São Paulo, sábado, 02 de agosto de 2008

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SUCESSÃO NOS EUA/ À FLOR DA PELE

Obama bate boca com ativista negro

Olugbala protestava em evento de democrata por mais atenção à questão racial, a seu ver preterida por candidato

Episódio é o terceiro na semana a envolver cor, após McCain acusar rival de usar tema para levar vantagem e rap ofender republicanos

DANIEL BERGAMASCO
DE NOVA YORK

Um protesto de três jovens negros durante discurso do candidato democrata Barack Obama em St. Petersburg (Flórida) completou ontem a série de polêmicas nesta semana sobre a questão de raça na campanha presidencial americana.
Obama falava sobre economia quando o grupo -militante de uma ONG contra injustiças sofridas por afro-descendentes, chamada de Uhuru- levantou uma faixa na qual se lia "E a comunidade negra, Obama?".
Diante da intervenção -algo raro em seus eventos-, Obama disse: "Desculpe, este é um encontro comunitário e você pode fazer sua pergunta depois. Seja educado, você terá chance de se pronunciar, relaxe."
Depois, ao microfone, Diop Olugbala, 31, citou problemas que afetam os negros, como o endividamento com hipotecas e o caso "Jena Seis"" (no qual seis alunos negros de uma escola de Jena, Missouri, foram punidos por reagir a uma manifestação racista, em 2007).
"Ante vários ataques contra a comunidade africana ou a comunidade negra pelo mesmo governo dos EUA que você aspira comandar, por que você não conseguiu nenhuma vez discursar em nome das comunidades africanas e negras oprimidas e exploradas neste país?", indagou Olugbala.
Guaguejando, Obama disse que o jovem estava "desinformado" quando fala "nenhuma vez" e enfatizou que, em seus discursos, já disse que "empréstimos predatórios" (de fácil acesso e juros abusivos) afetaram as "comunidades latinas e afro-americanas" dos EUA. Também disse que foi "o primeiro candidato" a condenar o caso da escola de Jena.
"Trabalho nessas questões há décadas. Agora, isso não significa que eu sempre irei satisfazê-las do jeito em que vocês as querem. Eu entendo isso, o que lhes dá a opção de votar em outra pessoa ou concorrer" para presidente, declarou.
Os demais eleitores (quase todos os brancos) levantaram-se ao coro do slogan "Sim, podemos". Após o evento, Olugbala, cercado pela imprensa, declarou que a resposta de Obama não foi satisfatória e que não votará nele.
O episódio de ontem também revelou que a campanha de Obama seleciona os cartazes que podem ser mostrados pelo público nos eventos -o grupo havia escondido o seu. O alto controle da imagem da platéia já havia vindo à tona quando eleitoras muçulmanas, usando véu, foram retiradas de um lugar da arquibancada onde apareceriam atrás do candidato.

Raça
No decorrer da semana, outras duas polêmicas haviam focado a raça, uma questão que Obama tenta manter em segundo plano.
Em uma das controvérsias, o chefe da campanha do candidato republicano à Casa Branca, John McCain, acusara Obama de evocar o tema ao dizer que não se parece "com os outros presidentes nas notas de dólares". Depois, uma canção do rapper Ludacris, que convocava os negros a votarem no democrata, causou a ira do próprio homenageado por fazer ofensas a figuras da política como McCain, o presidente Bush e a democrata Hillary Clinton.


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