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Eleições americanas devem custar mais de US$ 1 bi
VITOR PAOLOZZI
DA REDAÇÃO
Apesar da nova lei que eliminou
das campanhas o "soft money"
(as contribuições ilimitadas que
podiam ser feitas a partidos e organizações políticas), as eleições
norte-americanas deste ano mais
uma vez baterão recordes de arrecadação. Muitos políticos e analistas acreditam que os grandes financiadores encontrem outras
brechas na lei para doar fortunas
aos candidatos. Donna Brazile, a
chefe da campanha de Al Gore à
Presidência em 2000, estima que o
custo das disputas eleitorais para
governos de Estados, Congresso e
Presidência deva passar a marca
de US$ 1 bilhão. Leia a seguir trechos da entrevista que Brazile
concedeu à Folha.
Folha - Os republicanos sempre
arrecadam mais. Até que ponto isso atrapalha os democratas?
Donna Brazile - Os republicanos
chegam a todas as eleições com
mais dinheiro e melhor posição
nas pesquisas. Acho que os democratas podem reduzir a vantagem
financeira dos republicanos. Nós
conseguimos em 2000. A arrecadação da chapa Bush-Cheney foi
mais de US$ 100 milhões superior
à nossa e ainda assim tivemos
mais votos. O que os democratas
devem fazer é arrecadar o suficiente para conseguir os seus votos e não se preocupar com quanto os republicanos tiverem.
Folha - Quanto será gasto nas
próximas eleições?
Brazile - Os dois candidatos vão
receber cerca de US$ 70 milhões
depois de terem suas candidaturas oficializadas. Isso é uma verba
pública. Mas os dois partidos vão
arrecadar mais de US$ 100 milhões. E ainda há o que chamamos aqui de organizações aliadas
que formarão comitês para arrecadar outras centenas de milhões
de dólares. No final, os EUA terão
gastado provavelmente mais de
US$ 1 bilhão nas eleições para
presidente, Congresso e governos
estaduais em 2004. Cerca de metade disso irá exclusivamente para a eleição presidencial.
Folha - O cineasta Michael Moore
disse que os candidatos democratas deveriam parar de agir como
bananas. A sra. concorda?
Brazile - Acho que os candidatos
democratas estão muito bem,
diante das condições atuais. Durante todo o ano eles mantiveram
o presidente Bush na casa dos
50% nas pesquisas nacionais de
opinião sobre a reeleição.
Folha - Quais os pontos fortes e
fracos de Howard Dean?
Brazile - Como candidato, Dean
tem sido consistente sobre a guerra. Ele está realmente conseguindo engajar os cidadãos comuns
no processo político. Ele representa os democratas que sentem
que o partido precisa reagir. Mas
Dean precisa demonstrar que pode ampliar a coalizão que conseguiu montar, que pode construir
um exército capaz de enfrentar o
presidente Bush.
Folha - Que estratégia os democratas devem adotar contra Bush?
Brazile - Primeiro, eles devem
defender seus próprios temas e
princípios e somente depois combater Bush. Vai ser uma eleição
bastante apertada, e a única maneira de os democratas vencerem
uma disputa que a maioria dos
analistas vê como bastante similar
à de 2000 é sair e atrair as bases,
inclusive aqueles que não costumam votar.
Folha - Se a sra. trabalhasse para
os republicanos, o que faria?
Brazile - Faria uma campanha
baseada na redução de impostos,
como aconteceu em 2002. Os republicanos ganharam eleições falando de impostos e guerra. É a
maneira pela qual podem convencer os eleitores de que deram o
impulso necessário à economia
para tirar o país da recessão.
Folha - O que os democratas podem fazer se o governo americano
sincronizar o julgamento de Saddam Hussein com as eleições?
Brazile - A luta vai ser sobre isso.
Acho que campanhas devem ser
diálogos sobre temas e eventos do
futuro, não apenas do passado.
Acho que temos uma grande
oportunidade em 2004. É um ano
importante para os democratas
enfatizarem suas diferenças em
relação aos republicanos, à abordagem deles quanto ao governo e
à liderança americana no mundo.
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