|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
VIZINHO EM CRISE
Projeto do governo quer estabelecer o que TVs podem mostrar; "queremos proteger as crianças", diz ministra
Venezuela age para ter controle sobre mídia
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
A ministra das Comunicações e
da Informação da Venezuela, Nora Uribe, afirma que os meios de
comunicação em seu país tomaram o lugar dos partidos políticos
de oposição e deflagraram uma
campanha "racista, fascista e violenta" contra membros do governo do presidente Hugo Chávez.
Nora Uribe diz que o governo
venezuelano quer ampliar o controle sobre a programação da televisão. Para isso, está mudando
projeto conhecido como Lei de
Responsabilidade Social, que foi
concebido inicialmente para regular assuntos como comercias
que podem afetar crianças -como de cigarros e bebidas.
O projeto passou há um mês em
primeira instância no Congresso
-onde Chávez tem maioria- e
vai à segunda votação logo. "Queremos melhorar muito, muito
mesmo esse projeto. Vamos discutir o que se pode ou não mostrar na televisão", diz Uribe.
"Queremos proteger nossas
crianças. Vamos discutir o assunto com todas as comunidades, nas
praças públicas."
Quando recebeu a Folha em
Washington esta semana, Nora
Uribe mostrou uma série de vídeos com imagens de protestos
anti-Chávez e programas de TV
onde falou-se mal de chavistas.
"Isso é inaceitável", diz ela. As
pessoas não poderiam simplesmente trocar de canal? "Não, está
tudo igual. É uma perseguição."
Nora Uribe diz que a população,
incitada pela TV, tem perseguido
chavistas e membros do governo.
"Eu mesmo fui hostilizada por
um grupo de pessoas batendo panelas na porta do cabeleireiro de
meu bairro, onde vivo há 33
anos", diz. "Provocam e, quando
reagimos, as TVs filmam tudo e
põem no ar."
Nos últimos meses, emissoras
de TV também vêm sendo atacadas a pedradas por chavistas.
Criticando a programação das
redes, a ministra evocou a proteção às crianças oito vezes. Citou
ainda "pesquisas de psiquiatras"
que, segundo ela, revelam que
40% da população sofre de ansiedade e 60% de insônia em razão
do que é mostrado na TV.
Processos
Atualmente, quatro grandes redes de televisão na Venezuela estão sofrendo "processos administrativos" instaurados pelo governo. No limite, podem ser fechadas. "Os processos estão na fase final. Vamos ver", diz Uribe.
Chávez, que acusa os grandes
grupos de mídia de apoiar uma
"conspiração golpista" contra ele,
chamou em um discurso em janeiro as quatro principais redes
de TV do país -Venevisión, Radio Caracas Televisión, Globovisión e Televén- de "os quatro cavaleiros do Apocalipse" e disse
que o governo não permitiria
mais "propaganda de guerra".
Desde o início do ano, o governo Chávez transmitiu 45 redes nacionais de televisão com mensagens do governo (mais de uma a
cada dois dias). Chávez apareceu
em 25 delas.
A razão da "perseguição" dos
meios de comunicação, segundo
Uribe, é que as empresas teriam
apoiado outros candidatos na
eleição presidencial. "Quando
Chávez venceu, foram à sede do
governo solicitar sua cota de poder. Não aceitamos. Por isso se
voltaram contra nós", diz a ministra.
Segundo ela, a maioria dos
meios "não consulta os dois lados
da notícia e age de modo parcial".
"A televisão está cheia de violência, atos de fascismo e racismo
contra o governo."
Como orientação política geral,
Nora Uribe diz que "o povo deve
tomar o poder" na Venezuela. "A
democracia representativa que tínhamos simplesmente dava um
cheque em branco para o Parlamento. Queremos que o povo assuma seu destino."
Segundo Jorge Valero, embaixador da Venezuela junto à OEA
(Organização dos Estados Americanos), seu país está "questionando o modelo global, impondo
uma nova visão". Por isso, acredita, o conflito com a oposição interna e externa será inevitável e
longo. "A paz dos cemitérios não
nos interessa."
Texto Anterior: Americanos sentem oposição aos EUA crescer Próximo Texto: Chávez quer uma Cuba, diz diretor de TV investigada Índice
|