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SUCESSÃO NOS EUA / POLÍTICA EXTERNA
Obama quer negociar com Hugo Chávez
Candidato democrata defende ainda liberação de viagens para cubanos e manutenção da Quarta Frota, dizem assessores à Folha
Senador pretende manter tarifa sobre álcool brasileiro
e não se compromete a dar apoio ao Brasil por vaga
permanente no CS da ONU
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Barack Obama pretende sentar-se para negociar com o presidente venezuelano, Hugo
Chávez, quer liberar viagens de
cubanos e seus descendentes
dos EUA para a ilha e vice-versa
e é a favor do envio da Quarta
Frota à América Latina. Ele é
contra a suspensão da tarifa cobrada atualmente sobre o álcool brasileiro e não se compromete com o nome do Brasil
como membro permanente
numa reforma do Conselho de
Segurança da ONU.
Foi isso que a equipe de assessores do candidato democrata à Casa Branca disse à Folha durante teleconferência
ontem à tarde, da qual participaram outros jornalistas. Responderam às questões do jornal o assessor de política externa Denis McDonough e Dan
Restrepo, cotado para ocupar o
lugar de diplomata responsável
pela região num eventual governo Obama. Leia os principais trechos.
FOLHA - Obama apóia o Brasil no
Conselho de Segurança da ONU?
DENIS MCDONOUGH - Barack
acredita numa reforma completa da ONU. Obviamente, na
reforma está incluída uma boa
olhada em quem será ou não
membro [permanente] do
Conselho de Segurança, mas o
senador não se comprometerá
com nomes neste momento.
FOLHA - Ele é a favor da eliminação
da tarifa que os EUA cobram atualmente do álcool brasileiro?
MCDONOUGH - Não neste momento, por uma série de motivos, como o impacto sobre nossa capacidade de desenvolver o
álcool de celulose e de baixa
emissão de carbono a longo
prazo. E isso beneficiará não só
os EUA mas toda a região.
FOLHA - Quando ele pretende visitar a América Latina?
MCDONOUGH - Barack está ansioso para visitar a região tão
logo seja possível. Mas ele acaba de concluir uma fase da campanha que foi muito disputada
e agressiva e agora está envolvido na campanha contra [o republicano John] McCain, de
forma que não está claro quando a viagem ocorrerá.
DAN RESTREPO - Quando Barack
Obama for à América Latina,
levará uma visão que melhorará a relação dos países com os
EUA, que avançará nossos interesses e os interesses que dividimos com a região. Será uma
quebra, uma mudança bem-vinda em relação à viagem que
McCain faz agora [à Colômbia e
ao México] e que Bush fez nos
últimos oito anos.
FOLHA - Quão diferente da atual
será a política de Obama para Cuba
e Venezuela?
RESTREPO - Para Cuba, o senador Obama tem propostas muito claras. A primeira é permitir
que familiares viajem sem restrições em ambos os lados, permitindo assim que cubanos-americanos interajam, funcionem como embaixadores da liberdade e possam ajudar seus
familiares não só moral mas estrategicamente, abrindo espaços e os deixando menos dependentes do regime cubano.
Ele também mandou uma
mensagem clara aos cubanos,
que tomem passos reais e sérios no sentido de abrir espaço
democrático na ilha, começando por libertar os prisioneiros
políticos. Então, e com o tempo, os EUA estarão prontos para trabalhar para normalizar as
relações entre os dois países.
Já em relação à Venezuela, o
mais importante de se lembrar
é a precariedade com que a situação venezuelana foi tratada
pelo governo Bush: a combinação de escalada retórica e a falta
de atenção com o resto da região abriu espaços que Chávez
usou para avançar uma agenda
e uma retórica antiamericana.
Temos de achar formas de lidar com a região nos seus termos e nos termos que são importantes para o povo venezuelano avançar a democracia.
Obama está disposto a se reunir com Hugo Chávez numa
hora e num lugar que Obama
escolher, para fazer avançar os
interesses dos povos venezuelano e americano. Isso por si só
terá o efeito desejado de desarmar Chávez num sentido retórico e não colaborar com uma
falsa confrontação entre Washington e Caracas que serve à
causa de um indivíduo.
FOLHA - Obama apóia a decisão de
Bush de reativar a Quarta Frota?
MCDONOUGH - O senador admite que a importância da região
requer todos os elementos a
nosso alcance para unir mais
profundamente o continente e
para ajudar nossos aliados a encarar desafios em comum. O
uso de nossa Marinha e o aumento da cooperação militar,
do treinamento e da ajuda humanitária [que a frota promoverá, segundo Washington] fazem sentido.
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