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MISSÃO NO CARIBE
Grupo armado vem invadindo postos policiais no Haiti
Ex-militares são questão política, diz comandante
FABIANO MAISONNAVE
DA REDAÇÃO
Em operação há dois meses, a
Minustah (Missão da ONU de Estabilização no Haiti) vem atravessando um difícil teste nos últimos
dias, quando ex-militares, estimados em até 4.000 homens, promoveram uma série de invasões a
prédios públicos em pelo menos
quatro cidades, num claro desafio
ao governo provisório.
Nesta entrevista por telefone à
Folha, o comandante da Minustah, o general Augusto Heleno Ribeiro Pereira, 56, que passou a semana passada no Brasil após três
meses seguidos no Haiti, fez a seguinte análise da situação do país:
Folha - Como está a situação no
Haiti após a ação dos ex-militares?
General Augusto Heleno Pereira -
Isso já vinha acontecendo e não
consideramos uma crise. Tanto é
que não houve tiros, não houve
mortes. É um movimento de ex-militares que estão brigando por
pensões, salários atrasados, mas,
em nenhum momento, manifestaram a intenção de enfrentar as
tropas da ONU. É uma crise muito mais política do que militar.
Folha - Mas é um grupo armado,
uniformizado, que assumiu o controle da segurança pública em pelo
menos uma cidade, Petit-Goave.
General Heleno - Em nenhum
momento tomaram uma cidade,
eles não têm efetivo para isso. Petit-Goave é uma cidade pequenininha, onde não tem tropa nossa.
E eles, há muito tempo, em algumas localidades, com o apoio da
população, administram a segurança como se fosse uma coisa legal. E eles não são legais porque as
Forças Armadas foram extintas
em 1994, porém participaram da
queda do ex-presidente Jean-Bertrand Aristide [em fevereiro].
Mas, nos lugares onde há tropas,
já cortamos as atribuições deles.
É um problema político sério
porque são numerosos e têm
apoio da população. Não interessa para nós ter um confronto com
eles, até porque não são bandidos.
O governo tem de oferecer alguma coisa concreta para então dizer: "Os que não quiserem atender à sugestão do governo, a partir de agora são totalmente ilegais
e estão passíveis até de serem presos". Isso ainda não aconteceu.
Folha - É possível que a missão de
paz intervenha em Petit-Goave?
General Heleno - É possível. O
problema é o seguinte: tem de pesar o aspecto político com o militar. É fácil intervir, poder para isso
a gente tem. Mas qual é o objetivo? É buscar uma solução pacífica. Somos uma missão de paz.
Folha - Quando começar o desarmamento, haverá resistência?
General Heleno - Eu sempre coloco que o problema do desarmamento não é só militar. Isso tem
de ser tratado em conjunto com o
governo do Haiti. Na situação que
está hoje, fica muito difícil convencer alguém de abrir mão de
sua arma de defesa pessoal. Todo
o processo de desarmamento vai
ter de ser feito com um programa
de reconstrução do país. Querer
cobrar da Minustah, que está há
apenas dois meses em operação, é
muita impaciência.
Folha - O Brasil reclama do atraso
na chegada do restante das tropas
da ONU. É um problema sério?
General Heleno - Não é um problema sério. Agora, se há uma
previsão de que eram necessários
6.700 homens para todo o país, e
eu tenho hoje 2.900 [dos quais
1.200 brasileiros], é óbvio que eu
estou com menos de 50% do efetivo. Há regiões onde não estamos
presentes, e é exatamente ali que
os ex-militares têm chances de
atuar. A melhor hipótese é que,
no final de outubro, eu esteja com
o meu efetivo completo.
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