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Déficit e apagão
são origem da
crise política
DA ENVIADA ESPECIAL A LOS ANGELES
Uma combinação de déficit orçamentário e problemas no setor
energético criou o ambiente para
a crescente impopularidade do
governador Gray Davis. Esse descontentamento com a sua administração pode lhe custar o cargo
no "recall" de 7 de outubro.
Durante os primeiros quatro
anos de mandato de Davis, os gastos públicos do Estado da Califórnia cresceram aproximadamente
40%, passando para US$ 20 bilhões. A receita, porém, não
acompanhou esse ritmo e cresceu
25% no período.
À expansão das despesas orçamentárias somou-se o problema
energético. A desregulamentação
do setor, iniciada em 1996, não
contemplou investimentos para
suprir a crescente demanda no
Estado. O descompasso culminou
com um blecaute na Califórnia
em 2001, quando Davis já era governador.
O problema energético foi herdado de administrações anteriores, mas as críticas recaíram sobre
como Davis lidou com a crise.
Uma série de aumentos nas tarifas de energia, autorizada pelo governo do Estado, se seguiu ao apagão. Além disso, atado pelo aumento das despesas no orçamento, Davis não teve margem de manobra para, por exemplo, realizar
investimentos na melhoria das linhas de transmissão de energia.
"Ele [Davis] não deveria ter aumentado os gastos orçamentários
de forma tão rápida e tão expressiva. O fato de que os consumidores tiveram de pagar tarifas cada
vez mais altas também fez com
que a economia freasse", analisa
Michael Donnely, economista sênior da consultoria norte-americana Global Insight.
Para explicar o déficit, o principal argumento dos democratas é
o de que as despesas cresceram
para financiar programas sociais,
sobretudo na área de educação e
no sistema presidiário. O governador diz que, entre 2002 e 2003, o
investimento no ensino fundamental cresceu 16%. As cifras, entretanto, não foram suficientes
para convencer os eleitores.
Estouro da bolha
Outro problema que contribuiu
para minar a pujança da economia californiana foi o estouro da
bolha das ações das empresas de
tecnologia, em 2000. A expansão
dos gastos do governo da Califórnia foi largamente financiada pela
"nova economia".
A derrocada desse mercado fez
encolher o número de empregos
do Vale do Silício, locomotiva das
empresas de tecnologia, e também dragou a receita com arrecadação de impostos da Califórnia.
"Com o estouro da bolha, a receita caiu drasticamente e deixou
a Califórnia com um enorme buraco financeiro. Nesse ano, o plano de Davis era pedir empréstimos de US$ 12 bilhões. Mas essa é
apenas uma solução paliativa",
afirma Donnely.
Para contornar a crise, não há
soluções mágicas. Com relação ao
setor energético, Donnely e um
coro de outros especialistas recomendam investimentos urgentes
em linhas de transmissão de energia e revisão de regras de preços
para o setor atacadista. Quanto ao
déficit, a receita é mais amarga e
prescreve ajustes fiscais drásticos.
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