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Escolas também são meio para controle político
ESPECIAL PARA A FOLHA
Ao lado da saúde, a educação é uma das glórias do regime castrista: quase toda a
população sabe ler e escrever, e todas as crianças vão à
escola, que é obrigatória até
o final do ensino médio. Se a
massificação do ensino em
todos os níveis atesta a integração de setores sociais outrora excluídos, a escola
também se tornou um terreno privilegiado para a formação do chamado "homem novo".
A cada manhã, os pioneiros (alunos do ensino fundamental) exclamam, com a
mão no coração: "Pioneiros
do comunismo, nós seremos
como Che". E, não importa
que idade tenham, as "mobilizações" -trabalho "voluntário" na agricultura, treinamento de combate- se tornaram tão importantes
quanto a formação teórica.
O decreto-lei 43, de março
de 1980, ameaça de expulsão
aqueles que "difamarem ou
criticarem a Revolução". O
sistema escolar serve de vetor das diretrizes oficiais e é
uma forma de controle da
população. Os governantes
usam os professores para
afastar os alunos de uma
eventual influência "contra-revolucionária" dos seus
pais. Estigmatizam em classe
a fé religiosa e fazem perguntas sobre os mais recentes
discursos de Fidel.
A "ficha cumulativa do estudante" contém comentários dos professores sobre as
notas obtidas, mas também
sobre a personalidade e, sobretudo, sobre a "educação
ideológica, política e moral".
A escolha da carreira fica
sujeita à conduta política.
Aos "verdadeiros" revolucionários é facilitado o acesso ao direito, às ciências políticas e sociais ou ao jornalismo; aos revolucionários
"médios", são destinadas a
agronomia e a engenharia
mecânica, e aos "apáticos", a
menos que tenham parentes
ou amigos importantes, fica
vedada a universidade.
No momento, o interesse
dos jovens revolucionários
do "pátria ou morte" se dirige principalmente aos setores dolarizados da economia, porque as carreiras preferidas pelo regime perderam importância depois da
instauração do "período especial" (crise após o colapso
da URSS), em 1990.
Os professores sofreram
grande queda em seu nível
de vida e, cansados de lutar,
optaram em massa por mudar de área, com a migração
para o turismo ou venda de
presentes no mercado negro. A maioria dos professores universitários mais conhecidos se expatriou.
Paralelamente, as escolas
passaram por severa degradação nos últimos 15 anos.
As reformas feitas nas férias
de verão de 2002 e 2003 mal
dissimulam a decadência
das construções.
Professores "emergentes"
formados às pressas estão
dando aulas. Lola, professora "de história universal" aos
18 anos, improvisa algumas
explicações sobre o Alcorão,
"que Moisés pregou, muito
tempo atrás". Quanto a Félix, 19, professor de português, ele no máximo fala
muito bem o portunhol.
Fidel Castro optou por demonstrar ainda uma vez que
o regime assegura educação
e dignidade para seu povo, e
uma de suas obsessões
atuais é criar cursos "remunerados" (pelo equivalente a
US$ 6 mensais), os primeiros dos quais foram instalados em 2002 -para todos os
cubanos inativos, delinquentes ou donas-de-casa.
Os "professores emergentes" têm futuro.
(VB)
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