São Paulo, quarta-feira, 03 de setembro de 2008

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Rússia diz que assinou um cessar-fogo, e Geórgia, outro

Diplomata diz que versão de acordo assinada por Medvedev prevê permanência de tropas

Segundo embaixador em Bruxelas, Moscou cumpre à risca pontos acertados, e UE faz "erro de interpretação" ao criticar atuação russa

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A BRUXELAS

Rússia e Geórgia assinaram versões diferentes do acordo mediado em nome da União Européia pelo presidente francês, Nicolas Sarkozy, que pôs fim à guerra travada no Cáucaso no mês passado. A afirmação foi feita ontem pelo embaixador da Rússia em Bruxelas, Vladimir Chizhov, que negou que seu país esteja violando o acordo ao manter soldados em território georgiano.
Na segunda-feira, em sua primeira reunião extraordinária desde 2003, os líderes da UE decidiram congelar o diálogo em torno de um acordo de cooperação com Moscou até que o Exército russo cumpra os seis pontos do acordo mediado por Sarkozy e se retire completamente da Geórgia.
Ontem, porém, Chizhov atribuiu as críticas que a Rússia vem sofrendo por não recuar suas tropas à posição do dia 7 de agosto, quando teve início o conflito, a um "erro de interpretação" do acordo.
Segundo ele, há duas versões do texto, uma assinada pela Rússia, e outra pela Geórgia. "Nós cumprimos o plano assinado por Sarkozy e pelo presidente Dmitri Medvedev no dia 12 de agosto por completo", disse Chizhov, afirmando que o acordo inclui "medidas de segurança adicionais", sem entrar em detalhes.
"Espero que a confusão seja esclarecida na visita que o presidente francês fará a Moscou, na próxima segunda-feira."
Chizhov disse que o acordo assinado por Medvedev e que foi registrado nas Nações Unidas incluiu um item prevendo a discussão do futuro status da Ossétia do Sul e Abkházia, as repúblicas separatistas apoiadas por Moscou que estão no centro da crise. Mas a cláusula teria sido suprimida da versão assinada pela Geórgia por exigência do presidente georgiano, Mikhail Saakashvili.
O diplomata afirmou que apenas 500 soldados russos permanecem na zona tampão criada na fronteira com a Ossétia do Sul. Trata-se de uma "força de paz", disse ele, e um de seus objetivos é evitar a chegada de armas pela cidade portuária de Poti. O chefe do Conselho de Segurança da Geórgia, Alexander Lomaia, disse, porém, que 17 mil soldados russos ainda estão em solo georgiano.
"Não temos uma data para a retirada, porque isso vai depender das condições de segurança na região e na chegada de monitores internacionais", disse Chizhov. "Mas claro, eles não ficarão lá para sempre."
Para o diplomata, a decisão da UE de adiar as negociações para a renovação do acordo de cooperação com a Rússia cria uma "associação artificial" com a crise no Cáucaso. "Trata-se de um sinal político incorreto, endereçado ao lado errado", disse Chizhov. Ademais, disse ele, "a UE quer esse acordo tanto quanto a Rússia". A Europa tem na Rússia a sua principal fornecedora de gás e petróleo.


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