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AMÉRICA LATINA
Plano Patriota coincide com investida eleitoral de Uribe e prevê tomada de Departamentos dominados por rebeldes
Colômbia lança megaofensiva contra Farc
FABIANO MAISONNAVE
DA REDAÇÃO
Próximo da metade do seu
mandato, o presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, pôs em marcha
dois projetos ambiciosos, que devem ocupar o noticiário do país
nos próximos meses e anos.
No plano político, Uribe centra
todos os esforços no Congresso
para aprovar uma reforma constitucional que lhe dê direito à reeleição (leia texto nesta página).
No conflito armado, o Exército
já deu início ao Plano Patriota,
considerado a maior ofensiva militar contra as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), guerrilha terrorista de esquerda que há 40 anos promove
uma insurgência armada contra o
Estado. Ao menos 200 mil pessoas
morreram diretamente em razão
do conflito.
Apesar de supostamente estar
em andamento, o Plano Patriota
-uma espécie de complementação militar do Plano Colômbia-
foi revelado em detalhes pela imprensa do país apenas na semana
passada. Justamente quando começava a tramitar no Congresso a
emenda da reeleição.
O influente jornal "El Tiempo"
citou fontes anônimas do governo para descrever o Plano Patriota como "a mais ambiciosa ofensiva militar em que o governo colombiano se envolveu em toda a
sua história".
O objetivo do plano de Uribe
consiste em utilizar de 14 mil a 16
mil militares para ocupar quatro
Departamentos (Estados) do sul
com amplo domínio das Farc e,
em menor grau, do ELN (Exército
de Libertação Nacional). Algumas
dessas regiões estão sob controle
dos grupos terroristas de esquerda há cerca de 20 anos.
Em entrevista à Folha, o ex-ministro da Defesa (1991-94) e senador uribista Rafael Pardo confirmou que a operação teve início
em dezembro passado e deve durar "dois ou três anos".
Segundo Pardo, todo o efetivo
do Plano Patriota já está no sul do
país. "Há bases muito grandes já
operando nessa região."
Ajuda americana
Conforme afirma o "El Tiempo", a ação militar contra as Farc
conta com o "apoio entusiasmado" do general James Hill, chefe
do Comando Sul das Forças Armadas americanas. Ele teria participado de ao menos dez reuniões
com oficiais colombianos para
discutir o assunto.
Washington já teria reservado
US$ 110 milhões para o plano somente neste ano e se comprometido a dar mais recursos para pelo
menos três anos de ofensiva.
No final de março, Uribe viajou
a Washington para assegurar
mais ajuda do presidente George
W. Bush, que prometeu enviar ao
Congresso um pedido para aumentar o número máximo de "assessores" do governo americano
na Colômbia de 400 para 800 militares e de 400 para 600 civis.
Para o senador Pardo, no entanto, esse pedido tem relação apenas com o Plano Colômbia. "O
Plano Patriota é interno, não tem
a ver com o programa de cooperação com os Estados Unidos."
O Plano Colômbia é um programa de ajuda financeira dos Estados Unidos desenhado para combater os cultivos de coca no país.
Desde 2000, Washington já enviou cerca de US$ 2,5 bilhões ao
país andino. A Colômbia é o terceiro país que mais recebe ajuda
financeira americana -atrás
apenas de Israel e do Egito.
Força pequena
Para o analista militar Alfredo
Rangel, que preside a ONG Segurança e Democracia, a ação provocará sérios danos às Farc, ainda
que a Colômbia tenha um déficit
histórico de efetivo.
"O número é sempre insuficiente. A Colômbia deveria ter pelo
menos o dobro dos soldados que
tem agora", disse Rangel à Folha,
com a experiência de ter sido assessor presidencial de Segurança
Nacional (1998-2002).
Pardo concorda: "Colocar 14
mil homens em 300 mil km2 não é
uma presença esmagadora".
Para o senador, não há previsão
de aumento do efetivo. "Já houve
um aumento grande [de soldados] nos últimos dois anos, mas é
muito difícil aumentar mais porque não há recursos."
Sobre a violência do conflito,
Rangel prevê que haja mais mortos em combate, mas, por outro
lado, que caia o número de vítimas civis.
"[Com Uribe] tem havido um
número maior de combatentes
mortos, tanto guerrilheiros como
paramilitares e soldados, mas
também houve uma redução da
violência comum. Creio que o
Plano Patriota acentuará essa tendência", disse o analista.
Embora critique a proposta de
reeleição, a oposição apóia a política de segurança de Uribe. Ouvido pela Folha, o senador Antonio
Navarro Wolff, do partido de esquerda Pólo Democrático Independente e ex-dirigente da guerrilha esquerdista M-19, desmobilizada em 1990, disse: "Nós acreditamos no diálogo para resolver o
conflito, mas, enquanto ele não
ocorre, é dever do Estado proteger seu território".
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