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SAÚDE
Pela primeira vez nos EUA, relatório sobre obesidade infantil tira o foco da vida privada e pede ampla ação da sociedade
Culpa por obesidade é pública, diz relatório
MARIAN BURROS
DO ""NEW YORK TIMES", EM WASHINGTON
Um relatório abrangente sobre
as causas e soluções da obesidade
infantil nos Estados Unidos adotou uma nova abordagem em relação à epidemia. Divulgado na
última quinta-feira por um grupo
de pesquisadores de alto nível, o
relatório, em lugar de focalizar a
responsabilidade pessoal, pede
uma estratégia ampla da sociedade para combater o problema.
Elaboradas pelo Instituto de
Medicina das Academias Nacionais, as propostas incluem a oferta de refeições mais saudáveis em
escolas e restaurantes, mais oportunidades para a prática da educação física em escolas e comunidades, restrições aos anúncios de
televisão voltados às crianças e a
formação de profissionais de saúde e educação de crianças no sentido de ajudá-los a tomar escolhas
melhores.
"Centrar as atenções no ambiente, e não apenas nos indivíduos, representa um avanço", disse Kelly Brownell, diretora do
Centro Yale de Desordens Alimentares e de Peso. "O enfoque
múltiplo adotado pelo comitê, de
modo que a nutrição não seja apenas responsabilidade pessoal, torna-o inovador. Enfrentar forças
tão poderosas quanto a indústria
alimentícia pode ser um desafio
real."
Nos últimos 30 anos, o índice de
obesidade infantil -considerada
um peso que seja 30% ou mais
acima do peso corporal ideal-
triplicou entre crianças de 6 a 11
anos de idade, chegando a mais
de 15%, de acordo com o relatório. Os índices de obesidade dobraram nas crianças que têm 2 a 5
anos de idade, chegando a mais
de 10%, e, no caso da faixa de 12 a
19 anos, a mais de 15%.
Menos resistência
O relatório foi apresentado ao
Congresso na quarta-feira. O senador democrata Tom Harkin
(Iowa), presidente do comitê que
encomendou o relatório em 2002,
disse pensar que as partes polêmicas das recomendações, como as
restrições à publicidade, encontrarão menos resistência hoje do
que quando ele propôs uma legislação semelhante, 25 anos atrás.
""Tenho esperanças de que a situação será diferente hoje, porque
estamos atingindo uma massa
crítica", disse Harkin. "Se contarmos com a liderança correta da
Casa Branca, dos Serviços de Saúde e Humanos e do Departamento de Agricultura, acho que poderemos fazer avanços grandes em
pouco tempo."
Embora apóiem a idéia do relatório, duas associações comerciais do setor alimentício, a Associação Nacional dos Processadores de Alimentos e A associação
dos Produtores de Secos e Molhados dos EUA, pronunciaram-se
contra algumas recomendações.
Os grupos são contra a adoção de
restrições e mensagens negativas.
Os processadores de alimentos
disseram que são contrários à
adoção de critérios nutricionais
nas escolas que rotulariam mais
produtos como alimentos positivos ou negativos.
Em nota à imprensa, o grupo
dos secos e molhados disse que,
para modificar comportamentos,
""teremos que enfatizar mensagens e ferramentas positivas e
motivadoras em toda a sociedade,
e não depender de restrições oficiais ou mensagens negativas".
Mas o comitê de 19 membros
acredita que a indústria alimentícia poderia ser convencida a modificar sua posição à medida que
as normas sociais mudam.
""Estamos numa etapa inicial
desse processo", disse Jeffrey Koplan, vice-presidente de assuntos
relativos a saúde acadêmica na
Universidade Emory, em Atlanta,
e presidente do comitê.
"Acho que precisamos operar
uma revolução em nossa sociedade. O que constatamos no caso de
outras questões de saúde -a
fluoração da água, a adoção de capacetes para andar de bicicleta, o
fumo- é que se desenvolvem
mudanças na sociedade e apenas
depois disso ocorre uma mudança no que é socialmente aceitável", afirmou.
Assim como foram necessárias
décadas para mudar a atitude pública em relação ao cigarro, disse
Koplan, ex-diretor do Centro de
Controle e Prevenção de Doenças,
serão necessárias décadas para
modificar a atitude pública em relação às causas da obesidade.
As recomendações do comitê
são as seguintes:
- A promulgação de critérios
nutricionais que se aplicariam a
todos os alimentos e bebidas servidos nas escolas, e o desenvolvimento de programas para ensinar
educação para a saúde, com a avaliação anual do peso dos alunos.
- Ampliação da atividade física
dos alunos nas escolas para pelo
menos 30 minutos diários.
- Desenvolvimento e adoção voluntária de diretrizes de publicidade e marketing voltados para
crianças.
- Autorização da Comissão Federal de Comércio para monitorar as diretrizes.
- Disponibilidade de mais opções de alimentos e bebidas saudáveis e que incluam informações
nutricionais.
- Programas comunitários para
promover a nutrição e atividades
físicas regulares, com mudanças
no zoneamento para incluir calçadas, ciclovias, parques e playgrounds.
- Disponibilidade de alimentos
saudáveis nas residências; os pais
devem incentivar a atividade física dos filhos e limitar para menos
de duas horas diárias o tempo que
estes passam assistindo à televisão, jogando videogames e usando computadores.
- Criação de uma força-tarefa federal interagências para coordenar as atividades.
Shiriki Kumaniyika, reitor-adjunto de promoção de saúde e
prevenção de doenças na Escola
de Medicina da Universidade da
Pensilvânia, também integrante
do comitê, disse que o problema
não pode ser tratado por partes.
""Para que as recomendações funcionem, é preciso que nenhuma
delas seja removida", disse Kumaniyika.
Tradução de Clara Allain
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