São Paulo, domingo, 03 de agosto de 2008

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Crise em Israel pesa sobre negociações de paz

Prazo até o fim do ano para acordo com os palestinos, que já era visto com ceticismo, parece estar enterrado de vez

Provável sucessora de Ehud Olmert na agremiação governista, Tzipi Livni teme que negociação abra flanco a ataques da oposição

BENJAMIN BARTHE
DO "MONDE"

No dia seguinte ao anúncio da renúncia programada do primeiro-ministro israelense, Ehud Olmert, corriam soltas no Oriente Médio as especulações sobre o impacto dessa nova crise política sobre o processo de paz em curso entre Israel e a Autoridade Nacional Palestina. Para o presidente palestino, Mahmoud Abbas, que está apostando sua credibilidade nessas negociações, a palavra de ordem é seguir adiante.
"Trabalharemos com qualquer premiê eleito em Israel e continuaremos com Ehud Olmert até a chegada de seu sucessor."
Olmert lhe respondeu desde Jerusalém em tom igualmente voluntarista. "Não abandonarei minhas tentativas de negociar com os palestinos para chegarmos a um resultado que possa nos dar esperança."
Em um sinal dessa vontade de normalidade, a secretária de Estado norte-americana, Condoleezza Rice, deverá viajar à região em 20 de agosto para reunir-se com os negociadores, que pretendem levar adiante suas reuniões quase semanais em Jerusalém. E a tática do "business as usual" pode ainda se prolongar para muito além das primárias do partido Kadima, em 17 de setembro. Olmert deixará seu cargo nessa data. As sutilezas do parlamentarismo israelense prevêem que ele continue à frente de um governo de transição. Na hipótese provável de que seu sucessor na direção do Kadima tenha dificuldade em formar uma coalizão, seu interinato poderá durar até o final do ano -precisamente o prazo estabelecido na conferência de Anápolis (EUA), em 2007, para um acordo de paz com a ANP.

Sem ilusões
Entretanto, esse desejo de seguir adiante não engana ninguém. Privado de legitimidade, Olmert parece mais incapaz do que nunca de jogar por terra os tabus israelenses que entravam a assinatura de um acordo.
"Quem vai querer fechar um pacto com ele, sabendo que ele não terá como implementá-lo?" indaga o cientista político Gadi Wolfsfeld, da Universidade Hebraica de Jerusalém. A ministra das Relações Exteriores, Tzipi Livni, vista como favorita na disputa pela direção do Kadima, parece avessa a selar um acordo com os palestinos que, na hipótese de serem convocadas eleições antecipadas, poderia ser usado contra ela por seus rivais de direita.
Assim, enquanto o sucessor de Olmert não estiver instalado no poder, as negociações estarão fadadas a patinar. É uma constatação que não abala os palestinos, convencidos de que as negociações realizadas desde Anápolis não passam de enganação. "Nunca houve processo de paz", afirma Hani al Masri, editorialista do jornal pan-árabe "Al Hayat". "Tudo o que estamos vendo há seis meses são mais assentamentos, mais muro e mais incursões militares.
As negociações vêm servindo apenas para mascarar os fatos consumados israelenses. A saída de Olmert é tudo, menos uma perda."


Tradução de CLARA ALLAIN


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