São Paulo, quarta-feira, 05 de outubro de 2011

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ANÁLISE CHILE

Piñera reage à moda de governos enfraquecidos

Ao tratar conflito social como caso de polícia, presidente chileno dá subsídio para ser associado ao pinochetismo

ELEONORA DE LUCENA
DE SÃO PAULO

Tratar conflitos sociais como caso de polícia não é novidade nas Américas.
É uma reação costumeira de governos enfraquecidos e acuados por movimentos que ganham força na sociedade. Não é outro o contexto que leva o governo de Sebastián Piñera a tentar endurecer a legislação para punir com prisão as ocupações de prédios públicos.
Há mais de quatro meses estudantes fazem greve e ocupam colégios. Reivindicam o fim do ensino imposto pela ditadura de Augusto Pinochet, que privatizou e desregulou toda a educação, seguindo os ditames dos neoliberais de Chicago.
O modelo, que já dura 30 anos, está esgotado. Cursos caros e de qualidade precária endividaram e frustraram centenas de milhares de famílias -que foram às ruas nos maiores protestos desde a redemocratização.
A questão já extrapolou o debate sobre mensalidades e bolsas. Estudantes e professores querem discutir o lucro que escolas obtêm com dinheiro público, o currículo e também o esquema de municipalização do ensino -implantado na ditadura para reforçar o seu poder político, social e militar.

NACIONALIZAÇÃO
Até o sistema político binominal está em xeque. Assim como a receita do cobre, vital para o país -que os manifestantes querem renacionalizar para gerar verbas para educação.
Com sua popularidade despencando nas pesquisas, Piñera ensaia uma ação estranha à democracia, lembrando mais regimes de exceção. Encurralado, ao mesmo tempo em que diz buscar o diálogo com as lideranças grevistas, faz ameaças.
No emaranhado de interesses de membros do governo, escolas, bancos e fundos de investimento, qualquer mudança do modelo significará perdas para esses setores.
Dentro do poder, há os que acham que o governo não deveria negociar, mas endurecer -linha que deve ter ganho espaço. Escaldados com a derrota dos "pinguins" em 2006, quando secundaristas protestaram e aceitaram promessas que não foram cumpridas, os estudantes já desconfiavam das ofertas oficiais.
Agora, com o projeto repressivo, concebido provavelmente para amedrontar e dividir o movimento, a oposição ganha mais argumentos para ligar Piñera a Pinochet.


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