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Agência da ONU aprova o acordo nuclear EUA-Índia
Washington fornecerá urânio enriquecido e tecnologia; indianos rejeitam inspetores em centrais que fazem plutônio para bomba
DA REDAÇÃO
A AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) deu
ontem o sinal verde para que os
Estados Unidos possam fornecer à Índia urânio enriquecido
e tecnologia nuclear.
O acordo havia sido assinado
há pouco mais de dois anos, durante visita do presidente
George W. Bush a Nova Déli.
Mas precisava em sua principal
etapa ser aprovado pela agência
vinculada à ONU.
Representantes de 35 países
do Conselho de Governadores
da AIEA autorizaram que inspeções fossem feitas em 14 reatores já em operação para a
produção de eletricidade. Há
outros oito reatores sendo
construídos, dos quais seis poderão ser abertos aos inspetores entre 2009 e 2014.
Não está claro se os dois reatores sem inspeção fazem parte
do programa militar, que possuiria ao todo quatro reatores
para a produção de plutônio para a bomba atômica.
A Índia fez testes nucleares
em 1974 e 1998 e não é signatário do TNP (Tratado de Não-Proliferação), o que força a
AIEA a emitir um protocolo especial de salvaguardas, ontem
aprovado. A cooperação com os
Estados Unidos se refere apenas aos reatores civis.
Antes de entrar em vigor, o
acordo entre Washington e Nova Déli deverá ainda ser aprovado em 21 de agosto pelos 45
países do NSG, sigla em inglês
para os fornecedores de tecnologia nuclear. Por fim, o último
aval deverá sair do Congresso
americano, antes que Bush deixe, em janeiro, a Casa Branca.
Contrapeso à China
A questão para os Estados
Unidos é comercial -são desconhecidos os valores dos contratos-, mas é também, e sobretudo, política.
A Índia produz hoje apenas
3% de sua eletricidade por
meio de reatores e quer chegar
a 25% dentro de 45 anos. Sem
essa nova fonte energética, ela
não sustentaria altas taxas de
crescimento que permitiriam
sua já esboçada emergência para se contrapor à China.
Foi em nome dessa lógica
que Bush abriu mão do embargo nuclear de três décadas
àquele país detentor da bomba.
O programa militar indiano
teve como objetivo dissuadir o
vizinho e rival Paquistão, com o
qual já disputou três guerras
desde 1947, quando ambos se
tornaram Estados desmembrados da antiga Índia britânica. O
Paquistão, em resposta, também construiu a bomba.
Curiosamente, ontem em
Viena, sede da AIEA, o Paquistão, apesar de objeções verbais,
não votou contra o acordo entre Washington e Nova Déli.
Analistas acreditam que aquele
país esteja de olho nesse precedente, que poderia, no futuro,
também beneficiá-lo.
O diretor-geral da AIEA, Mohamed El Baradei, afirmou que
as salvaguardas aprovadas
eram "positivas para a Índia e
para o mundo".
O porta-voz da Casa Branca
para questões de segurança nacional, Gordon Johndroe, disse
que a decisão tomada em Viena
"colocava a Índia na corrente
da não-proliferação".
Segundo a France Presse, o
Brasil, ao lado de países como o
Japão, a Irlanda, a Áustria e a
Suíça, embora não vetasse o documento ontem aprovado,
emitiu "reservas" pelo fato de a
Índia não ser signatária do TNP
e do Tratado de Proibição
Completa de Testes Nucleares,
o CTBT, sigla em inglês.
O representante do Irã na
agência foi mais contundente.
Acusou os Estados Unidos de
"dois pesos e duas medidas"
por vetar seu programa nuclear
e aprovar o indiano. Afirmou
também que está aberto um
precedente para legalizar o arsenal nuclear de Israel.
Com agências internacionais
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