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Máquina partidária fecha com McCain
Mas delegados e eleitores republicanos se mostram mais radicais que seu candidato, mostra pesquisa
DO ENVIADO A ST. PAUL
Se a estrutura do Partido Republicano fizer alguma diferença até o dia da eleição presidencial dos EUA, em novembro,
John McCain começa para valer a disputa pela Casa Branca
com uma leve vantagem sobre
o democrata Barack Obama.
Pesquisas encomendadas pelo jornal "The New York Times" e pela rede de TV CBS
mostram 86% dos delegados
republicanos aprovando a indicação de McCain. No caso de
Obama, oficializado na semana
passada, 82% declararam-se
satisfeitos.
Para além dos números, entretanto, os republicanos mostram um grande poder de unificação em torno de McCain, que
não enfrentou problemas como
Obama. O democrata ainda luta
para atrair simpatizantes de
Hillary Clinton. Três de cada
dez delegados democratas pró-Hillary dizem apoiar Obama
apenas porque ele é candidato
oficial, mas não o vêem ainda
com muito entusiasmo.
Outro fato descoberto pelas
pesquisas é que os republicanos se mostram, em geral, mais
conservadores do que o seu
candidato. Mas entendem ser
necessário na atual conjuntura
alguém com o perfil de John
McCain para tentar manter a
cadeira de presidente.
Por exemplo, embora
McCain tenha sempre se declarado a favor de deixar a regulamentação de casamentos entre
pessoas do mesmo sexo para os
Estados, 43% dos delegados republicanos acham que esse tipo
de união deve ser ilegal. Outros
38% aceitam apenas um tipo de
união civil, mas não casamento.
E só 9% se dizem favoráveis a
casamentos gays.
Darwinismo político
Esse tipo de descompasso se
repete em vários outros temas,
de ambiente a aborto. Mas o relevante é que o apoio a McCain
dentro da máquina republicana
não é reduzido por causa dessas
opiniões divergentes. Numa espécie de darwinismo político,
os caciques do partido optaram
pelo caminho que pode eventualmente render mais quatro
anos de poder.
A pesquisa também ajuda a
explicitar as diferenças clássicas entre republicanos e democratas. Enquanto 57% dos delegados do partido de McCain
acreditam que a economia do
país está em condição boa ou
razoável, o percentual cai para
2% quando os entrevistados
são os delegados democratas.
Quando o assunto é criar um
sistema de saúde mais amplo
em troca de um aumento de
impostos, os delegados republicanos se opõem, com apenas
7% dizendo-se favoráveis a essa
mudança. No caso dos democratas, o percentual é de 94%.
Esse tipo de resultado reduz
um pouco a impressão de que
republicanos e democratas sejam quase iguais, análise sempre propagada em parte da mídia durante períodos eleitorais.
O que existe, de fato, é uma clara diferença entre os apoiadores desses dois partidos no nível dos delegados que comparecem às convenções nacionais.
O mito da similaridade entre
as duas principais agremiações
partidárias norte-americanos
decorre da forma como é organizada a política no país. E também da dificuldade de um presidente, por força de vontade,
fazer grandes alterações na estrutura nacional quando toma
posse, não importando se é democrata ou republicano.
Para ficar no exemplo mais
evidente, uma emenda constitucional nos EUA precisa de
quórum qualificado (dois terços) dentro do Congresso para
ser aprovada. Mas a dificuldade
maior vem depois: pelo menos
três quartos de todas as Assembléias Legislativas nos 50 Estados também precisam votar e
ratificar o que deputados e senadores aprovaram. Não é por
acaso que a Constituição dos
EUA tem 221 anos de idade e
apenas 27 emendas. Já a brasileira completa 20 anos no mês
que vem e já sofreu 62 emendas
nesse curto período.
(FERNANDO RODRIGUES)
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