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Sentimento de vergonha atinge eleitores
DE PARIS
O segundo turno das eleições
presidenciais na França será realizado sob o signo da vergonha. Foi
esse o sentimento que tomou
conta dos franceses logo após os
resultados do primeiro turno.
Vergonha foi também uma das
palavras mais utilizadas no país
nas últimas duas semanas. "Vergonha... Eu chorei", dizia um dos
cartazes no megaprotesto contra
Le Pen no Primeiro de Maio.
Vergonha por a França, berço
dos direitos humanos e da democracia moderna, ter deixado um
líder extremista e xenófobo chegar tão perto do poder. Vergonha
da esquerda por ela ser agora
obrigada a praticar o "voto útil"
para o candidato de centro-direita, Jacques Chirac, como recurso
contra a extrema direita.
"Senti uma dupla vergonha. Primeiro, porque Le Pen tinha chegado lá. Segundo, porque o seu rival seria Chirac. Eu e meus amigos discutimos horas sobre essa
opção inimaginável, entre o supermentiroso e o superfascista,
que desonra a França", disse o veterinário Nicolas, 28, que, no primeiro turno, votou no candidato
de extrema esquerda Olivier Besancenot, da Liga Comunista Revolucionária.
A aeromoça Samia Elmannani,
29, votou no socialista Lionel Jospin e acha um "blablablá" inútil
ficar lamentando o voto útil em
Chirac. "Agora é tarde para ter
vergonha. Temos de assumir.
Chirac é um charlatão, mas afinal
é simpático e convivial. Meu voto
não será dado especialmente para
ele, mas para a República", diz.
O desempregado Mohammad,
30, de origem argelina, acha que
os franceses estão sempre "fazendo cinema e publicidade". "Eles
aproveitam as situações para se
exibir. Não é vergonha, é cinema.
Por cima dão um sorriso, por baixo passam o veneno. Mas, se Le
Pen chega ao poder, será a violência e o ódio de verdade", diz ele.
"Não se pode hesitar nem ter
vergonha. O voto para Chirac é a
única maneira de conter esse sujo", diz o padre Charles Sureau,
78, referindo-se a Le Pen. Ele conta que viveu a ocupação da França
pelos nazistas (1940-1944). "Sei
muito bem o que é a extrema direita. Os franceses votaram irresponsavelmente."
A vergonha é também um sentimento que atinge os partidários
de Le Pen. Ela é, porém, de outra
ordem. Estigmatizados por sua
decisão política, ainda mais depois dos protestos maciços contra
a extrema direita, eles têm receio
de declarar publicamente sua preferência de voto.
"Não é vergonha o que sentimos, é muito mais medo, o que
não é normal, pois votamos democraticamente. Mas, se você
mora num local onde está cercado de gente de cor, vai acabar se
calando, pois tem receio", afirma
a professora de inglês Charlotte,
45, que votou em Le Pen porque
"é francesa e descendente de celtas".
(ALN)
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