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ELEIÇÕES NOS EUA
Yoshi Tsurumi conta que seu notório ex-aluno em Harvard "não prestava atenção em nada" e vivia de ressaca
"No fundão", Bush azucrinava professor
LUCIANA COELHO
DE NOVA YORK
Professores não costumam ter
as lembranças mais felizes da
"turma do fundão", e o caso de
Yoshi Tsurumi não é muito diferente. Bom, exceto por uma coisa.
Seu aluno-problema em Harvard,
31 anos atrás, chegou à Presidência dos EUA. E agora está tentando permanecer lá.
"George Bush... Muito, muito
problemático", balança a cabeça
Tsurumi, que ainda guarda o sotaque japonês apesar de estar nos
EUA há mais de três décadas. Ele
recebeu a Folha nesta semana em
seu escritório, no Baruch College
(City University de Nova York),
para narrar as lembranças da época em que lecionava análise ambiental para administração na
Harvard Business School.
Bush freqüentou a aula de Tsurumi de setembro de 1973 a maio
de 1974, quando tinha 27 anos e
fazia seu MBA. "Ele sentava no
fundo da classe, ficava mascando
chiclete ou tabaco e cuspindo em
um copo de papel, não prestava
atenção em nada", diz o professor, estendendo a lista de problemas. "Ele nunca chegou bêbado
ou chapado, mas era normal vir
de ressaca ou matar aula."
O que incomodava Tsurumi,
porém, não era o comportamento
de Bush ante os estudos nem suas
notas -embora estivesse, diz, entre os 10% piores da classe. O problema eram suas idéias.
"Ele mostrava ignorância e arrogância. E agia como se aquilo
que ele não soubesse ou não conhecesse simplesmente não existisse", afirma o professor.
Nos despropérios que o futuro
presidente disparava em suas aulas, diz Tsurumi, transpareciam
altas doses de preconceito. "Falando uma vez sobre seguridade
social, ele disse que as pessoas
eram pobres porque tinham preguiça de trabalhar."
E havia a aparente obsessão
com o comunismo. "Quando estávamos estudando a Grande Depressão, ele dizia que o New Deal
de Franklin Roosevelt era socialista por prezar os sindicatos e defender os sistema de seguridade
social", enumera. "Quando exibi
"As Vinhas da Ira" para dar aos
alunos uma idéia do que ocorreu
no período, o comentário dele foi
de que era um filme "comuna"."
Tsurumi também endossa a
versão de que Bush, para evitar ir
à Guerra do Vietnã, conseguiu rapidamente um posto na Guarda
Nacional graças aos contatos de
seu pai. O tema foi foco de debate
na mídia americana nos últimos
meses, ainda inconcluso.
"Ele não escondia isso de ninguém, pelo contrário, se vangloriava de suas conexões", relata.
"Perguntei como havia conseguido a vaga, e ele respondeu: "Consegui pelos amigos do meu pai"."
Impressões como essa fizeram
Tsurumi marcar Bush entre os
outros 84 alunos de sua classe. "O
programa em Harvard nos fazia
ter muito contato com os alunos,
e com as idéias de Bush era difícil
ele não chamar a atenção", diz,
num aparente esforço para justificar a precisão de sua memória.
Nas últimas semanas, quando
começou a escrever artigos no
jornal da cidade onde vive, Scarsdale, e a falar com colunistas de
jornal, Tsurumi diz ter se tornado
alvo de uma série de ameaças por
e-mail e telefone. Ele também
acusa a Casa Branca de promover
uma campanha para desacreditá-lo, ao que atribui o fato de seus colegas de Harvard não trazerem à
tona o passado do presidente.
Antes de se despedir da reportagem, o professor alerta. "Não
pense que Bush é burro. Ele é
muito perspicaz. O que eu falo de
ele ter sido um mau aluno tem a
ver com ele ser preguiçoso, desatento, desinformado. Mas não
com ele ser burro."
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