdendo assim qualquer chance
de apoio para sua luta".
Texto Anterior: Chávez quer uma Cuba, diz diretor de TV investigada Índice
|