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DIPLOMACIA
Prisões minam estratégia de ajudar oposição anti-Fidel, mas exilados se dividem sobre qual deve ser a resposta americana
Repressão cubana embaralha ação dos EUA
ROBERTO DIAS
DE NOVA YORK
A ofensiva do regime cubano
contra seus dissidentes caminha
rapidamente para se tornar um
problema para a Casa Branca.
Segundo analistas, a situação
para o governo de George W.
Bush ficou mais confusa após Fidel Castro ter ordenado, no mês
passado, o maior ataque em décadas contra seus opositores.
As ações do regime cubano incluíram a execução de três acusados de sequestrar uma lancha para fugir da ilha e a prisão de 75 dissidentes, que foram julgados e
condenados a penas de até 28
anos. Fidel diz que precisou combater uma tentativa dos EUA de
derrubá-lo. Na semana passada,
acusou a CIA de tentar matá-lo.
"É um retrocesso incrível, diminui o esforço dentro dos EUA no
sentido de acabar com as sanções
e coloca os EUA numa situação
muito difícil", diz Brian Alexander, que sabe bem do que fala: até
o mês passado, era diretor-executivo da Cuba Policy Foundation,
entidade de lobby no Congresso
contra o embargo americano a
Cuba vigente há 40 anos. Toda a
diretoria da entidade renunciou
em protesto contra Fidel.
Alexander funcionava como
braço operacional de uma corrente que defendia a ampliação dos
laços com a ilha. A tese é a seguinte: a queda do regime cubano deve ser feita de forma moderada,
com aumento do fluxo de dinheiro para a ilha (como ocorre nas
remessas dos exilados, que já chegam a US$ 1 bilhão) e livre trânsito de americanos (com os populares vôos charters saídos dos
EUA).
Para esse grupo, os dissidentes
dentro da ilha são um núcleo a ser
alimentado pelos EUA. Isso era
feito por Washington, que enviou
representantes para encontrar
pessoas que agora foram presas.
"É uma estratégia muito importante do Departamento de Estado", disse Walter Mead, do Council on Foreign Relations.
O problema dos EUA é justamente o que fazer agora com o
núcleo dissidente interno, já que
boa parte está na prisão. É nesse
espaço que pode florescer a linha-dura dentro dos EUA, historicamente defendida pelos cubanos
exilados na Flórida, de não confiar em rebeldes internos.
A equação não é tão simples,
porém, por causa da mudança de
opinião entre os exilados, para a
qual chama a atenção Susan Purcell, vice-presidente da Americas
Society. "Uma maioria significativa agora quer se engajar com os
cubanos na ilha. Não há opções
para fazer algo diferente", diz.
O caminho para a Casa Branca
fica ainda mais escorregadio por
causa de um evento marcado para
o ano que vem para o qual, a história recente mostra, a Flórida é
vital: a eleição presidencial.
"Cuba é um assunto de política
externa de baixa prioridade, mas
é um tema de alta prioridade na
política doméstica", diz William
Rogers, secretário-assistente de
Estado dos EUA no governo
Jimmy Carter (1977-1981). "Temos visto como a Flórida tem sido importante para as votações e
como as visões sobre Cuba influenciam isso", afirma ele.
Além disso, a Casa Branca ainda
tem de decidir como encaixar na
crise cubana ao menos duas importantes políticas suas.
A primeira é a nova doutrina de
segurança nacional, que pode se
confrontar com uma estratégia já
usada por Fidel: provocar a emigração em massa de cubanos, pelo mar, até a Flórida. "Ele gostaria
de fazer isso de novo, livrar-se dos
dissidentes", diz Brian Latell, diretor do Centro para Estudos Estratégicos Internacionais. Só que,
afirma Purcell, tal opção acabou.
"Os EUA podem alegar ameaça à
segurança nacional. Ele não sabe
se os EUA iriam agir ou não", diz.
Outro problema reside no distanciamento de Washington em
relação à América Latina, o que
dificulta o apoio na política para
Cuba. Em votação recente sobre
direitos humanos na ONU, os
principais países da região ficaram contra a opinião dos EUA.
Sem apoio diplomático, com os
exilados divididos e uma eleição
pela frente, pouco haveria a fazer
além de coisas singelas, como fortalecer a propaganda na ilha, simbolizada pela Radio Marti.
Se Bush tiver uma carta na manga, poderá mostrá-la no próximo
dia 20, quando a independência
cubana é comemorada -nos
dois últimos anos, ele usou a data
para falar sobre o regime.
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