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Separatistas tchetchenos são os "mestres" da Al Qaeda, diz analista
RAFAEL CARIELLO
DE NOVA YORK
Os separatistas tchetchenos são
"mestres" internacionais em táticas inovadoras de ações terroristas, mantêm "intercâmbio" de integrantes com a Al Qaeda e fornecem know-how para a organização do terrorista saudita Osama
bin Laden, afirma um dos principais especialistas internacionais
no assunto, o analista Magnus
Ranstorp.
O diretor do Centro para o Estudo do Terrorismo, vinculado à
Universidade de St. Andrews, na
Escócia, afirma, por isso, que seqüestros de crianças, como o que
aconteceu nos últimos dias na
Rússia, podem passar a ser usados por terroristas em outras partes do mundo. "Você verá outros
eventos desse tipo no futuro", disse ele em entrevista à Folha.
"A Al Qaeda já planejou atacar
escolas", declara Ranstorp. "Em
qualquer sociedade, [as crianças]
são o calcanhar-de-aquiles, e eles
sabem o efeito e o poder de barganha que podem ter ao torná-las
alvos. É um problema que não vai
desaparecer."
A seguir, trechos da entrevista.
Folha - O que aconteceu na Rússia
é resultado apenas de um conflito
local ou tem ligações internacionais?
Magnus Ranstorp - É primeiramente um problema local, mas há
uma dimensão internacional
também. A maioria dos guerrilheiros são tchetchenos, mas há
também terroristas internacionais, alguns dos quais pertencem
à Al Qaeda, que tem unidades especiais associadas aos tchetchenos que lutam contra a Rússia. A
Tchetchênia é também fonte de
mobilização de jihadistas para a
Al Qaeda.
Folha - Há algo de novo nesse tipo
de ação?
Ranstorp - O que aconteceu não
é tão novo. Os tchetchenos já haviam usado tática parecida em
1995, quando tomaram um hospital. Eles são versáteis e hábeis
em tentar novos tipos de ações. O
que é novo é focarem em crianças,
e também copiarem a Al Qaeda
ao derrubarem aviões. Você verá
outros eventos desse tipo no futuro.
Folha - O sr. acredita que os tchetchenos têm aprendido com a Al
Qaeda?
Ranstorp - Na verdade, é o contrário que acontece. Os tchetchenos têm fornecido know-how para a Al Qaeda. Eles são os "mestres" internacionais em explosivos, têm exportado seu conhecimento para outras regiões de conflito e são conhecidos por serem
inovadores em suas táticas.
É uma relação antiga. Mesmo
antes de a Al Qaeda ser formada,
os ideólogos do que a organização
viria a ser exortavam jihadistas a
ir para regiões em que muçulmanos estivessem sendo "atacados".
Entre elas estavam a Bósnia e a
Tchetchênia. Você teve pessoas se
movendo de cada uma dessas
áreas para as outras.
Foi uma espécie de campo de
treinamento para o que viria a ser
a Al Qaeda, mas também, ideologicamente, um ponto de referência importante para a organização.
Folha - O sr. diz que poderíamos
ver atos semelhantes em outras
partes do mundo?
Ranstorp - A Al Qaeda já planejou atacar escolas. Não é específico dos tchetchenos. Em qualquer
sociedade, [as crianças] são o calcanhar-de-aquiles, e eles sabem o
efeito e o poder de barganha que
podem ter ao torná-las alvos. É
um problema que não vai desaparecer.
Folha - Como o sr. sabe que ambas as organizações têm esse tipo
de relação?
Ranstorp - Muitos dos terroristas da Al Qaeda, quando foram
presos, revelaram terem estado
na Tchetchênia com os combatentes de lá. Um dos mais famosos
é o chamado 20º seqüestrador do
11 de Setembro, Zacarias Moussaoui.
Folha - A Al Qaeda não é diferente
pelo fato de não fazer demanda política específica?
Ranstorp - Mas o que eles querem é mudança de regimes e poderem estabelecer Estados islâmicos. Querem a criação de Estados
à maneira do Taleban.
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