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Crise em Israel pesa sobre negociações de paz
Prazo até o fim do ano para acordo com os palestinos, que já era visto com ceticismo, parece estar enterrado de vez
Provável sucessora de Ehud Olmert na agremiação governista, Tzipi Livni teme que negociação abra flanco a ataques da oposição
BENJAMIN BARTHE
DO "MONDE"
No dia seguinte ao anúncio
da renúncia programada do
primeiro-ministro israelense,
Ehud Olmert, corriam soltas no
Oriente Médio as especulações
sobre o impacto dessa nova crise política sobre o processo de
paz em curso entre Israel e a
Autoridade Nacional Palestina.
Para o presidente palestino,
Mahmoud Abbas, que está
apostando sua credibilidade
nessas negociações, a palavra
de ordem é seguir adiante.
"Trabalharemos com qualquer
premiê eleito em Israel e continuaremos com Ehud Olmert
até a chegada de seu sucessor."
Olmert lhe respondeu desde
Jerusalém em tom igualmente
voluntarista. "Não abandonarei minhas tentativas de negociar com os palestinos para
chegarmos a um resultado que
possa nos dar esperança."
Em um sinal dessa vontade
de normalidade, a secretária de
Estado norte-americana, Condoleezza Rice, deverá viajar à
região em 20 de agosto para
reunir-se com os negociadores,
que pretendem levar adiante
suas reuniões quase semanais
em Jerusalém. E a tática do
"business as usual" pode ainda
se prolongar para muito além
das primárias do partido Kadima, em 17 de setembro. Olmert deixará seu cargo
nessa data. As sutilezas do parlamentarismo israelense prevêem que ele continue à frente
de um governo de transição. Na
hipótese provável de que seu
sucessor na direção do Kadima
tenha dificuldade em formar
uma coalizão, seu interinato
poderá durar até o final do ano
-precisamente o prazo estabelecido na conferência de Anápolis (EUA), em 2007, para um
acordo de paz com a ANP.
Sem ilusões
Entretanto, esse desejo de
seguir adiante não engana ninguém. Privado de legitimidade,
Olmert parece mais incapaz do
que nunca de jogar por terra os
tabus israelenses que entravam
a assinatura de um acordo.
"Quem vai querer fechar um
pacto com ele, sabendo que ele
não terá como implementá-lo?" indaga o cientista político
Gadi Wolfsfeld, da Universidade Hebraica de Jerusalém. A
ministra das Relações Exteriores, Tzipi Livni, vista como favorita na disputa pela direção
do Kadima, parece avessa a selar um acordo com os palestinos que, na hipótese de serem
convocadas eleições antecipadas, poderia ser usado contra
ela por seus rivais de direita.
Assim, enquanto o sucessor
de Olmert não estiver instalado
no poder, as negociações estarão fadadas a patinar. É uma
constatação que não abala os
palestinos, convencidos de que
as negociações realizadas desde
Anápolis não passam de enganação. "Nunca houve processo
de paz", afirma Hani al Masri,
editorialista do jornal pan-árabe "Al Hayat". "Tudo o que estamos vendo há seis meses são
mais assentamentos, mais muro e mais incursões militares.
As negociações vêm servindo
apenas para mascarar os fatos
consumados israelenses. A saída de Olmert é tudo, menos
uma perda."
Tradução de CLARA ALLAIN
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