São Paulo, quinta-feira, 04 de setembro de 2008

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Republicanos focam debate na personalidade dos candidatos

DO "FINANCIAL TIMES"

Os republicanos deixaram claro, em St. Paul, que querem fazer do caráter de John McCain o cerne do debate. Democrata vs. republicano, mídia de massa vs. gente comum, cerebral vs. visceral são divisões que serviram bem aos republicanos ao longo dos anos. Ao aceitar a candidatura, hoje à noite, McCain provavelmente seguirá nessa linha de ataque. A escolha proposta é: vocês querem eleger um elitista de ar professoral com excesso de diplomas ou preferem um patriota apaixonado cujos princípios sobreviveram até à tortura? Há paralelo recente com o impasse entre George Bush e Al Gore em 2000. Apesar de o democrata poder alardear o mais longo período de crescimento econômico ininterrupto do país e a paz pós-Guerra Fria, ele fracassou porque a maioria dos eleitores baseou sua escolha em uma questão trivial -mas crucial- de personalidade: eles prefeririam tomar uma cerveja com Bush do que com Gore. Desta vez, a economia também favorece os democratas. Mas o eleitor consegue se identificar com Barack Obama? "A discussão sobre o elitismo se reduz aos democratas apontarem para os herdeiros de grandes fortunas enquanto os republicanos apontam para quem desfrutou de educação em universidades de elite e por isso desdenha as pessoas comuns", resume David Frum, colunista neoconservador. "Não há por que crer que as coisas sejam diferentes agora." E McCain e seus partidários tampouco hesitarão em enfatizar esse ponto vigorosamente. "Após dias de abandono, imundo, deitado sobre seus próprios dejetos em uma sala suja, um médico tentou corrigir a fratura de John, sem sucesso e sem anestesia", discursou anteontem o ex-pré-candidato Fred Thompson sobre os anos de McCain preso no Vietnã. Essa foi a primeira ocasião em que muitos norte-americanos ouviram detalhes sobre os sofrimentos de McCain. Mas até novembro, com certeza ouvirão muito mais a respeito.

"Amigável"
"Os republicanos precisam definir McCain como um líder forte nas horas de perigo", disse Norm Neusner, ex-redator de discursos presidenciais. "O discurso de Obama foi um tanto iracundo, severo, desafiador. Há espaço para que McCain se posicione como mais feliz, mais amistoso, mais engraçado e mais otimista que seu rival." Contra isso, McCain ainda precisa aquietar as dúvidas que restam sobre seu temperamento e sua reputação de impulsividade, reforçada pela decisão, aparentemente apressada, de escolher Sarah Palin como vice. A questão nesta noite será se McCain vai tratar de forma efetiva os anseios econômicos do eleitorado ou se acredita que basta seu caráter para superar todo o resto. "Os eleitores sabem que ele é um líder forte", disse Andrew Kohut, diretor de pesquisa da Pew Foundation. "Mas ele precisa resolver seu ponto fraco, a economia."

Tradução de PAULO MIGLIACCI



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