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"TOTAL RECALL"
Nesta terça, eleitor decidirá se quer derrubar governador e escolher um entre os mais de 130 candidatos ao cargo
Votação histórica mobiliza a Califórnia
CÍNTIA CARDOSO
ENVIADA ESPECIAL A LOS ANGELES
O "recall" para governador da
Califórnia, marcado para esta terça-feira, é um fato inédito da história política do Estado. Pela primeira vez, os eleitores californianos vão decidir se um governador
deve terminar o seu mandato e
eventualmente escolher quem deverá substituí-lo.
A campanha para remover o
governador democrata, Gray Davis, começou de modo discreto
entre os conservadores do Partido
Republicano no final de 2002.
Mas, à medida que os problemas
do Estado- crise do setor energético e déficit monstro de US$ 38
bilhões- tornaram-se mais evidentes, o movimento começou a
ganhar terreno.
Nos últimos cem anos, já se tentou derrubar um governador da
Califórnia 31 vezes, mas só agora
essa possibilidade, prevista na legislação do Estado, conseguiu ir
adiante. Em julho, um comitê em
defesa da saída de Davis coletou
1,7 milhões de assinaturas- pela
lei seriam necessárias 900 mil-
para promover o "recall".
A partir daí, iniciou-se uma corrida sem precedentes pelo posto
de governador. No dia 7 de outubro, mais de 130 candidatos constarão nas cédulas eleitorais, entre
eles uma atriz pornô, um ex-ator
infantil, donas-de-casa, desempregados, ex-veteranos do Vietnã
e uma celebridade de Hollywwod.
Até o vice-governador Cruz Bustamante tornou-se candidato.
Esse número impressionante de
concorrentes foi estimulado pela
própria legislação eleitoral da Califórnia. Num "recall", não há
eleições primárias. Com isso, os
partidos podem ter diversos candidatos concorrendo entre si. Outra facilidade é que, para quem já
tem o direito de votar, bastava recolher 65 assinaturas e pagar uma
taxa de US$ 3.500.
"Essa é uma eleição excepcional
na história política dos EUA, que
é bastante linear. Por isso há um
interesse tão grande e ela se tornou tão importante", disse Thomas Patterson, especialista em estudos de mídia e governo da Universidade Harvard. "Na eleição
para governador da Califórnia
[quando Gray Davis foi reeleito],
em 2002 , só 29% dos eleitores votaram, um nível bastante baixo.
Para esse "recall", a expectativa é
que 50% dos eleitores votem."
Patterson também explica o número recorde de candidatos:
"Numa eleição normal, as oportunidades de aparecer são muito
restritas. Por isso, há tantos candidatos agora. Essa aura circense
pode até servir para atrair mais
eleitores", diz.
A eleição tem duas perguntas.
Na primeira, o eleitor escolhe se
Davis, que enfrenta séria crise de
impopularidade, deve ser destituído do cargo. Caso opte pela saída do democrata, o eleitor vota no
candidato de sua escolha.
Apesar do caráter inusitado da
eleição, às vésperas do dia decisivo, o "recall" ganhou contornos
mais tradicionais: o governador
Gray Davis, que luta para manter
o cargo, e o ator Arnold Schwarzenegger (republicano), que lideras as pesquisas de opinião, se tornaram os protagonistas.
O peso dos imigrantes
Disputado a peso de ouro pelos
candidatos, o eleitorado de imigrantes da Califórnia pode ser decisivo no "recall".
Na Califórnia, de cada quatro
habitantes, um é de origem estrangeira. A média nacional é de 1
para cada 10 habitantes.
Hoje, 11 milhões de latinos vivem na Califórnia - cerca de
30% da população do Estado.
Às vésperas da eleição, o vice-governador Bustamante, que é de
origem latina, se esforça para recolher votos entre a comunidade.
Em segundo lugar nas pesquisas
(entre os que desejam a saída de
Davis), o democrata declarou que
conta com o apoio dos latinos para ultrapassar seu concorrente.
Schwarzenegger, porém, também tem apelo entre os imigrantes. Nos seus discursos, ele gosta
de lembrar que chegou aos EUA
com apenas US$ 50 no bolso.
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