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Colômbia resgata Ingrid e mais 14 reféns
Exército se infiltrou nas Farc e conseguiu efetuar libertação sem disparar nenhum tiro
Além de presa-símbolo de guerrilha, 3 americanos e 11 militares foram resgatados
Ex-candidata relata que só soube que estava salva já no helicóptero que os resgatou; "Somos o Exército, vocês estão livres", bradou soldado
Rodrigo Arangua/France Presse
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Livre, Ingrid Betancourt chega a base aérea em Bogotá após resgate
DA REDAÇÃO
O Exército colombiano resgatou ontem a ex-candidata
presidencial Ingrid Betancourt
e outros 14 reféns das Farc
(Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), entre eles
três norte-americanos.
Ingrid estava em poder das
Farc desde 23 de fevereiro de
2002 e era uma espécie de símbolo dos reféns da guerrilha,
tendo motivado marchas ao redor do mundo e gestões de diferentes chefes de Estado em
prol de sua soltura.
O anúncio da libertação de
Ingrid e dos demais foi feito pelo ministro da Defesa, Juan
Manuel Santos, por volta das
14h10 de ontem (16h10 de Brasília). "Foram resgatados sãos e
salvos 15 dos seqüestrados das
Farc. Entre eles estão Ingrid
Betancourt, os três cidadãos
norte-americanos e 11 membros de nossa força pública."
Para o presidente Álvaro Uribe, que falaria somente no final
da noite, o feito foi comparável
às "maiores epopéias da humanidade". "A operação teve a luz
do Espírito Santo e a proteção
de Nosso Senhor e da Virgem
em todas as suas expressões",
disse Uribe durante um encontro com bispos colombianos.
O resgate, ocorrido a cerca de
70 km ao sul da cidade de San
José de Guaviare (no departamento de Guaviare, centro do
país), foi fruto de uma operação
de inteligência do Exército colombiano e ocorreu sem o disparo de nenhum tiro.
De acordo com Santos, os
serviços de inteligência do
Exército conseguiram se infiltrar nas Farc. "Como os seqüestrados estavam divididos em
três grupos, conseguimos que
eles fossem reunidos num só
lugar e fosse permitido seu
transporte ao sul do país para
que supostamente passassem
às ordens de Alfonso Cano
[chefe da guerrilha]."
"Coordenamos para que os
seqüestrados fossem recolhidos num local predeterminado
por um helicóptero de uma organização fictícia", continuou.
Só que o helicóptero, explicou
Santos, na realidade era do
Exército, tripulado por pessoal
da inteligência, e voou para San
José de Guaviare.
Nas palavras do ministro de
Interior e Justiça, Fabio Valencia, "nem em filme poderíamos
imaginar o Exército enganando
as Farc".
"César" e engano
A própria Ingrid, que se reuniu com a mãe e o marido em
uma base militar em Bogotá no
fim da tarde de ontem, deu detalhes da libertação. Segundo
ela, alguns dos militares que se
fizeram passar por guerrilheiros usavam camisas com imagens de Che Guevara. "Eles falavam como guerrilheiros e se
vestiam como tais."
Segundo a ex-candidata, nem
ela nem os guerrilheiros reais
suspeitaram da operação. O
responsável permanente pela
escolta dos seqüestrados era
Gerardo Aguilar Ramírez, cujo
codinome é César, chefe da
Frente 1, uma das unidades
mais importantes das Farc. Especialistas acreditam que ele
foi cooptado pelos militares.
Os reféns só souberam do
resgate dentro do helicóptero,
quando um dos militares disfarçados gritou: "Somos o Exército da Colômbia, vocês estão
livres", contou ela. Ingrid qualificou seu resgate de "golpe fulminante" para as Farc e disse
ver a guerrilha enfraquecida.
O resgate de ontem é o mais
duro entre os recentes golpes
sofridos pelas Farc, mais antiga
guerrilha em ação na América
Latina. Em março, o Exército
colombiano atacou um acampamento do grupo no Equador,
matando o número dois da organização, Raúl Reyes. Dias depois, também do secretariado
da guerrilha, Ivan Ríos foi morto por seu guarda-costas.
Dois meses depois, o governo
anunciou a morte do cabeça da
guerrilha, Manuel Marulanda,
o Tirofijo. As Farc dizem que as
causas foram naturais, mas Bogotá insinuou que seria resultado de suas ações militares.
Uribe foi alvo de intensas críticas e pressões internacionais
para que aceitasse as exigências
das Farc para a libertação de reféns -a principal delas era a
desmilitarização dos municípios de Pradera e Florida (oeste). Mas resistiu e continuou a
apostar nas ações militares.
Outros libertados
Além de Ingrid, foram libertados os norte-americanos
Thomas Howes, Keith Stansell
e Marc Gonsalves, seqüestrados em 2003. Eles trabalhavam
para uma firma contratada pelo
Departamento de Defesa.
Horas antes do resgate, o
candidato republicano à Presidência dos EUA, John McCain,
em visita à Colômbia, pedira
que o governo seguisse em seu
empenho para libertar os americanos. Depois da operação
bem-sucedida, McCain informou em nota que fora avisado
na véspera por Uribe do que
aconteceria. "Estou agradecido
com o êxito dessa operação de
muito alto risco", disse.
Críticos também acusaram
Uribe, no passado, de não se
empenhar pela libertação de
Ingrid porque ela seria a única
pessoa que poderia ameaçá-lo
nas urnas.
24 ainda cativos
Com o resgate, restam agora
em poder das Farc 24 reféns
políticos -aqueles que são alvo
de barganha com o governo da
guerrilha, que quer soltar cerca
de 500 guerrilheiros presos.
Santos anunciou que Bogotá
continuará empenhada pelos
demais reféns, mas apelou às
Farc para que os entreguem pacificamente.
"Uma vez mais fazemos um
chamado aos novos líderes das
Farc para que deponham armas, não se façam matar nem
sacrifiquem seus homens, se
desmobilizem. O governo reitera que, se querem negociar a sério e de boa-fé, oferecemo-lhes
uma paz digna", declarou.
Com agências internacionais
Leia o comunicado de Bogotá com a lista de libertados
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