São Paulo, quarta-feira, 05 de outubro de 2011

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CRÍTICA LIVRO

Obra mostra o mosaico da África visto a partir do chão

FÁBIO ZANINI
EDITOR DE MUNDO

Em Moçambique, come-se melancia com sal. Em Angola, a malária mata crianças com tal frequência que os pais não se desesperam. Reprimem o choro cantando para os "miúdos" que se foram.
"Candongueiro - Viver e Viajar pela África" (ed. Record), do jornalista João Fellet, é feito de histórias que espantam autor e leitor.
O livro é uma crônica de sua experiência de 18 meses pela África, parte trabalhando na implantação de um jornal em Angola, parte numa jornada pelo continente.
"Candongueiro", nome das peruas lotação em Angola, é onde ele passa boa parte de seu tempo. Pula de uma para outra, país após país, espremido sobre bancos rasgados, com as costas machucadas por estradas que não merecem esse nome.
Há uma África vista do alto, das savanas, que o autor evita, embora não resista a um safarizinho ou outro. Sua descrição é do terreno, e personagens inusitados no mosaico africano vão surgindo. Como a moçambicana durona que dirige um candongueiro e grita com bêbados, ou o inglês de 78 anos que dá continuidade em Uganda à longa linhagem de missionários europeus na África.
O jornalista retrata de forma divertida a burocracia africana, a partir da saga de colocar em funcionamento o jornal que o levou ao continente. Sofre em reuniões intermináveis em que às vezes um funcionário do governo cochila sem cerimônia.
Picaretas estão sempre à espreita, tentando separar o autor de seu dinheiro, por vezes com agressividade. E há as "namoradas", que se aproximam para pedir presentes na primeira chance.
A África, com países, etnias e idiomas em excesso, será sempre um desafio para os que buscam diagnósticos únicos e definitivos. O livro mostra que partir do microcosmo é o melhor jeito de tentar decifrar o continente.

CANDONGUEIRO - VIVER E VIAJAR PELA ÁFRICA
AUTOR João Fellet
EDITORA Record (R$ 52, 360 págs.)
CLASSIFICAÇÃO Bom


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