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Refém virou causa nacional para franceses
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
A passeata do Primeiro de
Maio, no ano passado em Paris, foi enfeitada por cartazes
pendurados nas sacadas dos
apartamentos com fotos de
Ingrid Betancourt. Para os
franceses, ela não era apenas
uma refém da guerrilha colombiana. Tornou-se uma
grande causa nacional.
Num país dividido ao meio
com relação a qualquer assunto, funcionavam com rara unanimidade 52 comissões regionais pela libertação da refém. O nome dela
era lembrado em concertos
de rock, em feiras de livros,
em colóquios universitários.
O fato de dois presidentes
-Jacques Chirac e Nicolas
Sarkozy- terem se empenhado em sua soltura é apenas o reflexo de um sentimento difuso, que misturava
solidariedade ao patriotismo
ferido. Afinal, "uma das nossas" sofria como cativa dos
narcoguerrilheiros.
Ao ser eleito, em maio do
ano passado, Sarkozy lembrou Ingrid Betancourt já
em seu primeiro discurso. Se
Chirac não conseguiu libertá-la, ele o faria. Não que Chirac se imobilizasse. Ele até
correu o risco de abrir grave
conflito diplomático com o
Brasil, ao enviar, sem comunicação prévia, um Hércules
C-130, que em julho de 2003
pousou em Manaus para levar a ex-senadora presumivelmente libertada.
Para Sarkozy, Ingrid Betancourt virou uma obsessão. Ele abordou sua libertação com o papa Bento 16, esforçou-se para mencioná-la
no comunicado final de reunião do G-8, os países mais
industrializados. Fez dela
também uma causa da União
Européia, mesmo se nos 26
demais países do bloco ela
não despertasse a mesma
carga emocional.
O presidente francês chegou a gravar mensagem às lideranças das Farc, dizendo-lhes que elas tinham "um encontro marcado com a história" e que, para não perdê-lo,
seria preciso libertar a ex-senadora e os reféns com a saúde mais debilitada.
Em termos diplomáticos,
Sarkozy descarregou todos
os seus cartuchos. Pediu a intermediação de Lula e de
Chávez. Evitou atropelar o
presidente da Colômbia, Álvaro Uribe. Mas emissários
franceses chegaram a negociar com a guerrilha.
Em abril último a França
enviou a Bogotá um avião
com médicos, na esperança
de que as Farc se condoessem e entregassem a ex-candidata presidencial colombiana. E mais uma vez um
avião voltou à sua base francesa sem transportar a
aguardada passageira.
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