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Ao menos 156 crianças morreram; Putin diz que país demonstrou fraqueza e promete medidas mais duras contra o terrorismo
Número de mortos em Beslan chega a 366
DA REDAÇÃO
Pelo menos 156 crianças morreram entre as vítimas do banho de
sangue que pôs fim ao seqüestro
na escola de Beslan (Ossétia do
Norte) por terroristas que exigiam a saída das forças russas da
Tchetchênia, república de maioria muçulmana. O número de
mortos subiu de mais de 200 para
366 e há mais de 500 feridos, segundo os últimos dados divulgados pelo governo russo. De acordo com Sergei Fridinsky, procurador apontado para acompanhar o caso, "o total de mortos deve subir, mas não muito mais".
Em discurso em Moscou, o presidente russo, Vladimir Putin, admitiu falhas no governo, pediu
uma mobilização nacional para
enfrentar o terrorismo e disse que
várias medidas serão tomadas para manter a integridade das fronteiras do país, incluindo a criação
de um sistema mais eficiente de
gerência de crises e o reforço geral
dos órgãos ligados à manutenção
da lei. Ele não citou os separatistas
tchetchenos diretamente.
Putin pediu que o Parlamento
russo altere a Constituição e endureça a legislação antiterror.
Afirmou ainda que o terrorismo
internacional lançou uma "uma
guerra em grande escala" contra a
Rússia. Anteontem, funcionários
do governo russo sugeriram participação financeira da Al Qaeda
na ação em Beslan.
Segundo Putin, devido ao colapso da ex-União Soviética, o
país estava enfraquecido e sem
condições de responder à altura.
"Não mostramos uma compreensão da complexidade e perigos
dos processos em curso no nosso
país e no mundo", disse. "Não
soubemos reagir adequadamente. Mostramos fraqueza, e povos
fracos são derrotados", declarou,
ao avaliar que as fronteiras russas
estão "desprotegidas de leste a
oeste" e que há corrupção nas
agências de segurança.
O presidente russo viajou para
Beslan na madrugada de ontem,
onde visitou feridos no massacre,
ordenou o fechamento das fronteiras da Ossétia do Norte e decretou luto de dois dias no país.
O chefe da FSB (ex-KGB, a polícia secreta soviética) na Ossétia do
Norte, Valery Andreyev, afirmou
que 36 terroristas, incluindo os líderes, foram mortos na batalha
pela retomada do ginásio de Beslan -dez seriam árabes. Logo
após a ação, um porta-voz do governo ossétio disse que três terroristas haviam sido capturados e
que quatro haviam escapado.
Em Beslan, enquanto centenas
de feridos por queimaduras e tiros lotavam o hospital da cidade,
parentes se aglomeravam no cinema local, transformado em centro
de informações. "Estou procurando minha mulher o dia inteiro
e não consigo achá-la. Ninguém
diz nada", contou o jovem Ruslan. Dezenas de pessoas tentavam
encontrar parentes entre as listas
de sobreviventes no hospital.
Equipes de socorro recolheram
235 corpos na escola ontem, 143
de crianças, segundo o Ministério
da Saúde ossétio. Em meio à dor,
homens prometiam vingança:
"Os pais vão enterrar seus filhos e,
após 40 dias [o luto dos cristãos
ortodoxos, maioria na Ossétia],
irão pegar em armas atrás de vingança", disse Alan Kargiyev, 20.
Moradores reunidos no centro
de informação culpavam as autoridades locais pelo desastre na
ação de socorro, mas vários preservavam Putin. "São os militares,
a polícia, as forças especiais, estes
corruptos, incapazes de lutar e
reagir, que mataram nossas crianças", disse Timur, 30.
Uma mulher chorando perguntava para um funcionário ossétio:
"Onde estavam as ambulâncias
que vocês prometeram?". Outra
perguntou se os operários inguches que reformaram a escola nas
férias não poderiam ter posto explosivos no local. Há um disseminado preconceito contra esta etnia entre os ossétios.
O discurso de Putin, entretanto,
deixou muitos moradores indiferentes. "Putin não manda nada
aqui. O que querem que ele faça?
É um problema dos caucasianos",
afirmou Artium, um dos homens
que acompanhavam a cena.
Segundo autoridades russas, a
maioria dos reféns morreu no ginásio com a queda do teto, no
qual os seqüestradores puseram
cargas explosivas, e no fogo cruzado entre os terroristas e forças
de segurança. Segundo o chefe da
FSB, os seqüestradores em Beslan
tinham armas e explosivos escondidos no prédio da escola. "Isso
pode significar que eles já estavam preparados de antemão."
O governo russo tratou como
"blasfêmia" o pedido da União
Européia de "explicação" sobre a
ação das tropas russas em Beslan.
O pedido, feito anteontem pelo
presidente de turno do organismo, o holandês Bernard Bot, foi
considerado ultrajante pela
Chancelaria de Moscou.
Com agências internacionais
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