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Maior dos novatos, Polônia deverá ter dificuldades
DO ENVIADO ESPECIAL A VARSÓVIA
A entrada da Polônia, o maior
dos novos membros (38,6 milhões de habitantes), na União
Européia trará inúmeras vantagens ao país, mas não será isenta
de dificuldades, segundo especialistas, diplomatas e políticos consultados pela Folha.
"A adesão à UE é uma escolha
estratégica e fundamental para a
Polônia, pois passaremos a participar do processo de tomada de
decisões na Europa. Isso permitirá que tenhamos influência sobre
toda a UE. A entrada no bloco
também é importante porque altera a percepção internacional da
Polônia e melhora sua imagem",
disse Jaroslaw Pietras, ministro da
Integração Européia da Polônia.
"Assim, o mercado financeiro
passará a ter mais confiança no
país, o que acarretará vantagens
econômicas. Será mais seguro investir na Polônia, e poderemos
emprestar dinheiro a juros mais
baixos. O fim do processo significa a consolidação da transição para a economia de mercado. Ademais, teremos acesso a um mercado bastante competitivo de mais
de 450 milhões de consumidores,
e nossas empresas poderão tirar
benefício das liberdades européias e da queda das barreiras."
"Nossos estudos mostram que,
a longo prazo, cresceremos um ou
dois pontos percentuais a mais do
que se ficássemos fora do bloco.
Finalmente, também poderemos
tirar vantagem das transferências
de fundos da UE. Nos primeiros
três anos, receberemos US$ 14 bilhões por ano e pagaremos ao bloco apenas US$ 6,5 bilhões. Ou seja, teremos um saldo positivo de
US$ 7,5 bilhões", afirmou Pietras.
Conforme salientou Wlodzimierz Siwinski, ex-reitor da Universidade de Varsóvia, todavia,
nem tudo são flores. "Alguns graves problemas poloneses se exacerbarão com a entrada na UE.
Por exemplo, o desemprego atual
é de cerca de 19% e tem um componente estrutural forte. Trata-se
de pessoas que ficaram sem emprego no campo e não são suficientemente qualificadas para
buscar uma reinserção no mercado de trabalho", avaliou Siwinski.
"Ora, com a entrada na UE, haverá ainda menos vagas de trabalho no campo, e o número de desempregados tenderá a crescer a
curto e médio prazos. Além disso,
a pobreza não será erradicada de
uma hora para a outra, o que faz
que muita gente desconfie da UE
e das tão decantadas vantagens
que o país poderá tirar dela."
Com efeito, 27,4% da população
polonesa ainda vive no campo, e
mais de 40% dela tira seu sustento
da agricultura. "Comparativamente, as perspectivas não são
boas para a população rural polonesa. No Reino Unido, somente
por volta de 3% da população depende da agricultura", indicou
Anne-Marie Le Gloannec, do
Centro Marc Bloch, um instituto
de pesquisas franco-alemão.
Tensão política
Embora a Polônia tenha apresentado um nível altíssimo de
crescimento econômico no primeiro trimestre de 2004 (quase
6%), após mais de dois anos de
morosidade, sua situação política
poderá pôr em risco as chances de
o país gozar de todas as vantagens
de sua adesão à UE.
Há algumas semanas, o ainda
premiê da Polônia, Leszek Miller
(centro-esquerda), anunciou que
renunciaria logo após a entrada
da Polônia na UE. Ele deixa seu
posto hoje, depois de quase dois
anos de escândalos de corrupção
que envolvem seu gabinete.
O próprio presidente Alexander
Kwasniewski expressou, na terça-feira, preocupação com a instabilidade política do país, dizendo
que ele poderá deixar de receber
parte dos fundos a que tem direito
porque as agências governamentais responsáveis pela distribuição
dos recursos ainda não deverão
estar aptas a fazê-lo tão cedo.
Funcionários da UE disseram
que a Polônia tem de completar
rapidamente a criação de uma
agência que será responsável pela
distribuição dos subsídios agrícolas provenientes da PAC (Política
Agrícola Comum européia).
Qualquer atraso poderá significar
a perda de parte dos US$ 647,4
milhões a que o país tem direito
ainda em 2004, o que poderia dar
mais munição aos "eurocéticos".
Estes, aliás, deverão vencer as
eleições européias que ocorrerão
em breve, de acordo com pesquisas. Andrzej Lepper, líder de extrema direita e do Partido da Autodefesa, vem buscando tirar vantagem da insegurança de boa parte da população sobre a UE.
"Muitas pessoas têm mais medo
da UE do que esperança nela. Elas
se sentem mais fracas e menos
competentes que os europeus ocidentais e só vêem as restrições impostas por Bruxelas. O medo do
desconhecido é natural, mas os
poloneses "eurocéticos" têm certa
dose de razão, já que a concorrência será dura", analisou Artur Domoslawski, analista político do
jornal "Gazeta Wyborcza".
O "euroceticismo" é, de fato,
mais forte no campo, onde as pessoas sabem que as transformações provocadas pela UE serão
particularmente dolorosas, e nas
regiões que fazem fronteira com a
Alemanha. "Na zona rural, a UE
significará níveis de desemprego
ainda mais altos. Na fronteira, as
pessoas temem que os alemães
comprem suas propriedades a
baixo custo", disse Le Gloannec.
Assim, a Polônia tem de realizar
rapidamente os esforços para inserir-se totalmente na UE. Sem
eles, a situação socioeconômica
do país tardará a melhorar verdadeiramente, o que poderia inflamar os ânimos da parcela empobrecida de sua população, gerando ainda mais instabilidade.
(MÁRCIO SENNE DE MORAES)
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