|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
EPIDEMIA
De posse do genoma do vírus, pesquisadores correm para descobrir a imunização, enquanto antivirais falham
Cientista prevê vacina anti-Sars em 18 meses
CLAUDIO ANGELO
EDITOR-ASSISTENTE DE CIÊNCIA
Ele é um vírus inteiramente novo, de origem desconhecida, que
mata de 3% a 10% de suas vítimas
e se propaga com uma rapidez assustadora. Essa é a parte ruim da
história. A boa é que o causador
da pneumonia asiática pode ser
contido com eficiência. E a busca
de uma vacina já começou.
Segundo a infectologista canadense Caroline Astell, que ajudou
a sequenciar o genoma do coronavírus que provoca a Sars (síndrome respiratória aguda grave) e
que trabalha no desenvolvimento
de uma imunização contra o parasita, a primeira vacina deve estar disponível em "no mínimo 18
meses". "Uma vez que existem
vacinas eficientes contra coronavírus de animais, temos todas as
razões para crer que uma vacina
contra a Sars pode ser desenvolvida", disse Astell à Folha.
Segundo a pesquisadora canadense, a imunização é a única forma de combater o vírus na China
continental, país de origem da
epidemia e no qual o número de
casos ultrapassa 3.800.
Outro motivo pelo qual os pesquisadores apostam numa vacina
é o fato de que a eficiência de drogas antivirais costuma ser baixa
-e a mais promissora delas tem
mostrado resultados divergentes.
Como só estão vivos quando infectam uma célula, os vírus só podem ser combatidos de dois jeitos: pelo próprio sistema imunológico da vítima ou por medicamentos que bloqueiem uma etapa
da sua replicação (antibióticos
não funcionam contra eles). A vacina treina a defesa do corpo a reconhecer o invasor e atacá-lo.
Quando a Sars começou a fazer
vítimas em Hong Kong e no Canadá, alguns pacientes foram tratados com sucesso com ribavirina, uma droga que sabota a replicação do vírus inibindo uma de
suas proteínas, a polimerase.
"O problema é que a ribavirina
não teve efeito nenhum sobre o
vírus in vitro [no laboratório"",
afirmou o infectologista Marco
Marra, que coordenou o genoma
do vírus no Canadá.
Nos EUA, os CDC (Centros para Controle e Prevenção de Doenças) e o Niaid (Instituto Nacional
de Alergia e Doenças Infecciosas)
já estão iniciando contatos com as
empresas GlaxoSmithKline e
GenVec produzir uma vacina. Segundo a revista "The Scientist", o
Niaid já está usando dados da sequência genética do vírus para
criar uma imunização.
Enquanto isso, o mundo tenta
conter o vírus como pode. A biotecnologia e a estruturação da Organização Mundial da Saúde já
evitaram um desastre maior.
"No começo dos anos 80, levou
dois anos para identificar o HIV
como causador da Aids", afirma o
editorial de ontem da revista médica "The Lancet". "A OMS criou
uma rede de laboratórios que
identificou o vírus associado com
a Sars em duas semanas."
As medidas de contenção tradicionais também parecem estar
dando resultado. Um estudo de
Hong Kong, publicado também
ontem na "The Lancet", mostra
que quatro medidas simples -lavar as mãos, usar luvas, máscara e
avental- evitou que 69 de 241
funcionários de hospitais estudados contraíssem a doença. Todos
os infectados omitiram pelo menos um desses cuidados.
Um modelo matemático desenvolvido com base em dados de
Hong Kong e do Canadá pelos
brasileiros Eduardo Massad e
Marcelo Burattini, da Faculdade
de Medicina da USP, mostra que
o impacto dessas medidas pode
ser ainda maior.
"Sem medidas de controle,
Hong Kong teria 320 mil casos em
150 dias de epidemia, e o Canadá,
36.900 casos. Com o controle, a
projeção cai para 1.820 em Hong
Kong e para 150 no Canadá", disse
Burattini à Folha.
Segundo ele, isso sugere que a
forma de transmissão da Sars é a
mesma do resfriado comum.
"Mandamos o estudo para publicação na semana passada e dissemos que o controle da epidemia
estava próximo na duas regiões."
Texto Anterior: Tensão com os EUA ajuda Fidel, diz exilado Próximo Texto: China registra mais 9 mortes e 180 novos casos Índice
|