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Lugo entrega a Brasil pedidos sobre Itaipu
Em visita a Assunção, Marco Aurélio Garcia recebe pauta de reivindicações que inclui "preço justo" e revisão de tratado
Assessor de Lula diz que Brasil vai "sentar à mesa de negociações", com novo mandatário do Paraguai, que toma posse no dia 15
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
O presidente eleito do Paraguai, Fernando Lugo, que toma
posse no próximo dia 15, entregou ao governo brasileiro uma
"pauta de reivindicações" por
escrito, cujos dois principais
itens são um "preço justo" para
a venda da energia excedente
de Itaipu para o Brasil e a revisão do tratado binacional.
O documento foi entregue ao
assessor internacional da Presidência, Marco Aurélio Garcia,
que jantou com Lugo e seus futuros ministros anteontem e
teve reunião de trabalho com a
equipe do futuro governo ontem, em Assunção. Garcia não
quis divulgar os detalhes das
reivindicações paraguaias antes de o governo brasileiro analisar os pedidos.
Lugo, esquerdista que rompeu uma hegemonia de 61 anos
do Partido Colorado no governo paraguaio, fez da renegociação do tratado de Itaipu a sua
principal bandeira de campanha. O presidente eleito considera que o acordo, firmado em
1973, quando os dois países
eram governados por ditaduras, é lesivo ao Paraguai.
Pelo acordo, cada país têm
direito à metade da energia
produzida pela usina, mas o Paraguai não usa a maior parte da
sua cota. O Brasil compra energia de Itaipu que o Paraguai não
usa a US$ 45,31 por MWh (megawatt-hora): US$ 42,50 abatem a dívida contraída por Assunção para construir a usina
-paga pelo Brasil. O Paraguai fica com US$ 2,81 por MWh
(US$ 340 milhões em 2007).
Lugo visa um reajuste no
preço que o Brasil paga, que
considera muito baixo. Além
disso, pleiteia uma revisão no
tratado para que possa oferecer
a energia excedente também à
Argentina. O Brasil não mostrou até aqui disposição de rever o texto do acordo, que vigora até 2023.
Segundo Garcia, o Brasil "vai
sentar-se à mesa de negociação", mas não há promessas
nem previsão de prazos para a
conclusão de acordos: "Pode
demorar semanas, até meses".
Investimentos
Garcia fez em Assunção uma
palestra sobre a política de investimentos do Brasil para estimular "o processo de industrialização dos países da região,
particularmente do Paraguai".
Entre os investimentos, a
prioridade é a área de infra-estrutura, inclusive a construção
de uma linha de transmissão de
energia entre Itaipu e Assunção. Conforme Garcia, "não é
admissível que um país [Paraguai] seja sócio de uma das
maiores usinas do mundo e sofra apagões e coisas assim".
Outros investimentos previstos são a segunda ponte sobre o rio Paraná, ao custo de
US$ 50 milhões, e um fundo
para pequenas e médias empresas, a partir de 2009 com
uma base de US$ 50 milhões
para os países da região.
O Brasil também poderá oferecer como uma espécie de
brinde para a posse de Lugo o
fim uma expressiva redução-
da taxação dos fretes de caminhões paraguaios no Brasil, hoje em 25%.
Além disso, está praticamente fechada a extensão para o Paraguai do acordo automotivo
Brasil-Argentina, prevendo reduções gradativas de tarifas para incentivar a exportação e,
portanto, a produção nos dois
países vizinhos.
O futuro ministro do Interior
paraguaio, Rafael Filizola, pediu a Garcia que intermediasse
um encontro seu com o ministro da Justiça, Tarso Genro, em
Brasília, para a discussão de
três assuntos: acordos policiais,
combate ao contrabando e controle de fronteiras.
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