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Às 10h18, Tom McGinnis falou à sua mulher: "Estamos no 92º andar, numa sala da qual não conseguimos sair"
"Isso parece a Terceira Guerra Mundial"
9h02, 81º andar, torre sul, 57 minutos antes do desabamento
Sim, disse Stanley Praimnath à
pessoa que lhe telefonou de Chicago, ele estava ótimo. Ele tinha
deixado o saguão da Torre Sul,
mas um segurança o instruíra a
retornar. Agora, estava novamente sentado à sua mesa, no escritório do Banco Fuji. "Estou ótimo",
ele repetiu. Conforme contaria
mais tarde, foram suas últimas
palavras antes de ver o avião.
Uma forma cinzenta no horizonte. Um avião, voando ao lado
da Estátua da Liberdade. O jato da
United Airlines foi ganhando volume, até que Praimnath conseguia enxergar a lista vermelha em
sua fuselagem. Então, o avião inclinou-se lateralmente e dirigiu-se
diretamente contra ele.
"Deus, você assume a direção!",
ele gritou, escondendo-se debaixo
de sua mesa metálica.
Às 9h03, o nariz do avião bateu
de frente no andar de Praimnath,
a cerca de 40 metros de sua mesa.
Uma bola de fogo se formou. Partes de aço e peças de chapa de alumínio do avião viraram estilhaços
incandescentes. Uma onda de explosão atirou computadores e
mesas pelas janelas e arrancou fora feixes de cabos elétricos. Então
a Torre Sul pareceu inclinar-se,
pendendo pouco a pouco em direção ao rio Hudson, testando seu
esqueleto de aço até o limite antes
de voltar, com um estalido.
Na maior parte das duas torres,
as escadas formavam um núcleo
apertado, e, na Torre Norte, todas
ficaram imediatamente cortadas
ou obstruídas pela explosão. Mas,
na zona de impacto da Torre Sul,
do andar 78 ao 84, as escadas tinham de desviar das máquinas
pesadas que moviam os elevadores. Assim, em lugar de ficarem ao
lado do centro do edifício, duas
das escadas foram construídas
mais perto do perímetro da torre.
Uma delas, no lado noroeste, sobreviveu. E foi isso que fez toda a
diferença para Praimnath.
Por ter entrado num ângulo
oblíquo, o avião rasgou seis andares. Três andares acima, no 84º, ficava o escritório da Euro Brokers.
A maior parte do local foi reduzida a nada. Mas mesmo ali, no epicentro do impacto, outras pessoas
continuavam vivas. Em minutos,
se dirigiram à escada mais próxima, liderados por Brian Clark,
inspetor de incêndios do andar,
que tinha farolete e apito.
Uma poeira fina misturada com
fumaça leve flutuava pelo vão da
escada. Quando eles se aproximaram do 81º andar, recorda Clark,
encontraram um homem esbelto
e uma mulher pesada. ""Não dá
para descer", gritou a mulher.
""Vocês têm de subir. Há fumaça e
chamas demais lá embaixo."
A observação mudou tudo.
Centenas de pessoas chegaram a
uma conclusão semelhante, mas a
fumaça e os escombros que havia
no vão da escada não foram um
obstáculo tão grande quanto o
medo. Exatamente essa escada
era a única saída do prédio, percorrendo a Torre Sul de alto a baixo. Quem tivesse encontrado a escada a tempo poderia ter saído
andando, alcançando a liberdade.
Essa oportunidade não foi interpretada como tal pelo grupo de
sobreviventes no hall do 81º andar, momentos após o choque do
avião. Eles discutiram as alternativas. Clark iluminava o rosto de
seus colegas com o farolete, perguntando a cada um: ""Para cima
ou para baixo?". A discussão foi
interrompida por gritos vindos
do mesmo andar. "Ajudem-me,
ajudem-me!", gritava Praimnath.
""Estou preso. Não me deixem!".
Sem falar mais nada, o grupo
que estava na escada se separou,
partindo em direções diferentes.
Praimnath viu a luz do farolete e
se arrastou até ela. Finalmente, ele
chegou até uma parede danificada que o separava do homem segurando o farolete, Clark.
Os dois destruíram juntos o
obstáculo. Eles correram até a escada e começaram a descer.
Enquanto isso, o grupo que havia subido não conseguia sair da
escada -as portas não se abriam.
Exaustas, respirando fumaça espessa, todas se deitaram, incluindo Ronald DiFrancesco, da Euro
Brokers. ""Todo mundo estava começando a dormir", contou. Então ele se sentou, pensando: ""Preciso ver minha mulher e meus filhos outra vez". E correu escada
abaixo, se salvando.
9h05, 78º andar, torre sul, 54 minutos antes do desabamento
Mary Jos não sabe dizer ao certo
quanto tempo ficou deitada, desmaiada, no chão do Sky Lobby
-um saguão central no 78º andar-, diante do elevador expresso. O primeiro momento em que
se recorda de ter se mexido foi
quando sentiu o calor queimando
suas costas e seu rosto. Pensou
que talvez estivesse pegando fogo.
Instintivamente, rolou para sufocar as chamas. Viu fogo ardendo
no centro do ambiente e nos poços dos elevadores.
Isso já era suficientemente apavorante. Mas, em seguida, ela foi
pouco a pouco enxergando algo
ainda pior. O saguão central, que,
minutos antes, estivera repleto de
pessoas, indecisas se deveriam
deixar o edifício ou voltar ao trabalho, agora estava repleto de corpos imóveis. O teto, as paredes, as
janelas, o balcão de informações,
até mesmo o mármore que enfeitava os elevadores estavam destruídos, depois que o segundo
avião sequestrado passara a ponta
de sua asa pelo 78º andar.
Num instante, contam as testemunhas, elas se depararam com
um clarão de luz, uma explosão
de ar quente e uma onda de choque que derrubou tudo. Deitada
em meio ao silêncio mortal, queimada e sangrando, Mary Jos pensava em uma única coisa: seu marido. ""Não vou morrer", disse ela,
recordando suas palavras.
Nos 16 minutos que se passaram entre os dois ataques, as pessoas na Torre Sul mal tiveram
tempo de absorver os horrores
que viam e decidir o que fazer.
Na corretora Keefe, Bruyette &
Woods, quase todo o departamento de investimentos deixou o
prédio -e sobreviveu. Quase todos os corretores de ações ficaram
-e morreram.
Nos momentos que antecederam o segundo impacto, todos
que estavam no Sky Lobby se
aprontavam para subir ou para
descer. Kelly Reyher, que trabalhava no 100º andar, na Aon Corporation, entrou no elevador local, que estava subindo. Queria
pegar sua agenda eletrônica, já
que imaginava que pudesse levar
algum tempo até conseguir voltar
ao escritório. Judy Wein e Gigi
Singer, também da Aon, discutiram se deveriam ou não voltar para o 103º andar para buscar suas
carteiras. Mas seu colega Howard
L. Kestenbaum lhes disse para esquecer a idéia e falou que lhes daria o dinheiro para o táxi.
No instante do impacto, um saguão agitado, repleto -pelas estimativas de testemunhas, havia
entre 50 e 200 pessoas no local-,
ficou escuro, em silêncio e praticamente sem vida. Algumas poucas pessoas sobreviveram, pois se
protegeram numa reentrância.
Quando Judy Wein voltou a si,
descobriu que seu braço direito
estava quebrado, três costelas estavam fraturadas e seu pulmão direito tinha sido perfurado. Em
outras palavras, tivera sorte. À sua
volta, via pessoas com ferimentos
medonhos, mortas ou quase mortas. Wein gritou, procurando seu
chefe, o senhor Kestenbaum.
Quando o encontrou, ele estava
em silêncio, imóvel, sem expressão alguma no rosto.
Pouco a pouco, quem conseguia
começou a se mover. Um homem
desconhecido surgiu em cena,
com a boca e o nariz cobertos por
um lenço vermelho. Ele procurava o extintor de incêndio. Conforme recorda Judy Wein, ele apontou para as escadas e disse algo
que salvou vidas: "Quem conseguir andar levante e saia andando
agora. Quem conseguir ajudar
encontre alguém que precisa de
ajuda e depois desça".
Das dezenas de pessoas que estavam aguardando no Sky Lobby
quando o segundo avião atingiu a
Torre Sul, sabe-se que 12 conseguiram escapar com vida.
9h38, 93º e 97º andar, torre sul, 21 minutos antes do desabamento
"Tome cuidado, Ed", gritou
Alayne Gentul, diretora de recursos humanos do Fiduciary Trust,
quando Edgar Emery escorregou
da mesa sobre a qual estivera em
pé, caindo no chão cada vez mais
quente e esfumaçado do 97º andar da Torre Sul.
Para retirar os funcionários do
Fiduciary que trabalhavam nesse
andar, Emery e Gentul tinham subido sete andares, desde seus próprios escritórios. Agora eles dois e
os seis ou sete funcionários que
tentavam salvar estavam em muito maus lençóis.
Entre os fadados a morrer, conforme deixam claro os telefonemas, as mensagens e os depoimentos, havia muitas pessoas que
se colocaram em risco porque pararam para dar uma mão a colegas de trabalho ou desconhecidos.
Outros agiram com grande ternura quando não havia mais esperança de saída. Gentul e Emery,
do Fiduciary, cujos escritórios
iam do 90º ao 97º andar, tinham
optado por ajudar seus colegas.
Conhecido por sua calma em
emergências, Emery começou a
levar pessoas para a escada, incluindo Anne Foodim, do departamento de recursos humanos,
que relatou os acontecimentos.
Eles desceram 12 andares, até o
78º andar e o elevador expresso,
com Emery incentivando-os.
""Se você conseguiu fazer quimio, então consegue descer esses
degraus", disse Emery a Foodim,
exausta, que acabava de completar uma rodada de quimioterapia.
Quando eles finalmente chegaram ao elevador lotado do 78º andar, Emery certificou-se de que
todos tinham entrado. Ele apertou o ombro de Foodim, num
gesto de amizade, e deixou a porta
fechar. Então tornou a subir, indo
juntar-se a Alayne Gentul.
Como ele, Gentul conduziu um
grupo para fora antes de o segundo avião atingir o edifício. Uma
recepcionista, Mona Dunn, a viu
no 90º andar, onde funcionários
estavam discutindo se deixavam o
prédio ou não. Gentul decidiu a
questão instantaneamente. "Desçam, e em ordem", ela falou, indicando a escada. ""Foi como se a
professora tivesse dito que podíamos sair", recordou Dunn.
9h45, 105º andar, torre sul, 14 minutos antes do desabamento
Para as pessoas que estavam nos
andares superiores, a cobertura
parecia ser a escolha óbvia -e a
única viável. Um helicóptero da
polícia tinha retirado pessoas da
cobertura da torre norte em fevereiro de 1993, depois da explosão
de uma bomba terrorista no subsolo. Mas, naquela manhã, os comandantes da polícia excluíram a
possibilidade de resgate aéreo.
Seja qual for o grau de acerto ou
erro da decisão, ela foi um choque
para muitas pessoas que se viram
presas nas torres, de acordo com
seus familiares e o resumo das
chamadas feitas ao número 911
(emergências). Apenas algumas
poucas se deram conta de que a
escada A poderia levá-las até o solo em segurança, e a informação
não chegou a subir de volta, transmitida por quem estava escapando ou pelas autoridades. Frank
Doyle, um corretor de ações na
Keefe, Bruyette & Woods, telefonou para sua mulher, Kimmy
Chedell, para lembrar do amor
que tinha por ela e seus filhos. Ela
recorda que ele também disse:
""Subi até a cobertura, mas as portas estão trancadas. Você precisa
ligar para o 911 e contar a eles que
estamos presos aqui".
O 105º andar foi a última parada
para muitas das pessoas que tinham subido em direção à cobertura, uma turma formada, em sua
maioria, por funcionários da Aon.
Sean Rooney telefonou para Beverly Eckert. Tinham acabado de
completar 50 anos juntos.
Rooney tentara descer, mas não
conseguira. Então subira cerca de
30 andares, até chegar à cobertura, com sua porta trancada. Agora
queria mapear uma rota de saída,
então pediu à mulher que descrevesse a localização do incêndio,
seguindo as imagens que ela estava vendo na TV. Ele não entendia
a razão de a porta da cobertura estar trancada, ela contou. Eckert
lhe implorou que tentasse de novo, enquanto ela ligava para o 911
na outra linha. Ele pôs o telefone
no chão, mas voltou minutos
mais tarde, dizendo que a porta
não cedera.
"Ele estava preocupado com as
chamas", recordou Eckert. "Fiquei falando que não estavam sequer perto delas. Ele dizia: "Mas as
janelas estão quentes". Sua respiração estava ficando ofegante." O
teto estava desabando. O chão se
retorcia e levantava. Os telefonemas foram sendo cortados. Sean
Rooney estava só, numa sala que
estava rapidamente se enchendo
de fumaça. Eles se despediram.
""Ele estava me dizendo que me
amava. Então deu para ouvir uma
explosão bem alta."
10h, 92º andar, torre norte, 28 minutos antes do desabamento
""Mãe", perguntou Jeffrey Nussbaum, ""isso foi uma explosão?"
A 32 quilômetros de distância
do WTC, em Oceanside, Nova
York, Arline Nussbaum podia ver
na televisão o que seu filho, a 50
metros de distância, não conseguia. Ela se recorda das últimas
palavras de ambos: ""A outra torre
acaba de desabar", disse Arline
Nussbaum. ""Oh, meu Deus", falou seu filho. ""Eu te amo."
Então o telefone ficou mudo.
A Torre Norte, que tinha sido
atingida 18 minutos antes da Sul,
ainda estava em pé. Estava morrendo -mais devagar, mas tão
certeiramente quanto sua gêmea.
Os chamados diminuíam. Aumentava o número de pessoas
que caíam das janelas.
Naquela manhã, o escritório da
Carr Futures, no 92º andar, estivera mais cheio do que de costume,
com 68 pessoas.
Cerca de 24 corretores tinham
sido convocados para uma reunião especial às 8h. Quando o edifício se projetou para a frente e para trás, como uma antena de automóvel, as molduras das portas se
torceram e emperraram, trancando vários deles dentro de uma sala
de conferências.
Os funcionários restantes da
Carr, cerca de 40, migraram para
um espaço grande no lado oeste
do edifício. Jeffrey Nussbaum telefonou para sua mãe e dividiu
seu celular com Andy Friedman.
As famílias de funcionários da
Carr já contabilizaram ao todo 31
chamados dos familiares que perderam, de acordo com Joan Dincuff, que perdeu o filho Christopher.
A Carr ficava dois andares abaixo da zona de impacto, e todos
que estavam lá sobreviveram ao
impacto. Mas as pessoas não conseguiram sair. Entre 10h05 e
10h25, como mostram os vídeos,
o fogo espalhou-se para oeste,
atravessando a face norte do 92º
andar e aproximando-se do local
onde as pessoas estavam.
Às 10h18, Tom McGinnis, um
dos corretores que tinha sido convocado para a reunião especial,
conseguiu falar com sua mulher,
Iliana McGinnis. As palavras que
eles trocaram ficaram gravadas
na memória dela.
""A coisa está parecendo realmente feia, feia mesmo", disse ele.
""Eu sei", respondeu Iliana, que
acalentara a esperança de que a
reunião de seu marido tivesse terminado antes do choque do
avião. ""Isso parece a Terceira
Guerra Mundial." Alguma coisa
no tom da resposta de seu marido
a deixou alarmada. ""Você está
bem? Sim ou não?", ela perguntou. ""Estamos no 92º andar, numa sala da qual não conseguimos
sair", disse McGinnis. ""Quem está
com você?", ela perguntou.
McGinnis mencionou três velhos
amigos: Joey Holland, Brendan
Dolan e Elkin Yuen. ""Eu te amo",
disse McGinnis. ""Cuide bem de
Caitlin." Mas Iliana ainda não estava disposta a ouvir um adeus.
""Não perca a calma", ela o encorajou. ""Vocês aí são tão durões,
você é sempre cheio de idéias. Vocês vão conseguir sair daí."
""Você não entende", respondeu
McGinnis. ""Há pessoas pulando
dos andares acima de nós."
Eram 10h25. O fogo devorava o
lado oeste do 92º andar. As pessoas caíam das janelas. McGinnis
voltou a dizer a sua mulher que
amava a ela e à filha deles, Caitlin.
""Não desligue", implorou Iliana. ""Tenho de me deitar no chão",
disse McGinnis.
Com isso, a conexão telefônica
se desfez. Eram 10h26, dois minutos antes de a torre desabar. O
World Trade Center caíra em silêncio.
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