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RECONSTRUÇÃO
Cabul acusa Islamabad de não fazer o suficiente para conter extremistas islâmicos; paquistaneses refutam acusação
Paquistão alimenta instabilidade afegã
DA REDAÇÃO
A região fronteiriça entre o Afeganistão e o Paquistão, onde podem estar Osama bin Laden, responsável pelo 11 de Setembro, e o
mulá Mohammad Omar, líder espiritual do Taleban, é a maior fonte de instabilidade para o governo
afegão, de acordo com especialistas consultados pela Folha.
"Os membros do Taleban que
se encontram no sul do Afeganistão dispõem de uma base, de uma
retaguarda, nas Províncias da
Fronteira Noroeste e do Baluquistão, no Paquistão. Nos dois casos,
extremistas islâmicos paquistaneses, que não são muito diferentes
dos do Taleban, assumiram o poder em outubro passado", apontou Christophe Jaffrelot, diretor
do Centro de Estudos e de Pesquisas Internacionais (França).
Percebendo o perigo da situação na divisa, tanto o governo
central quanto dirigentes regionais afegãos exortam a comunidade internacional, sobretudo os
EUA, a tomar uma atitude e a
pressionar Islamabad, buscando
evitar que o Taleban consiga se
reagrupar, o que poria em sério
risco a administração do presidente afegão, Hamid Karzai.
O governo paquistanês, por sua
vez, refuta as acusações das autoridades afegãs e sustenta que suas
forças de segurança têm estado
muito ativas na região, expulsando supostos extremistas islâmicos
que cruzam a fronteira.
"Para [Zalmay] Khalilzad [enviado especial dos EUA ao Afeganistão] e para Karzai, a mensagem é clara: o Paquistão tem de
fazer mais para conter os extremistas islâmicos, chegando até a
prender líderes do Taleban que,
por ventura, planejam ataques de
dentro do território paquistanês",
indicou Atiq Rahimi, escritor e cineasta afegão, que vive na França.
Nas remotas áreas tribais afegãs,
separar a realidade da ficção não é
tarefa fácil. Porém dois fatos são
incontestáveis. Primeiro, centenas de membros do Taleban,
muitas vezes armados e bem
equipados, cruzam a fronteira
-de 2.450 km- de ambos os lados e atacam alvos afegãos.
Segundo, é extremamente complexo pôr fim a essas atividades.
Mesmo as poderosas forças dos
EUA, que têm seu quartel-general
na base de Bagram, a 30 km de
Cabul, e realizam constantes missões na região, não conseguem
impedir que eles se misturem
com a população local ou se escondam em áreas montanhosas.
"O Paquistão tem o fundamentalismo das escolas religiosas, nas
quais muitos mulás afegãos estudaram, e a solidariedade pashtu.
Essa solidariedade é importante
porque reúne elementos que não
são religiosos nem necessariamente apenas étnicos, já que engloba funcionários do governo,
intelectuais etc.", analisou Olivier
Roy, também do Centro de Estudos e de Pesquisas Internacionais.
Ademais, o extremismo islâmico e as atividades terroristas brotam da mesma fonte. "Nas madrassas [escolas de cultura muçulmana], radicais islâmicos e terroristas interagem, mesmo que
estes não revelem abertamente
seus objetivos", disse Marina Ottaway, do Carnegie Endowment
for International Peace (EUA).
Em visita ao Afeganistão na última quarta-feira, o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas
dos EUA, Richard Myers, disse
que os americanos não abandonariam o Afeganistão. Para Cabul, além da ajudar na reconstrução do país, isso significa exercer
pressão sobre Islamabad.
O Paquistão, que desde o início
da guerra ao terrorismo liderada
pelos EUA vem recebendo vultosas somas de Washington como
recompensa por sua cooperação,
vive, todavia, uma situação delicada. Ao mesmo tempo em que
busca manter boas relações com
os americanos, o presidente Pervez Musharraf não pode correr o
risco de desagradar ao Exército.
"O caso de Musharraf é difícil.
Se pressionar demais os extremistas, será visto pelos militares como títere de Washington e não
conseguirá manter-se no poder.
Porém, se não tomar cuidado,
perderá o apoio dos EUA, o que
também seria fatal para suas aspirações políticas", avaliou Jaffrelot.
(MÁRCIO SENNE DE MORAES)
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