São Paulo, domingo, 05 de maio de 2002

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Presidente está há três décadas em evidência

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

Quando se candidatou pela terceira vez à Presidência, há sete anos, Jacques Chirac, 69, foi objeto de cinco livros. Um programa de TV reuniu em debate os cinco biógrafos. Mas foi como se cada um discorresse sobre um personagem diferente. Chirac veste um número quase infinito de máscaras. Poucos sabem quem ele é.
Para alguns, é afável e generoso, com um jeito desajeitado. Ele tem 1,89 m. Para outros, é um autoritário, mestre da dissimulação.
O fato é que, nos últimos 30 anos, Chirac esteve sempre em evidência. E está a ponto de obter algo não sonhado sequer por Charles De Gaulle (1890-1970): manter-se na chefia do Estado com o apoio da esquerda sem fazer concessões. Ele sabe que socialistas, comunistas e ambientalistas são seus reféns. Não têm outra alternativa para bater Le Pen.
Há um ano as coisas não estavam nesse pé. Perguntava-se se Chirac sobreviveria às denúncias de corrupção. Não é suspeito de engordar seu patrimônio pessoal. Mas o RPR (Reunião pela República), neogaullista, é uma máquina pesada e bem relacionada, segundo o Ministério Público, com o caixa dois das empreiteiras.
Chirac nasceu em Paris, em 29 de novembro de 1932. Seus pais são da região agrária de Corrèze. Nas famílias de funcionários públicos a aspiração era que os filhos fossem diplomados pelas "grandes escolas", formadoras da elite.
Em 1957 ele prestou concurso para a Escola Nacional de Administração. Já casado com Bernadette Chodron de Courcel, com quem teve duas filhas, permaneceu três anos como técnico do Tribunal de Contas, antes de, por sua militância, ser nomeado, em 1962, assessor de Georges Pompidou (1911-1974), recém-nomeado primeiro-ministro e que 12 anos depois morreria como presidente.
Elegeu-se deputado, conselheiro cantonal e presidente de conselho regional. Sua ascensão se deveu à sua fidelidade a Pompidou.
Em 1967, tornou-se secretário de Estado de Questões Sociais. No ano seguinte, foi ministro da Economia e das Finanças. Ocupou as pastas de Relação com o Parlamento, Agricultura e Interior.
Com a morte de Pompidou, em 1974, a convocação de eleições presidenciais dividiu os gaullistas, que tinham candidato próprio. Mas Chirac liderou dissidência que apoiou o liberal Valery Giscard d"Estaing. Giscard bateu o socialista François Mitterrand. Chirac foi nomeado premiê.
Ao lado de Giscard, Chirac temia perder a identidade. Abandonou a chefia do governo e, em 1977, se elegeu prefeito de Paris.
Giscard tentou se reeleger em 1981. Chirac também se candidatou. Mas o eleito foi Mitterrand. Nos cinco anos seguintes, Chirac se firmou como o líder da oposição aos socialistas, que ficaram em minoria nas legislativas de 1986. Mitterrand tinha de nomear o premiê no bloco majoritário. Chirac voltou à chefia do governo.
Dois anos depois ele disputou a Presidência com Mitterrand, que se reelegeu no segundo turno.
Na eleição presidencial de 1995, os socialistas lançaram Lionel Jospin, a quem Chirac derrotou no segundo turno, mas obteve a maioria na Assembléia Nacional. Jospin se tornou premiê, num novo período de coabitação. Dessa vez, a direita deteve a Presidência, e a esquerda, a chefia do governo.
Chirac ajudou a pôr fim ao serviço militar obrigatório, um mito republicano, e avalizou a adoção do euro como moeda única.
Mas o mundo não estava mais bipolarizado. A hegemonia é americana. A idéia de soberania francesa em questões de defesa foi neutralizada por intervenções da Otan na ex-Iugoslávia.
Não foram atribuídos a ele, mas a Jospin, erros e acertos em educação, saúde, transporte ou política industrial. Até as privatizações foram consensuais na França.
Mas Chirac administrou com competência sua imagem pessoal. Apareceu como o representante da França no exterior e tentou evitar que os escândalos de corrupção que envolvem seus adjuntos incendiassem seu quintal.
Há dez dias obteve um trunfo simbólico. Recebeu o apoio do "Le Canard Enchaîné", semanário satírico que sempre quis vê-lo pelas costas e que nos anos 70 denunciou isenções fiscais dadas a ele pelo Patrimônio Histórico para manter um castelo seu.



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