São Paulo, quarta-feira, 05 de outubro de 2011

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Aldeia protesta por incêndio de mesquita

Cópias do Corão foram queimadas em crime que havia chocado anteontem a população na região norte de Israel

Polícia liga o caso à operação 'etiqueta de preço', vingança de judeus radicais; suspeitos foram presos

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A TUBA-ZAGARIA (ISRAEL)

Rastros de fumaça escureceram ontem o céu de Tuba-Zagaria, um dia depois do incêndio que destruiu uma mesquita nessa aldeia árabe beduína, no norte de Israel.
O cheiro não vinha das cópias queimadas do Corão, mas de pneus incendiados em protesto contra o crime. Foi o primeiro ataque do tipo em Israel. Os principais suspeitos são judeus radicais que cometeram ações parecidas nos territórios palestinos.
Em retaliação, árabes da aldeia e da vizinhança entraram em confronto com a polícia e atearam fogo em três prédios da municipalidade. Mais que revolta, o sentimento no dia seguinte ao incêndio era de espanto, dado o histórico de convivência da aldeia com os vizinhos judeus. Muitos até servem no Exército israelense.
"Se não respeitam nem um templo religioso, o que resta?", lamentava Daoud Zangaria, sentado sob a tenda improvisada em frente à mesquita para abrigar as orações.
Funcionário da maior empresa de água mineral de Israel, Daoud, 63, trabalha e convive diariamente com judeus. A maioria na aldeia tem os mesmos laços -a economia local é inexistente.
O jovem imã da mesquita incendiada, Fouad Zangaria, aposta que a convivência amigável continuará. "Que os responsáveis sejam punidos", defende Fouad, 29. "Não queremos vingança, mas que a lei funcione."
A polícia prendeu suspeitos e informou que investiga a operação de vingança de judeus radicais autobatizada de "etiqueta de preço". Várias mesquitas foram vandalizadas na Cisjordânia nos últimos meses, e plantações de palestinos foram destruídas. O Exército israelense também foi alvo de ataques, numa resposta dos colonos ao desmonte de assentamentos ilegais.
O vandalismo em Tuba-Zangaria, a 200 km ao norte de Jerusalém, gerou uma onda de condenação em todo o espectro político israelense. Os residentes ficaram visivelmente tocados com a visita do presidente Shimon Peres, no mesmo dia do incêndio.
Apesar de todos os indícios, a suspeita que paira sobre extremistas judeus não é consenso entre as autoridades israelenses. "É melhor não ter pressa em apontar culpados", disse Zvika Fogel, general reformado que chefia o conselho municipal. Para ele, o crime pode ser obra do Movimento Islâmico, com o objetivo de ganhar influência na aldeia.


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