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Caso paraguaio é o paradoxo na região
DA REDAÇÃO
A situação do Paraguai é paradoxal em relação aos demais países do Cone Sul a respeito de investigações e reparações aos abusos da ditadura. Mesmo sem uma
lei de anistia para garantir a impunidade dos dirigentes acusados de
abusos, como houve na Argentina, no Uruguai, no Chile e no Brasil, são mínimas as iniciativas para
esclarecer e punir os abusos cometidos durante a ditadura de Alfredo Stroessner (1954-1989).
Não existem dados oficiais, mas
estima-se em algumas dezenas o
número de desaparecidos no período. Além disso, o governo de
Stroessner é acusado por centenas de casos de tortura e pela participação ativa na Operação Condor (sistema de repressão com colaboração mútua entre os regimes
militares de Brasil, Argentina,
Chile, Bolívia, Paraguai e Uruguai, nos anos 70).
Stroessner, 90, que vive exilado
no Brasil desde que foi derrubado, é um dos únicos condenados
por abusos no Paraguai.
"O processo de transição no Paraguai foi um conflito interno
dentro da mesma estrutura de poder -Stroessner foi derrubado
por seu consogro, o general Andrés Rodríguez, pertencente ao
mesmo partido [Colorado, ainda
no poder]-, o que explica em
parte a ausência de iniciativas para investigar os abusos", diz o senador José Nicolás Morinigo, do
País Solidário (centro-esquerda).
Morinigo é ele próprio uma vítima da ditadura Stroessner. Ficou
um ano detido, entre 1977 e 1978,
quando, como líder estudantil,
editava uma revista crítica ao regime, e sofreu torturas psicológicas
e físicas -"choques, golpes nas
plantas dos pés e das mãos e afogamentos", conta.
Outro fator que inibe a pressão
popular por justiça nesse caso é o
fato de a repressão no Paraguai
não ter tido a mesma magnitude
que teve nos países vizinhos. Em
parte isso ocorreu porque
Stroessner mantinha um controle
total do país e sofria poucas contestações políticas.
"Não havia no Paraguai uma estratégia de repressão em massa
contra a oposição. Stroessner usava a repressão em ocasiões especiais, de modo seletivo, para eliminar os inimigos políticos principais e gerar temor na população
em geral", diz Morinigo.
(RW)
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