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Presidente está há três
décadas em evidência
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
Quando se candidatou pela terceira vez à Presidência, há sete
anos, Jacques Chirac, 69, foi objeto de cinco livros. Um programa
de TV reuniu em debate os cinco
biógrafos. Mas foi como se cada
um discorresse sobre um personagem diferente. Chirac veste um
número quase infinito de máscaras. Poucos sabem quem ele é.
Para alguns, é afável e generoso,
com um jeito desajeitado. Ele tem
1,89 m. Para outros, é um autoritário, mestre da dissimulação.
O fato é que, nos últimos 30
anos, Chirac esteve sempre em
evidência. E está a ponto de obter
algo não sonhado sequer por
Charles De Gaulle (1890-1970):
manter-se na chefia do Estado
com o apoio da esquerda sem fazer concessões. Ele sabe que socialistas, comunistas e ambientalistas são seus reféns. Não têm outra alternativa para bater Le Pen.
Há um ano as coisas não estavam nesse pé. Perguntava-se se
Chirac sobreviveria às denúncias
de corrupção. Não é suspeito de
engordar seu patrimônio pessoal.
Mas o RPR (Reunião pela República), neogaullista, é uma máquina pesada e bem relacionada, segundo o Ministério Público, com
o caixa dois das empreiteiras.
Chirac nasceu em Paris, em 29
de novembro de 1932. Seus pais
são da região agrária de Corrèze.
Nas famílias de funcionários públicos a aspiração era que os filhos
fossem diplomados pelas "grandes escolas", formadoras da elite.
Em 1957 ele prestou concurso
para a Escola Nacional de Administração. Já casado com Bernadette Chodron de Courcel, com
quem teve duas filhas, permaneceu três anos como técnico do
Tribunal de Contas, antes de, por
sua militância, ser nomeado, em
1962, assessor de Georges Pompidou (1911-1974), recém-nomeado
primeiro-ministro e que 12 anos
depois morreria como presidente.
Elegeu-se deputado, conselheiro cantonal e presidente de conselho regional. Sua ascensão se deveu à sua fidelidade a Pompidou.
Em 1967, tornou-se secretário
de Estado de Questões Sociais. No
ano seguinte, foi ministro da Economia e das Finanças. Ocupou as
pastas de Relação com o Parlamento, Agricultura e Interior.
Com a morte de Pompidou, em
1974, a convocação de eleições
presidenciais dividiu os gaullistas,
que tinham candidato próprio.
Mas Chirac liderou dissidência
que apoiou o liberal Valery Giscard d"Estaing. Giscard bateu o
socialista François Mitterrand.
Chirac foi nomeado premiê.
Ao lado de Giscard, Chirac temia perder a identidade. Abandonou a chefia do governo e, em
1977, se elegeu prefeito de Paris.
Giscard tentou se reeleger em
1981. Chirac também se candidatou. Mas o eleito foi Mitterrand.
Nos cinco anos seguintes, Chirac
se firmou como o líder da oposição aos socialistas, que ficaram
em minoria nas legislativas de
1986. Mitterrand tinha de nomear
o premiê no bloco majoritário.
Chirac voltou à chefia do governo.
Dois anos depois ele disputou a
Presidência com Mitterrand, que
se reelegeu no segundo turno.
Na eleição presidencial de 1995,
os socialistas lançaram Lionel Jospin, a quem Chirac derrotou no
segundo turno, mas obteve a
maioria na Assembléia Nacional.
Jospin se tornou premiê, num novo período de coabitação. Dessa
vez, a direita deteve a Presidência,
e a esquerda, a chefia do governo.
Chirac ajudou a pôr fim ao serviço militar obrigatório, um mito
republicano, e avalizou a adoção
do euro como moeda única.
Mas o mundo não estava mais
bipolarizado. A hegemonia é
americana. A idéia de soberania
francesa em questões de defesa foi
neutralizada por intervenções da
Otan na ex-Iugoslávia.
Não foram atribuídos a ele, mas
a Jospin, erros e acertos em educação, saúde, transporte ou política industrial. Até as privatizações
foram consensuais na França.
Mas Chirac administrou com
competência sua imagem pessoal.
Apareceu como o representante
da França no exterior e tentou evitar que os escândalos de corrupção que envolvem seus adjuntos
incendiassem seu quintal.
Há dez dias obteve um trunfo
simbólico. Recebeu o apoio do
"Le Canard Enchaîné", semanário satírico que sempre quis vê-lo
pelas costas e que nos anos 70 denunciou isenções fiscais dadas a
ele pelo Patrimônio Histórico para manter um castelo seu.
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