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Para analista, resgate é marco que pode deter internacionalização do conflito
ADRIANA KÜCHLER
DE BUENOS AIRES
O resgate de Ingrid Betancourt prova que a Colômbia pode resolver seus problemas sozinha, "sem a ingerência dos
EUA, sem a intromissão do
[presidente venezuelano] Hugo Chávez".
É isso que afirma o argentino
Juan Gabriel Tokatlián, diretor
de relações internacionais da
Universidade de San Andrés e
especialista em Colômbia e
América Latina.
No entanto o acadêmico
aponta os EUA e sua política de
constante apoio à Colômbia como um dos vencedores desse
capítulo do conflito com a guerrilha, que também mostra "a
debilitação das Farc e o começo
do seu ocaso".
FOLHA - O que representa o resgate de Betancourt para o conflito?
JUAN GABRIEL TOKATLIÁN - O fato
fortalece o presidente [da Colômbia, Álvaro] Uribe, e sua política de segurança e mostra
que talvez agora a Colômbia
possa resolver seus problemas
sozinha, sem a ingerência dos
EUA, sem a intromissão de Hugo Chávez e a interferência de
outros países.
FOLHA - A atenção de outros países
não contribuiu para esse desenlace?
TOKATLIÁN - Acho que a liberação de Ingrid é importante para
que se possa pôr limite à internacionalização do conflito, que
estava se tornando um problema. A atenção de outros países
serviu para mostrar o drama
colombiano, mas as soluções
para o conflito são internas, e
esse é o maior exemplo.
FOLHA - Quem ganha e quem perde com essa notícia?
TOKATLIÁN - Ganham Uribe, a
sociedade colombiana e a política de Washington, de apoio
permanente ao país. Perdem as
Farc, os grupos armados com
quem têm vínculos e seus sócios políticos.
Quem não ganha nem perde
é o narcotráfico, que sempre se
mantém. Apesar de todas essas
ações, segundo um informe das
Nações Unidas, os cultivos ilegais cresceram 27% na Colômbia no ano passado.
FOLHA - Como será o futuro das
Farc?
TOKATLIÁN - O resgate de Ingrid
é o fato político, militar e simbólico recente mais importante
nesse conflito armado. Mostra
a debilitação das Farc e o começo do seu ocaso. Agora, há duas
alternativas. Uma é que o grupo
sofra uma debandada geral, que
se frature cada vez mais com a
perda de suas lideranças centrais. Outra é que o novo líder,
Alfonso Cano, como um chefe
mais jovem, busque reagrupar
a guerrilha para, não agora, mas
no futuro, poder negociar em
melhores condições -a fim de
que a seqüência de derrotas militares não se transforme em
uma derrota política.
FOLHA - O resgate favorece o futuro político do presidente Uribe?
TOKATLIÁN - Neste momento, o
melhor para Uribe e para a
América Latina é que ele sinta
que sua tarefa está cumprida e
não apele para medidas inconstitucionais para se "reeleger".
Que ele assuma: "Conquistei o
meu objetivo".
O processo que permitiu a
sua reeleição já se mostrou
fraudulento. As reeleições levam a tendências populistas e
messiânicas. E o que nós precisamos na América Latina é de
mais presidentes e de menos
monarcas.
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