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Chávez quer uma Cuba, diz diretor de TV investigada
DE WASHINGTON
Alberto Ravell, diretor-geral
da Globovisión, uma das maiores emissoras de televisão da
Venezuela, que transmite notícias 24 horas por dia, foi notificado no dia 20 de janeiro da
instauração de um "processo
administrativo" contra a sua
empresa.
Naquele dia, os oficiais de
Justiça do Ministério da Infra-estrutura da Venezuela que foram à sede da empresa partiram sem levar uma cópia do
ofício assinada pela diretoria.
Não queriam ser filmados pelas câmaras da Globovisión. Só
voltaram depois para buscá-la.
"Foi o início de uma escalada
contra os meios de comunicação", diz Ravell.
Desde então, afirma, o governo de Hugo Chávez vem perseguindo a emissora. "Investigam até contratos de publicidade com o objetivo de nos estrangular financeiramente",
diz. Ele acredita que "Chávez
quer transformar a Venezuela
em uma Cuba". Leia entrevista
que Ravell concedeu à Folha,
de Caracas:
Folha - O processo administrativo contra a Globovisión procede? Há violência, racismo e fascismo contra o governo na TV?
Alberto Ravell - O único racismo que há é na cabeça da ministra da Informação. Uma das
acusações contra nós é termos
retransmitido uma entrevista
feita pela CNN, onde Carlos
Ortega, presidente da Confederação de Trabalhadores da Venezuela, fez criticas a Chávez. É
ridículo. Todas as violações alegadas pelo governo referem-se
à cobertura de fatos jornalísticos, transmissão de declarações de figuras públicas, de comerciais e à retransmissão de
material da rede CNN.
Folha - A ministra acusa as
emissoras de atacarem o governo dia e noite, sem trégua.
Ravell - Nós é que somos os
atacados. Nossos jornalistas
saem às ruas com coletes à prova de bala. Temem os chamados círculos bolivarianos e têm
o trabalho dificultado. A mídia
independente não tem mais
acesso a fontes oficiais.
Folha - Como o sr. vê as mudanças que Chávez quer introduzir na chamada Lei de Responsabilidade Social?
Ravell - Ele pretende acabar
com a liberdade de imprensa
no país, impondo uma censura
prévia que levaria os venezuelanos a uma ditadura.
Chávez quer instalar aqui um
regime igual ao de Cuba. Isso
será impossível se continuarem
a existir meios de comunicação
livres. E ele sabe disso.
Folha - Que outras restrições
os srs. estão sofrendo?
Ravell - O governo constantemente investiga os contratos de
publicidade que o canal tem
com seus clientes e fornecedores. O mais complicado é que,
após o controle de câmbio (só o
governo autoriza operações
oficiais com dólares no país), o
presidente já disse que não dará dólares aos chamados "inimigos da revolução". E, para
ele, todos os meios de comunicação aqui são inimigos. Logo,
os grandes jornais não terão
dólares para comprar papel e
os canais, insumos.
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