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UE põe acordo com a Rússia na geladeira
Diálogo sobre renovação de tratado de cooperação só será retomado quando país cumprir todos os pontos de cessar-fogo
Decisão foi tomada em cúpula extraordinária do bloco; dependência de energia russa é obstáculo a sanções mais drásticas
MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A BRUXELAS
A União Européia decidiu
ontem congelar o diálogo em
torno de um novo tratado de
cooperação com a Rússia até
que Moscou retire suas tropas
da Geórgia, mantidas desde os
confrontos travados no mês
passado. O anúncio foi feito na
conclusão da reunião de emergência realizada em Bruxelas
para discutir a crise no Cáucaso, na qual mais uma vez o bloco europeu mostrou divisões
em matéria de política externa.
Na declaração final, os líderes europeus evitaram falar em
sanções ou estabelecer prazos
para que a Rússia cumpra o
acordo de cessar-fogo mediado
pela UE, mas advertiram que as
relações com Moscou estão em
uma "encruzilhada". Classificaram de "inaceitável" o reconhecimento por Moscou da independência da Ossétia do Sul
e da Abkházia, que consideram
uma violação da integridade
territorial da Geórgia.
Preocupados em não isolar a
Rússia e com as repercussões
econômicas de um possível
rompimento, países como a
França, que ocupa atualmente
a presidência da UE, a Itália e a
Alemanha, defenderam a manutenção do diálogo com o
Kremlin, enquanto o Reino
Unido e países da antiga esfera
comunista preferiam dar um
recado mais duro.
Ficou decidido que uma missão européia encabeçada pelo
presidente francês, Nicolas
Sarkozy, irá a Moscou na próxima segunda-feira. O objetivo é
discutir o cumprimento do plano de seis pontos negociado
por Sarkozy no mês passado
para colocar um fim aos confrontos entre Rússia e Geórgia.
"A UE deseja uma parceria
real com a Rússia, mas é necessária cooperação de ambos os
lados", disse Sarkozy. Segundo
ele, as ações do Kremlin levaram a UE a "reexaminar" as relações com a Rússia.
"O comportamento da Rússia nas últimas semanas, sua
reação desproporcional e o reconhecimento das duas entidades que declararam independência causaram considerável
preocupação na Europa." A
Rússia invadiu a Geórgia em 8
de agosto, um dia após tropas
georgianas iniciarem uma
ofensiva para recuperar o controle da região separatista da
Ossétia do Sul.
Sem isolamento
Para a chanceler (premiê) da
Alemanha, Angela Merkel, era
importante enviar a mensagem
de que o diálogo continua aberto e evitar o isolamento da Rússia. "Esperamos a aplicação
completa do plano negociado
pela UE", disse Merkel. "Por isso adiamos, não suspendemos,
as reuniões para a obtenção do
acordo. Elas serão retomadas
quando o plano for aplicado."
O Acordo de Parceria e Cooperação (PCA, na sigla em inglês), que entrou em vigor em
1997, tinha como objetivo aproximar a Rússia e a UE através
da intensificação de laços políticos e comerciais e de princípios como direitos humanos.
Expirou no fim do ano passado,
e agora está sujeito a novas negociações para ser renovado.
Não é a primeira vez que o
PCA esbarra em divergências
políticas. Chegou a ser suspenso durante a Guerra da Tchetchênia, e o início das negociações para sua renovação foi
adiado durante meses por objeção da Polônia e da Lituânia.
Sarkozy afirmou que a cúpula de ontem, a primeira reunião
extraordinária do Conselho
Europeu desde fevereiro de
2003, véspera da Guerra do Iraque, não foi direcionada contra
a Rússia, mas teve o objetivo de
manifestar apoio à Geórgia.
Mas mandou um recado às autoridades russas. "Acabou a era
das áreas de influência", disse.
O presidente francês disse
que a UE vai reforçar os laços
com a Geórgia, com o fortalecimento do comércio e a facilitação de vistos de entrada na UE.
Afirmou ainda que é preciso
reavaliar a dependência energética da UE em relação à Rússia, que fornece 40% do petróleo e gás consumidos na Europa. "Precisamos repensar essa
dependência não só do ponto
de vista geográfico, mas em termos de fontes alternativas."
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