São Paulo, sábado, 02 de agosto de 2008

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Agência da ONU aprova o acordo nuclear EUA-Índia

Washington fornecerá urânio enriquecido e tecnologia; indianos rejeitam inspetores em centrais que fazem plutônio para bomba

DA REDAÇÃO

A AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) deu ontem o sinal verde para que os Estados Unidos possam fornecer à Índia urânio enriquecido e tecnologia nuclear.
O acordo havia sido assinado há pouco mais de dois anos, durante visita do presidente George W. Bush a Nova Déli. Mas precisava em sua principal etapa ser aprovado pela agência vinculada à ONU.
Representantes de 35 países do Conselho de Governadores da AIEA autorizaram que inspeções fossem feitas em 14 reatores já em operação para a produção de eletricidade. Há outros oito reatores sendo construídos, dos quais seis poderão ser abertos aos inspetores entre 2009 e 2014.
Não está claro se os dois reatores sem inspeção fazem parte do programa militar, que possuiria ao todo quatro reatores para a produção de plutônio para a bomba atômica.
A Índia fez testes nucleares em 1974 e 1998 e não é signatário do TNP (Tratado de Não-Proliferação), o que força a AIEA a emitir um protocolo especial de salvaguardas, ontem aprovado. A cooperação com os Estados Unidos se refere apenas aos reatores civis.
Antes de entrar em vigor, o acordo entre Washington e Nova Déli deverá ainda ser aprovado em 21 de agosto pelos 45 países do NSG, sigla em inglês para os fornecedores de tecnologia nuclear. Por fim, o último aval deverá sair do Congresso americano, antes que Bush deixe, em janeiro, a Casa Branca.

Contrapeso à China
A questão para os Estados Unidos é comercial -são desconhecidos os valores dos contratos-, mas é também, e sobretudo, política.
A Índia produz hoje apenas 3% de sua eletricidade por meio de reatores e quer chegar a 25% dentro de 45 anos. Sem essa nova fonte energética, ela não sustentaria altas taxas de crescimento que permitiriam sua já esboçada emergência para se contrapor à China.
Foi em nome dessa lógica que Bush abriu mão do embargo nuclear de três décadas àquele país detentor da bomba.
O programa militar indiano teve como objetivo dissuadir o vizinho e rival Paquistão, com o qual já disputou três guerras desde 1947, quando ambos se tornaram Estados desmembrados da antiga Índia britânica. O Paquistão, em resposta, também construiu a bomba.
Curiosamente, ontem em Viena, sede da AIEA, o Paquistão, apesar de objeções verbais, não votou contra o acordo entre Washington e Nova Déli. Analistas acreditam que aquele país esteja de olho nesse precedente, que poderia, no futuro, também beneficiá-lo.
O diretor-geral da AIEA, Mohamed El Baradei, afirmou que as salvaguardas aprovadas eram "positivas para a Índia e para o mundo".
O porta-voz da Casa Branca para questões de segurança nacional, Gordon Johndroe, disse que a decisão tomada em Viena "colocava a Índia na corrente da não-proliferação".
Segundo a France Presse, o Brasil, ao lado de países como o Japão, a Irlanda, a Áustria e a Suíça, embora não vetasse o documento ontem aprovado, emitiu "reservas" pelo fato de a Índia não ser signatária do TNP e do Tratado de Proibição Completa de Testes Nucleares, o CTBT, sigla em inglês.
O representante do Irã na agência foi mais contundente. Acusou os Estados Unidos de "dois pesos e duas medidas" por vetar seu programa nuclear e aprovar o indiano. Afirmou também que está aberto um precedente para legalizar o arsenal nuclear de Israel.


Com agências internacionais


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