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A EUROPA DOS 25
Moeda criada com a pretensão de superar a americana sofre com as diferentes políticas econômicas adotadas dentro da UE
Euro ainda será "irmão caçula" do dólar
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA, EM BRUXELAS
Quando nasceu o euro, a moeda
comum de 12 dos países da União
Européia, alguns analistas muito
respeitados chegaram a prever
que ele logo superaria o dólar como moeda de maior relevo.
Agora, no entanto, não há ninguém imaginando efeitos tão formidáveis. Primeiro, porque os
dez novos sócios não adotarão de
imediato o euro. Terão de passar
pelo vestibular a que se submeteram os seus 15 sócios (disciplina
fiscal, inflação sob controle etc.).
Na melhor das hipóteses, passarão a usar o euro em 2007.
Segundo, porque a ampliação,
se faz crescer a população do conglomerado em 30%, só eleva em
5% o tamanho da economia européia. Mas, acima de tudo, permanece o fato de que "a economia
européia terá de ser consideravelmente mais dinâmica [que a americana] para desempenhar um
papel maior no mundo", diz Séamus O'Cléireacáin (Columbia).
De fato, recente estudo feito pelo Fórum Econômico Mundial,
organismo com status de consultor da ONU, mostra que, em matéria de inovação e economia do
conhecimento, hoje vitais, os Estados Unidos têm melhor desempenho que a Europa, na média,
embora percam para três países
europeus, todos nórdicos (Fin-lândia, Dinamarca e Suécia).
É por isso que Ben Crum, pesquisador do Ceps (Centro para
Estudo de Políticas Européias, de
Bruxelas), vê "poucos motivos
para esperar que o euro algum dia
tome o lugar do dólar. Mas, como
seu irmão caçula, ele provavelmente vai se tornar cada vez mais
proeminente".
Seu colega Michael Emerson supõe que o euro se tornará a moeda
predominante na grande Europa
(ou seja também nos países europeus que não estão entre os 25) e
no Oriente Médio. "A ampliação
acentuará a gradual transferência
de poupanças e comércio para o
euro, na vizinhança européia."
Reforça Leonor Coutinho, também do Ceps: "Embora os mercados financeiros dos novos membros sejam ainda incipientes, a
sua integração nos mercados europeus contribuirá a longo prazo
para aumentar a liqüidez e o volume de transações do mercado financeiro europeu, o que, por sua
vez, contribuirá para a redução
dos custos associados ao euro e,
por extensão, para a sua maior
utilização".
Mas outro pesquisador do Ceps,
Sebastian Kurpas, tem uma visão
mais pessimista: "Nós temos uma
moeda comum européia para 12
países, mas temos ainda 15 [e agora 25] diferentes políticas econômicas, com muito pouca coordenação. Isso torna difícil para os investidores antecipar as perspectivas para o euro".
Volta ao passado
Euro à parte, a nova Europa não
só ganhará 5% mais de peso econômico, como funcionará como
uma espécie de muro de proteção
contra eventuais tendências de retornar ao passado.
Diz, por exemplo, Ben Crum
(Ceps): "A transformação que
ocorreu nos antigos países comunistas em apenas 15 anos é impressionante e, em muitos aspectos, sem precedentes. A integração à UE serve como reconhecimento dessas conquistas e como
uma garantia de que não serão
desfeitas".
O problema é que os países que
não foram contemplados com a
ampliação ficam sem esse dique
protetor. "Há o risco de que se
sintam desencorajados a tentar
seriamente conquistar padrões
europeus modernos", teme Michael Emerson, do Ceps.
Completa: "A Rússia deseja restabelecer uma hegemonia renovada sobre Estados como Ucrânia, Moldova, o sul do Cáucaso e a
nova Sérvia. Esses países ainda
são fracos e vulneráveis à desordem social, à criminalidade e às
tensões étnicas".
Essa lembrança remete um
pouco à Idade Média: com a ampliação, o rio Narva (Estônia) voltará a ser a fronteira da Europa
com a Rússia, tal como era nos
tempos em que separava a civilização européia, católica, da eslava, ortodoxa.
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